O SIMBOLISMO CÉLTICO DAS ÁRVORES E ANIMAIS
NO ALFABETO OGAM

Rilza de Moura Barbosa (UERJ)

 

Este trabalho tem como finalidade mostrar como a importância dos elementos da natureza influenciou na elaboração do alfabeto Ogam, dando-se destaque ao simbolismo dos animais e árvores.

O alfabeto céltico Ogam, era utilizado pelos druidas nas práticas de adivinhações e mágicas, como forma de comunicação entre os mundos. Devemos dar destaque ao simbolismo das árvores e dos animais quando da elaboração deste alfabeto. Envolto de mistérios, o alfabeto Ogam originou-se no ano de 2200 a.C. encoberto de insondáveis enigmas que permanecem ainda nos dias de hoje.

Chamamos atenção ao simbolismo dos animais e árvores dentro deste alfabeto, uma vez que nem sempre fica claro como um pássaro e a cor correspondentes se enquadram no simbolismo, mas há detalhes deles para a confecção de cada Ogam.

Por que o primeiro OGAM foi escrito em pedaço de vidoeiro? Por que o Faisão representa tal árvore? E por que a letra “B” (Beth) relaciona-se a esses dois elementos? São estes questionamentos que nos propomos a discutir e tentar penetrar um pouco no fascínio deste povo.

Na imensidão da cultura do povo celta, tentamos abordar aqui o simbolismo das árvores e dos animais na confecção do Alfabeto Ogam, fazendo correlações entre estes dois objetos de nosso presente estudo.

Para os celtas a palavra escrita era tão poderosa que era uma execeção e não a regra. Acreditavam que as palavras começavando pelas mesmas letras eram simbólicas e magicamente ligadas, de modo que cada letra representava uma árvore, uma cor, um pássaro, uma profissão.Observamos que algumas árvores não chegam a ser "árvore", mas sim plantas. Vemos, pois, que a definição de árvore para os celtas transcendem ao que concebemos.

Para cada árvore havia uma associação entre outros elementos da natureza, como animais. Muitas representações são fruto da própria observação da natureza e dos usos que se fizeram com as plantas. Abaixo colocamos uma tabela com as correspondências da árvore que a simboliza e a pronúncia.

OGAM

LETRA

NOME

PRO--
NÚNCIA

ÁRVORE (nome botânico)

B

B

Beth

Vidoeiro (Betula pendula )

L

l

luis

luish

Sorveira Brava (Sorbus aucuparia)

F

f

fern

fern

Amieiro (Alnus glutinosa)

S

s

Saille

sale

Salgueiro (Salix spp.)

N

n

nion

nion

Freixo (Fraxinus escelsior )

H

h

huath

huá

Pilriteiro (Crataegus monogyana)

D

d

duir

dur

Carvalho (Quercus robur)

T

t

tinne

tchine

Azevinho (Ilex aquifolia)

C

c

coll

col

Aveleira (Corylus avellana)

Q

q

quert

quert

Macieira (Malus sylvestris)

M

m

muin

mun

Amoreira Silvestre (Rubus fruticosa)

G

g

gort

gort

Hera (Hedera helix)

Ng

ng

ngetal

nietal

Bambu (phragmites)

St

st

straiff

straf

Ameixeira Brava (Prunus spinosa)

R

r

ruis

ruish

Sabugueiro(Sambucus nigra)

A

a

ailm

alm

Olmo (Ulmus procera)

O

o

onn

on

Tojo(Ulex europaeus)

U

u

ur

urá

Urze (Calluna vulgaris)

E

e

edha

eia

Álamo(Populos tremula)

I

i

iubhar

Teixo(Taxus baccta)

 

Começando pela letra B, Beth, podemos dizer que ela é representada pelo VIDOEIRO, madeira utilizada para a fabricação de berços, telhados, barcos. Boa para cura de febres, infecções urinárias, fertilidade. É importante dizer que o primeiro Ogam foi escrito em vidoeiro e, com seus galhos faziam-se vassouras para prurificação. O pássaro faisão acreditava-se que tinha grande associação com a fertilidade.

Já o freixo ou brava (simbolizado pela letra L-luis) era uma árvore que proporcionava proteção física e psíquico. Seus frutos, de um vermelho vivo, carregam o símbolo do pentagrama, a estrela mágica de proteção de cinco pontas. Havia uma bebida feita de amoras de freixo e incenso feito de suas folhas e frutos eram usados pelos xamãs para ajudar nas suas viagens visionárias e as frutas eram colocadas junto ao corpo para ajudarem a cura. Tanto as cascas quanto as frutinhas tinham valor medicinal e têm sido usadas no tratamento de indisposições de estômago e problemas renais. Como animal representativo, o pato está associado ao equilíbrio emocional e proteção.

A letra F- Fearn, representada pela árvore amieiro, traz simbologia de alicerce, já que sua árvore é típica de lugares úmidos e riachos. Os celtas utilizam o amieiro para construção de alicerces, pontes. Dava um ótimo carvão e era preferido pelos ferreiros. A árvore dá três diferentes tingimentos: o marrom dos galhos, o vermelho da casca, e o verde das folhas, representando a terra, fogo, água. A gaivota tem associação com as terras encantadas, porque habita a praia que é, por tradição, o elo entre os dois mundos: o do mar e da terra. Diziam que os xamãs imitavam o chamado da gaivota para chamar o vento, e que os assobios de madeira do amieiro tinham o mesmo efeito.

 

Saille-S. Associado a árvore do Salgueiro

O salgueiro gosta de lugares com água e quando um ramo é cortado e plantado, cria raízes e transforma-se em uma nova árvore; daí sua associação com o crescimento e renascimento.

Os galhos de uma vassoura vidoeiro eram tradicionalmente amarrados usando-se correias de salgueiro para ajudar as energias negativas a fluírem com mais facilidade durante as cerimônias de limpeza. O salgueiro era sagrado para os poetas e para os bardos ,como a árvore de inspiração e visão, e era a madeira predileta para as adivinhações com água .

A associação do falcão com o salgueiro não é muito clara, embora digam que esses pássaros inspiram visões e trazem mensagens. Eles também são conhecidos pela rapidez e flexibilidade de seu vôo e sua garra poderosa. O carvalho é representado pela letra D , e pelo pássaro Droen-cambaxirra

O carvalho é umas das árvores que mais aparecem na literatura céltica. Com sua madeira dura e durável, era muito apreciada pelos celtas, que usavam para construir barcos, portas e portões ;como o Rei da Floresta , estava associado à força e à resistência .A palavra duir significa "porta" e para os celtas era uma árvore muito sagrada, cuja a sabedoria antiga facilitava a passagem pelos portais espirituais, levando a novos domínios de experiência. Os druídas tinham o carvalho em alto estima, como uma árvore muito mais que poderosa e escolhiam bosques de carvalho para a realização de rituais e cerimônias. Ele atrai raios e um carvalho atingido por um raio era considerado articularmente poderoso. Sua madeira era usada como talismã para afastar os raios e para conexão com as energias dos espíritos do trovão.

O carvalho era reverenciado durante o festival do solstício de verão e essa época era preferida para cortar cajadas e varas de condão dessa árvore. A palavra druida pode ser traduzida como "uma pessoa que tem conhecimento do carvalho" e o conhecimento de como decifrar a sabedoria do carvalho era parte importante do ensinamento interior ou secreto do druidismo. Assim como o carvalho, o rei das árvores, também os druidas consideravam seu pássaro correspondente, a cambaxirra, o rei dos pássaros (a razão pela qual os druidas consideravam um pássaro tão como o rei originou-se de um mito céltico que será relatado no próximo capítulo).

Na parte medicinal, o carvalho era usado para tratar febres, irritações da boca e da garganta, machucados da pele e problemas menstruais.

Tinne representado pela letra T e pelo pássaro: Truith-Estorrninho.

O azevinho era relacionado no invernado particularmente o solstício do inverno. O mito céltico fala sobre batalhas épicas que aconteciam todos os anos entre o Rei Carvalho e o Rei Azevinho, representando o verão e o inverno respectivamente.

O Azevinho era associado à energia guerreira e as hastes das lanças eram geralmente feitas com suas madeiras, bem como as rodas dos carros de guerras.

O estorninho é um pássaro muito sociável, que nos ensinar a viver em harmonia com os que nos cercam outro importante atributo para um guerreiro.

A macieira: na época dos celtas, quert referia-se à maça silvestre, ancestral de muitas variedades dos pomares modernos era relacionada ao feminino divino, a deusa como aparece em todas as suas muitas formas, devido ao fato de que ,quando seu fruto é cortado ,o centro revela a forma da estrela de cinco pontas, que é sagrada para a deusa. Os celtas associavam o número cinco aos cinco estágios de crescimento das mulheres, ou seja ,nascimento,iniciação e amor, repouso e morte .Na lenda arturiana, a Ilha de Avalon significava "a ilha das maçãs ", e era um ilha mística não deste mundo. Também estava ligada ao mundo subterrâneo, e a tradição de balançar a maçã, durante o Samhain, simbolizava um mergulho no mundo subterrâneo para conseguir os frutos da sabedoria. A cidra feita com maças fermentadas era, ás vezes, bebida em cerimônias do Samhain a fim de ajudar na viagem para outros reinos e inspirar visões. Se você já bebeu a cidra de maçã tradicional,talvez saiba que ela pode estimular sonhos muito vívidos.

Devido as suas associações com o amor, as maçãs também eram ligadas a fertilidade. Isso pode explicar o seu pássaro correspondente, a galinha porque ela também é ligada a fertilidade.

O simbolismo das árvores, dos pássaros dentro da Mitologia céltica criou um universo especial de estudos e pesquisas mundo afora. Aqui nossa pequena contribuição a este belo e insondável universo celta.