ESTRATÉGIAS DE
LEITURA:
O
DESENVOLVIMENTO DO
LEITOR CRÍTICO
Na e
com a
linguagem, o
homem reproduz e transforma
espaços
produtivos. A
linguagem
verbal é
um sementeiro
infinito de possibilidades de
seleção e
confrontos
entre os
agentes
sociais
coletivos. A
linguagem
verbal é
um dos
meios
que o
homem possui
para
representar,
organizar e
transmitir de
forma
específica o
pensamento. (PCN, 1999: 125-6)
Tratar de
linguagem é
sempre uma
tarefa
árdua,
já
que exige
um
distanciamento
entre sujeito e
objeto
bastante
delicada,
já
que o
homem se constitui na e
pela
linguagem,
tanto
quanto a
realidade
que
ele percebe. O
imaginário
não se nutre da
natureza,
mas da
cultura. O
homem
também
não se constitui na
natureza,
mas na
cultura. A
busca,
portanto, da
compreensão das
formas de
produção de
sentido,
em
dada
sociedade,
baseada na
concepção da
natureza interdiscursiva da
palavra e,
por
extensão, da
linguagem,
nos possibilita
entender a
constituição da significação
como
um
processo cultural
que se dá
entre os
indivíduos,
isto é, no
compartilhar de uma
ideologia. Dessa
forma, o
seguinte
trecho será
esclarecedor de
nossa
argumentação:
Nenhum
signo cultural,
quando compreendido e dotado de
um
sentido, permanece isolado: torna-se
parte da
unidade de
consciência
verbalmente constituída. A
consciência tem o
poder de abordá-lo
verbalmente.
Assim,
ondas
crescentes de
ecos e
ressonâncias
verbais,
como as ondulações concêntricas à
superfície das
águas, moldam,
por
assim
dizer,
cada
um dos
signos ideológicos.
Toda
refração ideológica do
ser
em
processo de
formação, seja
qual for a
natureza de
seu
material
significante, é acompanhada de uma
refração ideológica
verbal,
como
fenômeno obrigatoriamente
concomitante. A
palavra está
presente
em
todos os
atos de
compreensão e
em
todos os
atos de
interpretação. (Bakhtin, 1995: 38).
Língua,
sociedade e
cultura
são solidárias. Da
língua participam a
História e a
cultura
que a constituem e de
que
ela é ao
mesmo
tempo produtora.
A
linguagem, instaurando o
diálogo
permanente
entre os
indivíduos
em
sociedade, mobiliza
sentidos
já
dados e os transforma,
conforme a
prevalência de determinadas
injunções sócio-históricas.
Para participarmos
ativamente desse
processo do
diálogo
social, precisamos,
entre outras
habilidades, de
um
conhecimento de
mundo
que engloba a
experiência de
vida de
cada
um, e se
encontra armazenado
em
sua
memória. Corresponde aos
conhecimentos adquiridos
formalmente
pelo
ensino
escolar e pelas
vivências socioculturais.
Como se
vê,
tais
conhecimentos
são
fundamentais
para a
expressão do
indivíduo
em todas as
circunstâncias de
vida.
Comunicar é uma
tarefa
complexa,
já
que
não se
trata
apenas de se
transmitir uma
informação
entre
interlocutores,
como se a
linguagem fosse o
reflexo do
pensamento. A
comunicação resulta de
um
processo de
produção de
linguagem,
tanto do
ponto de
vista de
sua
concepção,
como de
sua
recepção.
Hoje, entendemos
que
pensamento e
linguagem se constituem
por uma
relação de reciprocidade (“pensée et langage se constituent dans une relation de réciprocité”, Charaudeau, 1992: 634).
Os
professores de
língua portuguesa
são
professores de
linguagem, na
medida
em
que devem
desenvolver o
ser
humano
em
sua
capacidade de falantes (escrita
ou
oralidade) e
leitores
capazes de
compreender,
interpretar e
produzir
sentidos de
forma
autônoma. E
este
sentido se materializa num texto (verbal ou não-verbal)
Como,
então,
discutir
estratégias
que facilitem o
desenvolvimento do
leitor
crítico?
Para
tanto, comecemos
por
conceituar
texto
como uma
unidade construída
por uma
série de
frases encadeadas
sintática e semanticamente,
sob a
orientação de
um
tema, cumprindo uma
finalidade
comunicativa.
Segundo Koch & Travaglia (2002: 8-9), o
texto apresenta-se como
uma
unidade
lingüística concreta (perceptível
pela
visão
ou
audição),
que é
tomada
pelos
usuários da língua (falante,
escritor,
ouvinte,
leitor),
em uma
situação de
interação
comunicativa reconhecível e reconhecida,
independente de
sua
extensão.
Devemos,
desde
logo,
levar
em
conta
também
que do
ponto de
vista dos interlocutores (eu-comunicante e tu-interpretante) interagem três fatores
para
que a
comunicação se realize: o
conhecimento
lingüístico, o
conhecimento de
mundo e o
conhecimento interacional (Koch, 2002: 32-33). O
conhecimento
lingüístico corresponde ao
domínio da
competência
gramatical
que diz
respeito às
regras da
linguagem,
como a
formação de
palavras e de
frases, à
pronúncia, à
ortografia, à
semântica. Esta
competência se
centra
diretamente na
habilidade e no
conhecimento
necessários
para a
expressão adequada do
sentido
literal. O
conhecimento de
mundo corresponde,
como
já vimos, ao
conhecimento do
tipo declarativo (asserções a
respeito dos
fatos do
mundo) e ao
tipo episódico (modelos cognitivos adquiridos
pela
experiência na
vida
social).
Com
base nesses
conhecimentos e
em
competências específicas, o
falante pode
formular
hipóteses,
estabelecer e
perceber a
coesão
lexical,
realizar
inferências. O
conhecimento sócio-interacional se refere ao
domínio das
ações
verbais
que permitem a
interação
pela
linguagem. Falamos,
pois, de
competência sociolingüística
que corresponde ao
uso adequado de
expressões
lingüísticas aos diferentes contextos ,
isto é, à
situação dos participantes,
propósitos da
interação,
normas e
convenções da
interação,
adequação entre significado e
forma,
significado e
função
comunicativa. Os
três
fatores: o
conhecimento
lingüístico, o
conhecimento de
mundo e o
conhecimento interacional levam à
competência discursiva
que corresponde ao
modo
como se combinam
formas
gramaticais e
significado para a
criação de
textos de
gêneros
diferentes, de
acordo
com a
situação
específica de
comunicação.
Tornar
nosso
aluno
competente
para
escrever e
ler
textos, participando da
vida
social, é (ou deveria
ser) o
objetivo
principal do
ensino de
língua portuguesa.
Para
desenvolver
esse
objetivo, será
necessário
que o
aluno domine o
uso de
regras
gramaticais subordinadas à
função
comunicativa
em
situações discursivas, implica,
em uma
palavra, o
desempenho adequado do
papel de
falante na mise en scène
proposta
por Charaudeau (1992: 635): “comunicar-se é
proceder à
encenação” de
um
projeto de
fala.
O
discurso engloba o
conjunto de afirmações
que, articuladas
através da
linguagem, expressam os
valores e
significados vigentes
em
dada
sociedade
em
toda
sua
diversidade, e o
texto
verbal é a
realização
lingüística na
qual se
manifesta o
discurso.
Vale
lembrar
que
nos
textos sincréticos os
elementos
verbais e não-verbais (imagem,
linhas,
cores,
volumes,
movimento) se correlacionam
como
estratégia enunciativa
para a
produção dos
sentidos. Os
textos
publicitários
são
excelentes
exemplos de
textos
em
que o
plano da
expressão se compõe de várias
linguagens
que, relacionadas, cumprem uma
dada
função
comunicativa. O
contexto discursivo
também está
presente na
interação
entre os
elementos
verbais e os não-verbais, caracterizando
aspectos culturais imbricados no ato de
comunicação.
O
ato de comunicação (Charaudeau, 1992: 634) é
um
dispositivo
composto de
um
sujeito falante (locutor na
fala
ou na
escrita) e de
um
interlocutor
que mantêm
entre
si uma
relação
para a
produção dos
sentidos. Os
componentes
que entram no
jogo
comunicativo podem
assim
ser resumidos:
a)
situação de
comunicação
que engloba o
aspecto
físico e
mental
em
que se encontram os
parceiros da
troca linguageira , os
quais,
por
sua
vez,
são
determinados
por uma
identidade
psicológica e
social.
Esses
parceiros estão envolvidos num
contrato de
comunicação
que Charaudeau (1983: 54) define como
o
contrato de
comunicação é
um
ritual sociodiscursivo constituído
pelo
conjunto das
restrições e
liberdades
resultantes das
condições de
produção e
interpretação do
ato de
linguagem, as
quais codificam
tais
práticas, deixando ao eu-comunicante uma
margem de
manobra,
dentro da
qual
este elabora
seu
projeto de
comunicação.
b)
modos de
organização do
discurso
que constituem os
princípios de
organização da
matéria
lingüística,
princípios
que dependem da
finalidade
comunicativa do
sujeito
falante:
enunciar,
descrever,
narrar e
argumentar;
c)
língua
que constitui o
material verbal (forma e
sentido);
d)
texto
que representa o
resultado
material do
ato de
comunicação,
afetado pelas
imposições da
situação.
Comunicar é uma
tarefa
complexa,
já
que
não se
trata
apenas de se
transmitir uma
informação
entre
interlocutores,
como se a
linguagem fosse o
reflexo do
pensamento. A
comunicação resulta de
um
processo de
produção de
linguagem,
tanto do
ponto de
vista de
sua
concepção,
como de
sua
compreensão. Comunicar-se será,
sob a
perspectiva semiolingüística,
proceder
como
atores de uma
peça
teatral,
já
que estamos
todo o
tempo “representando”,
conforme a
situação de
comunicação, a
posição sociocomunicativa dos
interlocutores, o
assunto etc. O
projeto de
comunicação implica
estratégias
verbais e não-verbais
para
envolver o
interlocutor, atraindo-lhe a
cumplicidade e a
concordância.
Esses papéis
sociais
que desempenhamos se materializam
nos
diferentes
gêneros
textuais de
que dispomos,
para a
expressão de
nossos
intenções
como
falantes.
Marcuschi (Dionísio, 2003) caracteriza
gêneros como
eventos
textuais
altamente
maleáveis,
dinâmicos e
plásticos. Surgem emparelhados a
necessidades e
atividades socioculturias,
bem como na
relação
com
inovações tecnológicas, o
que é facilmente perceptível ao se
considerar a
quantidade de
gêneros
textuais
hoje existentes
em
relação a
sociedades
anteriores à
comunicação
escrita.
Para Marcuschi (op. cit.), a
expressão
tipo
textual designa uma
composição teórica definida
pela
natureza lingüística (aspectos
lexicais,
sintáticos, tempos verbais,
relações
lógicas). Classificam-se
como
tipos
textuais as
seguintes
categorias:
narração,
argumentação,
exposição,
descrição,
injunção. Já a
expressão
gênero textual se refere aos variadíssimos
textos materializados
que fazem
parte da
vida
diária,
com
características sociocomunicativas definidas
por
conteúdos,
propriedades
funcionais, estilo,
composição
específica.
São
exemplos de
gêneros
textuais:
telefonema,
sermão,
carta
comercial,
carta
pessoal,
carta de
leitores de uma
secção de
jornal,
romance,
bilhete, reportagem
jornalística,
aula
expositiva,
reunião de
condomínio,
ata,
notícia
jornalística,
horóscopo,
receita
culinária,bula de
remédio,
lista de
compras,
cardápio de
restaurante,
instruções de
uso,
outdoor,
inquérito
policial,
resenha,
edital de
concurso,
piada,
conversação
espontânea,
conferência,
carta eletrônica (e-mail),
bate-papo
por
computador,
aulas
virtuais,
novela,
conto,
roteiro de
cinema ,
texto
publicitário etc.
Observe-se o
quadro
abaixo, adaptado de Dionísio (2003: 23)
TIPOS TEXTUAIS:
NARRAÇÃO – DESCRIÇÃO
–
EXPOSIÇÃO ARGUMENTAÇÃO
–
INJUNÇÃO |
GÊNEROS
TEXTUAIS |
1. constructos
teóricos
definidos
por
propriedades
lingüísticas intrínsecas; |
1.
realizações
lingüísticas concretas definidas
por
propriedades sociocomunicativas |
2. constituem
seqüências
lingüísticas
ou
seqüências de
enunciados no
interior dos
gêneros e
não
são
textos
empíricos; |
2. constituem
textos empiricamente realizados cumprindo
funções comunicativas; |
3.
sua nomeação abrange
um
conjunto limitado de
categorias teóricas determinadas
por
aspectos
lexicais,
sintáticos,
relações
lógicas,
tempo
verbal; |
3.
sua nomeação abrange
um
conjunto
aberto e praticamente ilimitado de designações concretas determinadas
pelo
canal,
estilo,
conteúdo,
composição e
função; |
4. desiganções teóricas dos
tipos:
narração,
descrição,
exposição,
argumentação e
injunção.
Textos narrativos:
predomínio de
seqüência
temporal.
Textos descritivos:
predomínio de
seqüências de
localização.
Textos
expositivos:
predomínio de
seqüências analíticas
ou explicitamente explicativas.
Textos argumentativos:
predomínio de
seqüências contrastivas explícitas.
Textos injuntivos:
predomínio de
seqüências imperativas. |
4.
exemplos de
gêneros
telefonema,
sermão,
carta
comercial,
carta
pessoal,carta de
leitores de uma
secção de
jornal, ,
romance,
bilhete, reportagem
jornalística,
aula
expositiva,
reunião de
condomínio,
ata,
notícia
jornalística,
horóscopo,
receita
culinária,bula de
remédio,
lista de
compras,
cardápio de
restaurante,
instruções de
uso,
outdoor,
inquérito
policial,
resenha,
edital de
concurso,
piada,
conversação
espontânea,
conferência,
carta eletrônica (e-mail),
bate-papo
por
computador,
aulas
virtuais,
novela,
conto,
roteiro de
cinema ,
texto
publicitário etc. |
Outra
categoria
que merece
destaque é a de
domínio discursivo, designado
como uma
esfera de
produção discursiva
ou
atividade
humana.Tais
domínios podem
ser
entendidos
como:
jurídico,
jornalístico,
religioso,
midiático,
político,
acadêmico,
científico etc que dão
origem a
gêneros
bastante
específicos
como
práticas
ou
rotinas comunicativas institucionalizadas. Resumindo:
a)
tipo
textual:
predomínio de
seqüências
lingüísticas típicas;
b)
gênero
textual:
predomínio de
critérios de
ação
prática,
circulação sócio-histórica, funcionalidade,
conteúdo
temático,
estilo;
c)
domínios discursivos:
referência a
esferas institucionalizadas da
atividade
humana.
Ressalte-se
que
um
texto pode apresentar-se tipologicamente
variado,
com a
predominância de
determinado
tipo,
em
função de
seu
gênero,
bem
como do
domínio discursivo a
que
pertença.
Já se pode
imaginar a
importância dos
conceitos de
gênero
textual de Marcuschi (Dionísio, 2003) e de
contrato de
comunicação de Charaudeau (1992)
para o
ensino de
língua portuguesa.
Dominar
um
gênero
textual
não se reduz a
dominar determinadas
formas de
língua,
mas
sim a possibilidade de
realizar,
pela
língua,
objetivos
específicos de
comunicação,
em
situações
sociais
particulares –
levar a
efeito
um
projeto de
fala.
Portanto, o
ato da
escrita e o
ato da
leitura
são o
verso e o
reverso da
competência discursiva. A adequada
utilização dos
gêneros
textuais
por
parte dos
falantes está
firmemente estruturada na
cultura,
já
que se
trata de
fenômenos sócio-históricos.
Com
base
em
tais pressupostos, as
propostas de
atividades
com os
alunos devem
ter
por
base diversas
modalidades de
textos escritos (verbais
ou não-verbais) e
orais.
Para o
pleno
desenvolvimento da
competência discursiva importam,
sobremaneira,
aspectos e
instrumentos da coesão (referencial e
lexical) e da
coerência
textuais.
falhas
paráfrases,
mímica etc.).
Com a explicitação deste
arcabouço
teórico, cremos
estar
claro
que
conduzir a
prática de
interpretação de
textos
não pode
estar
baseada na
intuição
ou na experiência pressuposta do leitor (
ou do
professor).
Como
desenvolver
estratégias de
leitura
com
vistas ao
desenvolvimento do
leitor
crítico?
Não temos uma
resposta
definitiva,
mas podemos
arrolar
alguns
aspectos
que devam
ser observados, de
forma
sistemática,na
análise de
textos. Sugerimos,
mesmo,
um roteiro requer do
professor uma
orientação de
trabalho
com
propósito
definido e
um
roteiro sistematizado.
Para
entender
um
texto, devemos
lembrar
que:
·
não somos
seres isolados, vivemos
em
sociedade;
·
cada
um de
nós está inserido numa
rede de
relações
sociais;
· as
relações
sociais se dão
em
lugares
específicos
em
cada
sociedade cultural;
·
sociedade é formada
por
um
conjunto de instituições ( todas
com
suas
práticas,
seus
valores,
seus
significados,
suas
demandas,
proibições,
permissões);
· os
diferentes
grupos
sociais exercem
influência
direta
sobre os
indivíduos
que convivem nesses
grupos.
As
práticas, os
valores e os
significados dos
grupos
são articulados
através da
linguagem, configurando a
realidade
que,
em
si
mesma, é uma
construção de linguagem
Sugerimos
alguns
aspectos
que, se abordados de
forma
sistemática, constituem-se
em facilitadores da
leitura. Teríamos,
assim, uma
espécie de
roteiro de
interpretação de
textos,
para
que os
alunos apreendam
um instrumental de
análise
capaz de
lhes
guiar na
busca dos
significados.
Sugestão:
1-
Tipos e
Gêneros
textuais:
especificar as
características do
gênero
em
relação à
sua
função
social de
comunicação.
Formular,
por
exemplo, as
seguintes
questões:
Para
quem se dirige o
texto?
Qual
sua
finalidade?
Quem é o eu-comunicante? Predomina o
tipo narrativo, descritivo, argumentativo,
expositivo, argumentativo
ou injuntivo? Nomear cada
tipo e
cada
gênero de
texto, discutindo os
efeitos de
sentido
que configuram.
2- Intertextualidade:
são as
vozes
que se fazem
presentes
nos
textos. Na intertextualidade
explícita ,a
alteridade é necessariamente
atestada
pela
presença de uma
citação de
textos
anteriormente produzidos
ou,
ainda, pode tratar-se de
provérbios,
frases
feitas,
expressões estereotipadas
expressões de autoria
anônima
mas
que fazem
parte de
um
repertório partilhado
por uma
comunidade. A intertextualidade pode
estar
implícita,cabendo ao
leitor recuperá-la
pela
memória, valendo-se de
seu
conhecimento de
mundo, nas
alusões, na
paródia,
paráfrases e
ironia.
Discutir,
portanto, a
importância da intertextualidade na
construção
textual , mostrando ao
aluno
que
esse é
um
dado
relevante na
recepção do
texto e na
sua
interpretação.
3-
Fatores de textualidade:
destacar,
além da intertextualidade, os
demais
fatores de textualidade
como
componentes
fundamentais na
análise do
texto.Discutir a
situação de
comunicação, o
contexto, o
grau de informatividade, a intencionalidade, a aceitabilidade
que
são
fatores de
ordem pragmática (enunciados
que
só podem
ser
entendidos
em
função do
ato de
enunciação).
4-
Coesão e coerência:
destacar os
processos
lingüísticos da
coesão textual (referencial e
lexical), vinculando-os à
coerência
semântica dos
enunciados.
Esses
fatores se relacionam
com o
material
conceitual e
lingüístico do
texto. Podem
ser
feitas algumas
reflexões
como,
por
exemplo:
qual a
intenção
que se percebe no
texto? (intencionalidade); há muitas
informações
novas no
texto? (informatividade); o
texto apresenta
idéias
já sabidas, há
citações? (intertextualidade); o
gênero
textual e o
registro de
língua configuram
um
modelo
socialmente aceito? (aceitabilidade); as relações referenciais estão realizadas de
forma adequada? (coesão); o
texto pode
fazer
sentidos
diferentes
conforme o
interlocutor? (coerência) etc.
5-
Progressão temática:
mostrar
como o
texto se desenvolve, verificando a
organização de
seus parágrafos (Garcia, 2002): se
por
enumeração,
exposição de
idéias,
paralelo e
contraste,
apresentação de
razões,
ou
argumentos.
6-
Adequação do
registro de língua: observar a
variedade discursiva
que está
presente no quotidiano,
nos
meios expressionais encontrados no
texto jornalístico (editorial, reportagem,
ensaio,
crônica,
cartas do
leitor,
charges, quadrinhos etc.), no
texto
literário, no
texto
científico, no
texto
didático, no
texto da
Internet, no
texto
publicitário – motivadores e acionadores do
conhecimento de
mundo dos
leitores.
Ressaltar a
importância
fundamental do
reconhecimento dos
vários
usos da
língua portuguesa (não
só o
formal)
em
função das
condições de
enunciação.
Observemos,
como uma
breve exemplificação,
comentários
sobre
um
texto
publicitário:
-
Nesse
texto, do
gênero
publicitário, percebemos a
presença de
um locutor ( o
emissor da
mensagem
publicitária) e de
um
destinatário, identificado
pelo
pronome “você”. Há a
presença de uma
forma de intertextualidade,
quando se faz
referência a
um
tipo
conhecido
socialmente – o
pessimista e
suas
características. Exemplificam-se
também
trechos de
tipos de texto diferentes:
a) descritivo: “É
aquele
que
balança a
cabeça,
solta
um risinho
quase
imperceptível e resmunga: ‘Isso
não vai
dar
certo.’”;
b)narrativo: “Você conhece
bem o
tipo. (...) Os
pessimistas estão
em
todos os
lugares.”;
c) injuntivo: “O
único
lugar
em
que
você
não pode
encontrar um deles é na
frente do
espelho.Pense Ão. Leia o
Estadão.”
Percebe-se nessa heterogeneidade tipológica
um
projeto de
comunicação
que
tenta a melhor maneira de
seduzir e
persuadir o
leitor a
assinar e a
ler o
jornal o “Estadão”.
Um
aspecto
lingüístico interessante a
destacar é o valor afetivo dos
sufixos –ão e – inho
em
língua portuguesa.
Por
que –ão é
ser
otimista e –inho é reclamão ?
Por
que o
jornal O
Estado de
São Paulo é
afetivamente referido
como o “Estadão”? As
respostas encontram
seus
fundamentos
em
questões da
cultura
brasileira
que se materializam na
língua.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Haverá muitas outras
estratégias
para o
desenvolvimento do
leitor
crítico,mas nenhuma delas poderá
prescindir dos
aspectos
que dizem
respeito à
enunciação dos
textos.
Um
tratamento
sistemático das
questões de
interpretação de
texto deve
considerar a
situação de
comunicação, os
tipos e
gêneros
textuais, o
registro de
língua
em
sua
adequação às
finalidades do
texto, os
fatores de textualidade, a
relação do
componente
verbal
com o não-verbal, o
conhecimento de
mundo.
Assim, ficará
evidente
para o
aluno
que,
para
ler e
interpretar
um
texto, há
um instrumental teórico capaz de permitir-lhe uma
abordagem adequada de
análise.
Talvez possamos
sugerir,
ainda, algumas
estratégias
que contribuam
para
um procedimento
sistemático na
análise de
textos,
em
busca de
sua
interpretação.
Para
ampliar o domínio da
língua
escrita e da
capacidade de
leitura e
interpretação, podemos
relembrar
alguns
tipos de
exercícios
que,
embora
conhecidos,
talvez
não estejam sendo realizados sistematicamente,
como
por
exemplo:
-
ler
em
silêncio e
depois
reproduzir
oralmente,
com
clareza o
que foi lido;
-
dividir
um
texto
em
seqüências
ou
partes, dando
um
título a
cada uma;
-
elaborar a
síntese das
idéias
principais de
um
texto;
-
expor a
linha argumentativa do
texto;
-
apresentar uma
contraposição às
idéias de
um
texto;
-
comparar
textos de
diferentes
gêneros
quanto ao
tratamento do
tema e aos
recursos
lingüísticos usados
pelo
autor;
-
estabelecer
relações
entre as
partes de
um
texto a
partir da
sintaxe de
concordância
verbal e
nominal;
-
discutir as
relações sintático-semânticas (observar o
uso dos
conectores interfrásicos);
-
especificar as
relações
semânticas de
enunciados reduzidos e de
pausas.
Essa
pequena
lista,
apenas
ilustrativa, aponta o
imenso
trabalho
que os
professores de
língua portuguesa têm
pela
frente no
sentido de tornarem
seus
alunos
leitores e
produtores
competentes de
textos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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REBELLO, Ilana da Silva. O produto (marca)
como garoto-propaganda: as
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Dissertação de
Mestrado apresentada à
Pós-Graduação
em
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Letras da
Universidade
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Fluminense, 2005.