A contra-viagem de Saramago
Maria Theresinha do Prado Valladares (UERJ)
Este trabalho pretende formular um convite consistente para uma viagem onde se encontrarão literatura e história imbricadas na aventura única do fazer pensar. José Saramago, o nosso autor escolhido para caminhar pela ficção e pela "realidade" da história, em duas entrevistas a Cremilda Medina "condena a falta de densidade mental do conhecimento histórico" e "defende como base de consciência cultural o conhecimento histórico...". Assim é a força da viagem empreendida pelo autor. É tão profundamente trabalhada ( e para Saramago o saber é um trabalho) que no desenrolar-se uma trama, a história lá está. Lá está como consciência, lá está como transformação que a ficção nos traz no pensamento de alguém escrevendo no século vinte sobre séculos anteriores. O ano da morte de Ricardo Reis, por exemplo,desmitifica o grande poder de Portugal - o dominar o mar. Cobra, com todo o poder do ficcionista, o voltar-se os olhos para a terra:"aqui o mar acaba e a terra principia...";"aqui, onde o mar se acabou e a terra espera...".É o início e o final do texto. É, também,o ponto de partida para o leitor viajar junto: é a escrita da viagem e a viagem da escrita. Os textos de Saramago "contaminam" o leitor com a energia e a luz da renovação. Ave, Saramago!
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