A Fraseologia
em Línguas de Interface Cultural
Jeni S. Turazza (PUC-SP)
A pesquisa situa-se na área da Lexicologia e concebe a fraseologia como recursos léxico-gramaticais que, incorporados ao repertório cultural de que um povo faz uso para o exercício de suas práticas discursivas cotidianas, integra-se ao vocabulário de seu respectivo idioma. Qualificadas como lexias semi-fixas ou fixas, em relação aos modelos que respondem pela estruturação das formas gramaticais de uma dada língua, os conteúdos das unidades fraseológicas se explicam como construções complexas que exigem uma abordagem interdisciplinar. Pode-se constatar uma diversidade de procedimentos analíticos que, fundamentados na concepção de que o código lingüístico se explica por níveis, têm levado a abordagens unidisciplinares dessas unidades do vocabulário – morfológico, sintático, morfossintático ou semântico. Dessas focalizações resultam diferentes concepções, definições das unidades fraseológicas. A única posição consensual entre seus estudiosos é o fato de essas unidades serem formadas, no mínimo, por duas formas duas palavras e, no máximo, por uma frase verbal cuja estrutura é a período simples ou composto e os seus conteúdos são cristalizados pelo uso. Entende-se que tais conteúdos fazem remissão a modelos de estruturação de conhecimentos de mundo, arquivados na memória social de longo prazo de uma dada comunidade sócio-cultural-lingüística. A revisão bibliográfica realizada possibilitou, por um lado, diferenciar lexias textuais e concebê-las como designações de macroproposições que, formalizadas pela categoria da moral de narrativas de histórias, são enunciados sínteses ou textos reduzidos, desprovidos de autoria e de registros de suas expansões, pois estes se perderam no fluxo da história, como é o caso dos provérbios e ditos populares. Já as máximas, por exemplo, deles diferem pela autoria. Nesse contexto, as expressões idiomáticas estão concebidas como lexias compostas e complexas que, criadas ou idiomatizadas no fluxo de um processo histórico entre línguas de contato, como é o caso do português brasileiro e do espanhol rioplatense, trazem indexadas à organização dos conteúdos de suas formas léxico-gramaticais modelos de focalizações por meio dos quais os conhecimentos de mundo são apreendidos e designados em língua. Tais modelos apontam para posições diferenciadas que os povos assumem no mundo da vida e deles resultam representações que, embora diferentes, têm essas diferenças inscritas nas matrizes de uma história similar, cujos registros têm por ancoragem um mesmo discurso fundador: o Mercanil-Salavacionista que responde pela edificação da nacionalidade brasileira e pelas rioplatenses. A pesquisa discute, por procedimentos teórico-analíticos, essas diferenças pelas formas léxico-gramaticais que se integram ao repertório cultural desses povos latinos, privilegiando as expressões idiomáticas do português brasileiro.
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