Auto-ajuda: a cartilha neoliberal?
Alessandra Cristina Valério (UNIOESTE – PR)
Este estudo aborda o universo discursivo do que se convencionou designar como Literatura de auto-ajuda (LAA). Ou seja, o conjunto de uma espécie de manuais cuja função basal é a de prescrever comportamentos que podem conduzir o indivíduo a realização de seus anseios pessoais ou sociais e que o gênero costuma denominar de sucesso. Parte significativa deste material se destina ao segmento empresarial, palestras motivacionais e livros de auto-ajuda estão na ordem do dia, em boa parte das empresas e não só para os setores gerenciais, mas também, para uma ampla esfera de trabalho que pode abarcar educadores até trabalhadores de linhas de produção. Partindo dos dispositivos teóricos da Análise do Discurso, esta abordagem objetiva a elucidação da Formação Ideológica da auto-ajuda, referente a este mundo de trabalho, e sua intrínseca relação com o aparato ideológico burguês neoliberal.
Pois, reiterando o individualismo narcisista pós-moderno, a LAA sustenta a visão de que o indivíduo é o único responsável pelo seu sucesso ou fracasso, e que o mundo do trabalho se transfigura apenas em questões de oportunidade. As necessidades de um mercado intransigente são leis inquestionáveis, competindo aos indivíduos apresentar flexibilidade, maleabilidade para atendê-las.
Ocorre que, impingindo a responsabilidade ao próprio sujeito pelos notáveis fracassos do esfera trabalhista (desemprego, salários baixos), a LAA exime os encargos que o sistema ou o governo apresenta diante de um mercado de trabalho excludente e reducionista. Torna-se um discurso justificador para a exclusão que permeia este setor e para o estrato que o domina.
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