FAZER TEMPO

Marcia dos Santos Machado Vieira (UFRJ)

 

Focaliza-se um dos empregos do verbo fazer delimitados em estudo sobre o comportamento multifuncional desse item lexical (cf. Machado Vieira, 2001 e 2003): o de marcador de tempo cronológico em estruturas como “fazer + expressão temporal”  e  “fazer + expressão temporal + que”. Fazer constitui um elemento semi-gramatical que opera na formação de expressões de tempo decorrido.

Uma análise de fazer em estruturas com referência cronológica suscita questões referentes a aspectos tais como: (a) a categoria funcional a que pertence fazer e a do sintagma que com ele se articula; (b) o caráter impessoal das construções; (c) as alterações semânticas e sintáticas de fazer em relação ao sentido básico que tem como verbo predicador; (d) a relação entre aspectos semânticos e aspectos sintáticos dos sintagmas que integram a construção.

Para o tratamento desses aspectos, examina-se uma amostra de enunciados coletados em textos orais e escritos do Português, que é examinada com base em orientações da Teoria da Gramática Funcional (S. Dik, 1997), parâmetros do processo de gramaticalização (Hopper, 1991; Heine et alii (1991)) e algumas descrições do assunto (Toral, 1992; Fernández, 1999; Soriano & Baylín, 1999; Bechara,1999).

O estudo revela que fazer pertence a uma categoria funcional híbrida com propriedades que o relacionam às categorias de verbo predicador (em uma de suas extensões de sentido), marcador causativo e constituinte gramatical de expressão adverbial. Apresenta-se, portanto, como uma extensão de uso que se situa mais próximo ao pólo lexical do continuum de gramaticalização de verbo predicador a verbo gramatical/instrumental.

 

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