O ensino da linguagem figurada
em algumas poesias de Manuel Bandeira.
Luci Mary Melo Leon (UERJ e UCAM)
As palavras na poesia de Bandeira têm seus respectivos valores. Cada palavra possui sua dimensão de significado e às vezes perdem seu significado denotativo para envolver-se àquele contexto do qual passam a fazer parte. A palavra não é prisioneira. Ela é livre para poder ser sentida, admirada e compreendida. Ao decompormos isoladamente uma palavra sabemos que a dimensão significativa é bem ampla permitindo traduzir uma série de alternativas de significação.
A linha de reflexão em que depreende o contexto significativo de um texto formal, chama-se semiótica. Logo, o objetivo é explicar o que o texto diz e, na estrutura deste, mostrar os elementos que conduzem a essa explicação conceituada.
As poesias escolhidas “VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA E SAUDADES DO RIO ANTIGO“ representam dois momentos diferentes na vida do poeta. Na primeira poesia a importância não é simplesmente a redondilha construída à moda do arcadismo, mas no que ele tem de mais representativo da poesia popular. Podemos observar que seus versos são simples sem nenhum esforço artificioso de construção. O poema serve para nos mostrar que o “ir-se embora pra Pasárgada” significa ingressar na vida comum, abandonar-se, ser livre. A fantasia, o “impossível” das imagens por meio das quais o poeta nos transmite a sua vontade de libertação, não nos deve enganar sobre o seu sentido profundamente humano. O poema também tem seu valor pela musicalidade que ele apresenta. Tanto que Bandeira declarou que nunca a palavra cantou por si, e só com a música pode ela cantar verdadeiramente. Em Pasárgada o poeta não é tísico. Lá ele tudo poderá. A mulher que desejava amar. Esta é a idéia principal.
Pasárgada não pode ser lida como uma simples palavra que de forma aleatória o poeta resolveu dar vida. O seu significado está além de qualquer dicionário. O seu valor é uma vida inteira que poderia ter sido vivida e que não passou de sofrimento e desejos somente idealizados. Pasárgada significa “Campo dos Deuses“ ou “Tesouro dos Persas”, porém para Bandeira Pasárgada significa “Felicidade“. Realmente, o mundo pode ser e deve ser construído a partir das palavras, porque a vida de uma palavra é o que sente o poeta ao escrever e o leitor ao ler. A capacidade de conviver com as palavras é exatamente esta: a de dizer tudo com um mínimo ou quase nada. As palavras para Bandeira têm uma missão: a de transmitir a tantas outras a promessa da dor, da infância, da revolta e da busca incessante pela felicidade.
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