SUJEITO NULO DE REFERÊNCIA INDETERMINADA
NA FALA CARIOCA
Silvia Regina de Oliveira Cavalcante (UFF)
Mudanças ocorridas no sistema pronominal do Português Brasileiro levaram a uma preferência pelo preenchimento do sujeito tanto de referência definida quanto arbitrária, como revelam dados de pesquisas quantitativas, como os de Duarte (1995, 2000). Há, por outro lado, uma redução no uso de clíticos em geral, inclusive o "se" de referência indeterminada nas sentenças finitas. Tal redução, associada ao preenchimento dos sujeitos referenciais, levou ao aparecimento de formas pronominais plenas para todos os sujeitos referenciais, definidos e arbitrários, mas permitiu, como já apontou Galves (1987), o aparecimento de um sujeito nulo indeterminado em sentenças finitas, construção não atestada no português europeu, ao lado de formas nominativas, como “você” e “a gente”, como vemos nos exemplos a seguir:
(1a) Nos dias de hoje não usa mais saia. (cf. Galves, 2001:46
(1b) Aqui conserta sapatos. (cf. Galves, 2001:110)
Neste trabalho, apresento uma descrição do uso do sujeito nulo com referência arbitrária / indeterminada com base em duas amostras da fala culta carioca -- NURC/RJ -- a fim de delimitar os contextos favorecedores desse sujeito nulo. Foram verificados tanto fatores lingüísticos -- como tipo de verbo, tempo verbal da sentença, presença de modalizadores --, quanto fatores extralingüísticos -- ano de gravação, idade do informante. Os resultados indicam que ocorre um aumento na preferência pela construção de sujeito nulo arbitrário na fala de informantes mais jovens e na amostra mais recente. Com relação aos fatores lingüísticos, destacam-se as sentenças genéricas ou habituais, com tempo verbal no presente ou imperfeito, e a presença de verbos modais como "poder", "dever".
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