Autobiografia e dialogismo
uma abordagem afetiva da linguagem

Gisele Batista da Silva (UERJ)

 

As narrativas autobiográficas têm sido largamente estudadas, dado o grande número de produções e as diversas formas de apresentação desse gênero hoje consagrado. Leonor Arfuch, em seu livro El espacio biográfico – Dilemas de la subjetividad contemporánea, propõe o estudo de uma questão que se apresenta com o fim da Modernidade – focalizando o deslocamento e a descentralização dos conceitos de público e privado – e que passa a apontar para um desenvolvimento da política-espetáculo até a formação de um gênero diferenciado e com particularidades definidas – mas que atualmente apresenta constante aggiornamento. Faz um percurso que acompanha desde o retorno de certo interesse pela narrativa vivencial como um sintoma do contemporâneo até o estudo do funcionamento dessas narrativas, que mesclam realidade e ficção numa situação fronteiriça, de tal modo que esta passa a ser o espaço onde se desenvolve e afirma o gênero biográfico.

                Para apresentar e discutir tal percurso, Arfuch toma do estudo de Bakhtin sobre a linguagem conceitos que permeiam seu estudo, posto que fundamentais para a compreensão de certa produção histórica de discursos. Bakhtin, em sua abordagem filosófica, está preocupado com as relações estabelecidas entre homens e linguagem, num meio social que necessariamente participa desse processo de conhecimento – dialógico. O teórico russo recusa, numa crítica à autoconsciência cartesiana, certa auto-suficiência do eu, a partir da qual os discursos se engendrariam numa condição adâmica, original, primeira. Em consonância com as considerações bakhtinianas, uma importante preocupação da autora argentina no seu estudo sobre as narrativas vivenciais é a própria linguagem. Ela entende que não é possível falar de um lugar de produção de discurso – literário, no caso – sem que, necessariamente, se remeta à formação de tramas discursivas, nas quais está implicada a interação social entre sujeitos: assim como para Bakhtin, segundo Arfuch o homem deve ser pensado a partir de sua “outridade”, do contexto plurivocal que dá sentido ao seu discurso (p.12-13)[1]. Tal razão dialógica, que vai de encontro à razão cartesiana, define uma apropriação da linguagem, de uma realização da enunciação, que se dá pela heterogeneidade. Dessa condição constitutiva da linguagem e, como veremos, do discurso literário, emergem importantíssimas questões que dão cor a essa “lógica” do discurso bakhtiniano e, conseqüentemente, ao delineamento proposto por Arfuch sobre a (auto)biografia: interação, sintonia, afecção[2] e apropriação. Os discursos são fruto da interação, isto é, da participação simultânea de sujeitos, que, nesse contexto, são considerados interlocutores e não mais entidades isoladas (emissor e receptor). Certamente, as enunciações são produzidas dentro de uma situação mirada, objetivada, mas elas nascem do movimento cíclico, muitas vezes caótico, das relações históricas estabelecidas entre esses mesmos sujeitos. Nelas está implicada uma série elementos – como lugar, tempo, diferentes visões de mundo entre outros –, que em combinação constante, dão lugar a uma dimensão cultural que permeará a produção de discursos desses sujeitos. Sem dúvida, dentre os elementos que compõem tais relações, a afetividade é um dos mais importantes, pois será ela que dará a intensidade do valor atribuído e da aproximação que o sujeito terá com um determinado tema.

 

O amor é o segundo aspecto dos valores biográficos (...) O desejo de ser amado, a consciência, a visão e a forma que se pode ter na consciência amorosa do outro, a vontade de fazer desse amor almejado do outro a força organizadora e motriz da vida, tudo isso é ainda uma maneira de crescer e de se engrandecer no clima da consciência amorosa do outro.” (Bakhtin, 1992: 171)

 

Também os sujeitos envolvidos no pacto biográfico – autor e leitor – não são sentimentos isolados, mas corpo e mente atuantes, participantes de uma historicidade, isto é, afetam e são afetados por seus discursos e/ou discursos alheios. Essa relação “amorosa” estabelecida nasce de um vazio, aquele constitutivo do sujeito, que deseja ser habitado pela outridade da linguagem, convencido que está da sua importância para a concretização de toda e qualquer interlocução. De fato, para Bakhtin, a autobiografia é o registro da afetividade, na qual a idéia de auto-criação não supõe auto-suficiência, mas apropriação criativa do discurso outro. Essa espécie de sintonia – constitutiva – entre os sujeitos é o que determina o caráter polifônico da linguagem.

 

Esta consideracción del otro como formando parte constitutiva de mi enunciado, previa a toda consumación posible de la comunicación, encuentra su correlato en la idea de un lenguaje otro, habitado por voces que han dejado su huella con el uso de siglos, una palabra ajena que expressa sentidos, tradiciones, verdades, creencias, visiones del mundo, y que el sujeto asume en forma natural, pero de la cual deberá apropiarse por medio del uso combinatorio peculiar que de ella haga, los géneros discursivos que elija y sobre todo, por las tonalidades de su afectividad. (p.55-56)

 

                No trecho citado, Arfuch assinala que o objeto do discurso já se encontra valorado, isto é, considerado, antevisto num discurso sempre historicamente anterior[3], mas que, quando apropriado, se cruza, se emaranha com outras afetividades, outros pontos de vista, outras perspectivas através das quais o mundo é entendido e expresso por meio da enunciação.

                Tais considerações abordadas auxiliam a demarcar o objetivo da autora argentina ao desenvolver seu estudo: procurando delinear a dimensão significante dessas narrativas (auto)biográficas num horizonte cultural determinado, ela as entende como articulações, como resultado de uma simultaneidade de discursos, que, em presença ou em ausência, se apresentam como tramas culturais resultadas de um clima de época (p.49). O espaço onde tais narrativas se hibridizariam, derrubando as fronteiras tradicionalmente criadas entre os gêneros narrativos, se configura por um jogo de linguagem, de experimentação artística, dentro de um regime retórico-simulacral que dá tom de “realidade” a elas. É nesse espaço biográfico, onde não se somam gêneros consagrados, mas, sobretudo, onde eles irão dialogar e se mesclar, participando um do outro, que a heterogeneidade bakhtiniana ganha importante papel para o estudo de Arfuch: é através dela que certa “pureza” será questionada, deslocando, ou melhor, superando as fronteiras que delimitam os gêneros biográficos e trazendo para o um o discurso outro. Nas palavras de Bakhtin, “o eu se esconde no outro e nos outros, quer ser unicamente outro para outros, entrar até o fim no mundo dos outros como um outro, liberar-se do peso do único eu no mundo (eu-para-mim)” (Apud Zoppi-Fontana, in: BRAIT, 1997:116). Essa representação que o sujeito faz de si mesmo (o “eu-para-mim”), questionada na consideração de Bakhtin, toma relevantes proporções no espaço biográfico: o movimento narrativo da (auto)biografia, de um retorno do eu sobre si mesmo, transporta a noção de autoconsciência para o espaço da representação, onde esse “si mesmo” não corresponde nem ao eu nem ao outro, mas à imagem que o sujeito faz, ou melhor, cria de si – uma identificação imaginária, criada em virtude de certo olhar lançado sobre um outro. Tal desejo de querer ser outro, liberando-se de si, apesar de aparentemente apontar para uma dispersão, acaba por agir no sentido contrário, centrando a atividade de conhecimento no sujeito, sendo este origem de sua vontade, de seu desejo. É nesse movimento que a criação do herói se dá: o deslocamento para fora do eu, no qual um outro possível ganha vida – por meio do excedente de visão estética –, reforça o caráter único de um lugar ocupado pelo sujeito da narrativa autobiográfica, que o diferenciaria dos outros e de um mundo dos outros (Zoppi-Fontana, in: BRAIT, 1997: 124). Logo, as alteridades constitutiva ou representada se apresentam pela singularidade dos sujeitos e não pela diferença entre eles, caracterizando a sua insubstituibilidade no lugar que ocupam.

                Parece-nos que as narrativas vivenciais estudadas por Arfuch, enquanto material literário, são elaboradas por meio de um processo metafórico de encenação e de um lugar de estranhamento, ambos analisados por Mónica Graciela Zoppi-Fontana, no seu caso, no simples acontecimento da linguagem segundo Bakhtin: no primeiro, as diversas máscaras mostradas pelos enunciados são apresentadas por um locutor que as organiza de tal forma a dar certa seqüência inteligível aos acontecimentos narrados; e o segundo possibilita construir um espaço no qual o olhar externo direcionado ao sujeito “permite[-o] observar-se [o eu] no acontecimento da linguagem, como efeito desse olhar, reconhecer-se como sujeito da/na linguagem” (in BRAIT, 1997, 121) – posição de exterioridade do sujeito em relação a si mesmo. Segundo Arfuch, nas narrativas (auto)biográficas, essa relação de recorrência e de implicação entre os sujeitos interno e externo às narrativas (autor, narrador e leitor) – ação que encena o jogo retórico da autobiografia – seria um dos componentes do valor biográfico: as relações do eu com seu outro, do eu com um outro externo à narrativa, e desse outro com o eu e o outro da narrativa determinam uma organização e ordenação da vida mesma, de todos os sujeitos envolvidos no pacto – e não somente de um deles. Nesse aspecto repousa uma das mais importantes características da teoria bakhtiniana: a dimensão ética da linguagem romanesca, em que o outro também é sujeito[4] e sua voz encontra-se presente na narrativa por meio da relação dialógica de consciências. Tal relação se dá por exotopia, isto é, quando somente um outro pode nos dar acabamento e este outro também depende de nós para dar-lhe acabamento (Tezza, in BRAIT, 1997: 220) – assim, todos são “habitados” e atravessados pelo discurso do outro. A relação exotópica convoca uma necessária troca enunciativa entre sujeitos, alijando a idéia de uma identidade fechada e abrindo espaço tão-somente para uma identidade relacional, na qual o um somente assim se denomina por ocorrência do outro e vice-versa – certa dependência discursiva.

                Das teorizações de autobiografias tradicionais, nas quais supunha-se coincidência empírica entre autor e narrador, a busca por uma justificativa para a própria vida acaba por não se cumprir. Tal equívoco na concepção tradicional não considera as narrativas vivenciais como uma posição enunciativa, que entende “la imposibilidad constitutiva de toda réplica ‘fiel’ de un cursus vitae” (p. 59), mas as percebe como captação e reprodução de uma vida – numa abordagem similar a um estudo científico. Por esse motivo, os relatos (auto)biográficos, durante muito tempo, tiveram um cunho pedagogizador, através dos quais se poderia aprender a viver – talvez até melhor do que com a própria vida. Com a apropriação da teoria bakhtiniana da linguagem no estudo da (auto)biografia, esta passa a ser vista como literatura, isto é, como produção de um imaginário social.

“A maggior ragione un mondo narrativo prende a prestito i propri individui e le loro proprietà dal mondo ‘reale’ di riferimento” (Eco, 2002: 131). A passagem de Umberto Eco, no seu estudo sobre a cooperação interpretativa e os mundos possíveis construídos nas narrativas, entendidos como construtos culturais, nos auxilia a compreender duas questões, ambas também presentes no livro de Leonor Arfuch: a primeira, o fabulismo da vida como princípio norteador na construção narrativa autobiográfica, onde o imaginário contemporâneo será contemplado em toda sua “vibración, vitalidad (...) en el valor de la aventura” (p.58), tendo como base para a sua criação a realidade empírica do sujeito; a segunda questão, sobre as figuras do personagem, narrador e autor e sua relação com o leitor na autobiografia, que necessariamente perpassa pela criação e contemplação do herói: a conexão e a afinidade entre o mundo real e o “mundo possível” – narrativa – é reafirmada na (re)leitura, na recriação e na aceitação de sua ordem narrativa.

 

“O autor da biografia é o outro possível, cujo domínio sobre mim na vida admito com a maior boa vontade, que se encontra ao meu lado quando me olho no espelho, quando sonho com a glória, quando reconstruo uma vida exterior para mim; é o outro possível que penetrou em minha consciência e que com freqüência me governa a conduta, o juízo de valor e que, na visão que tenho de mim, vem colocar-se ao lado de meu eu-para-mim. (...) é o outro com quem (...) posso viver, com toda espontaneidade-ingenuidade, uma vida movimentada e feliz.” (BAKHTIN, 1992: 166-167)

 

                Assim, o que há, segundo Bakhtin, é a confrontação entre interior e exterior: seja entre escritor e autor/narrador ou entre leitor e tais figuras da narrativa, a afetividade determina a aproximação que se tem do mundo possível veiculado na autobiografia, na sua confrontação com o mundo real. E as vozes evocadas estão justamente presentes na relação dialógica das várias consciências – sejam elas reais ou criadas. Para o escritor, esse movimento é a própria confrontação rememorativa entre o que “seu herói” era e o que ele se tornou no seu relato, é a confrontação imaginária do “si mesmo com outro” (p.47), e nessa questão se instala o problema da referencialidade: ela não importa na autobiografia enquanto relação objetiva, mas como resultado contingente do relato, remetendo ao momento da escrita, àquele “eu” atual apresentado na narrativa (a autoreferência atual de Starobinski, p.46). Quanto ao leitor, sua participação é ativa, transfigurando a palavra em tradição estética, moral, social, política e cultural. E nessa transfiguração, o universo movediço da narrativa toma o lugar da objetividade realista (tradicionalmente atribuída aos relatos vivenciais), num horizonte impreciso, que se modifica a cada leitura, a cada (re)atualização da obra, compondo o “mundo ‘possível’ do texto” em relação ao “mundo do leitor” – o horizonte de expectativa de Jauss (p.50). Bakhtin e Jauss dialogam quando admitem a dimensão relacional e pragmática da leitura, atribuindo ao leitor parte importante e indispensável para a concretização do fenômeno literário. Em Bakhtin, o diálogo de consciências, em Jauss, um pano de fundo comum a autor e receptor da obra, e em ambos, a apropriação ativa e autoreflexiva da obra literária e a conseqüente “quebra de contrato” entre literatura, crença e verdade; tão-somente produção de sentidos, afetividade.

                Tal caminho necessário da narrativa não se dá, entretanto, sem que se coloque em prática certo sistema retórico na produção da autobiografia. Não é o fato de guardar estreita relação com um real empírico, como apontava Umberto Eco em linhas anteriores, que atribui à narrativa vivencial um caráter “realista”, mas o fato de que seu processo de criação está sustentado em um estilo[5] criado, num sistema retórico que torna possível o mundo e o outro imaginados, uma realidade com qualidade de fingimento. Nesse sentido, o autobiogrático é, segundo Arfuch, o funcionamento pragmático da leitura ligado a procedimentos retóricos, de convencimento, podendo seu relato se perder na ficção que sugere: nada é preciso, final, acabado, fechado, mas tão-somente aberto e plural.

                Nessa discussão, o autor (auto)biográfico, importante figura literária da contemporaneidade, não deve a importância de seu ressurgimento no voyeurismo, na simples ânsia por detalhes da vida alheia, mas, principalmente, a um reconhecimento de que a criação desse “personagem”, desse “herói” é prática prazerosa e desafiadora da literatura contemporânea, que da representação de algo já existente, na frescura no relato mergulhado num sistema retórico, dá vida a uma nova identidade, que se cria durante a sua escritura e nunca antecede a ela.

                O título que dá nome ao livro de Arfuch – espacio biográfico – convoca, portanto, todos esses elementos que, trançados na teia dialógica da linguagem, nesse diálogo ininterrupto, sugerem vozes múltiplas e ideológicas, cuja dimensão ficcional é explorada até seu mais alto grau – o parentesco entre real e fictício. E somente nesse espaço é possível vivenciar e transpor as “ciladas” do texto, vestindo suas máscaras, lendo um outro no eu, vendo o real no fictício. E o sistema retórico utilizado – o significante da (auto)biografia, analisado pela autora argentina – sela o pacto necessário para que o eu possa se colocar no lugar outro da linguagem, convocando no sujeito o uso de seus afetos como possibilidade de diálogo entre ele e a vida mesma.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARFUCH, Leonor. El espacio biográfico. Dilemas de la subjetividad contemporánea. Argentina: Fondo de Cultura Económica, 2002.

BAKHTIN, Mikhaíl. Estética da criação verbal. Trad. de Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

_________. (V. N. Voloshinov). Marxismo e filosofia da linguagem. Problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Trad. de Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1979.

BRAIT, Beth. Bakhtin e a natureza constitutivamente dialógica da lingugaem. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. São Paulo: Editora da Unicamp, 1997.

ECO, Umberto. Lector in fabula. La cooperazione interpretativa nei testi narrativi. Milão: Bompiani, 2002.

FIORIN, José Luiz. O romance e a simulação do funcionamento real do discurso. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. São Paulo: Editora da Unicamp, 1997.

SPINOZA, Baruch de. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

TEZZA, Cristóvão. A construção das vozes no romance. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. São Paulo: Editora da Unicamp, 1997.

ZOPPI-FONTANA, Mónica Graciela. O outro da personagem: enunciação, exterioridade e discurso. In: BRAIT, Beth (org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. São Paulo: Editora da Unicamp, 1997.


 

[1] Todas as referências ao livro de Leonor Arfuch, já mencionado no trabalho, serão apresentadas no corpo do texto, por meio de suas respectivas páginas.

[2] Termo usado no seu sentido atribuído por Spinoza, no qual os afetos são considerados força motriz do ser humano e a afecção, o encontro de afetos entre os homens (SPINOZA, 1973).

[3] Não se trata de uma anterioridade de sentido temporal, cronológico de compreensão entre os sujeitos, mas de simultaneidade de produções discursivas que recorrem umas às outras.

[4] Diferentemente da linguagem científica, na qual o outro é um objeto de observação distanciado por uma impessoalidade necessária para o êxito da experiência, Bakhtin aponta para um cuidado com o outro, cuja importância está fundamentada na relação de implicação constitutiva e vital entre os sujeitos.

[5] Leonor Arfuch aponta que o estilo presente na narrativa (auto)biográfica não pode ser atribuído ao gênero em si, como se fosse seu elemento constitutivo, mas é o estilo elaboração estética do indivíduo (p.48).