SINDETONIZAÇÃO

Edson Sendin (FEUDUC)

 

Sindetonização deriva de síndeto (gr. Sýndeton, sýndetens, sýndesmon). A rigor, deveria ser sindesmonização. Contudo, o Aurélio (1999) chegou primeiro, e o nosso respeito é parazeroso, como um pouco da muita gratidão que devemos ao dicionarista.

 

Delimitação como ampliação ou complexificação

 

                A sindetonização não se reduz à simples formação dos conectivos ou das conjunções, para estes se localizarem ali onde se encontram (problema de localização). A sindetonização, como fenômeno, exige, para a sua compreensão, questionar a ontologia dos processos científicos até o filósofo alemão Edmund Husserl (1954)[1], na sua obra A Crise das Ciências Européias e a Fenomenologia Transcendental (cerne da fenomenologia, na passagem da modernidade para a contemporaneidade). A sindetonização amplia-se na condição de “acontecimento” de caráter orbital, como o viu Whitehead (1971.)[2] através da perspectiva  da mecânica quântica, ao retomar a tese de uma periodicidade em epiciclos sobre as “órbitas de Bohr”, expõe, completa, a idéia de que à ondulação cinética (que se assemelha à linearidade da língua – parênteses nossos) se junta (paradigma da conjunção) uma ondulação estrutural (como na formação do eixo de ondulações sintagmáticas da língua – parênteses nossos), e a noção de “oscilador acontecimental de campo” (para nós, o oscilador é de linguagem, como acontecimento, aberta na conexão ao conjunto, ao seu contexto, interno e universal, finito e aberto ao infinito, ôntico e aberto ao metafísico, existencial e aberto à essência, improvável e aberto à possibilidade, como uma conjunção concessiva, na esfera orbital da hipotaxe, e adversativa, na esfera orbital da parataxe). Entretanto, antes de toda essa abertura, um outro autor firma seu metaponto de vista, na perspectiva de Whitehead. Trata-se de Pierre Simon Laplace (1986)[3], matemático francês. Laplace expressa, na sua obra Ensaio Filosófico sobre as Probabilidades, o famoso esquema laplaciano do universo, para o qual a natureza nada mais é do que a matéria no espaço e no tempo.

Para nós, a natureza lingüística de Sindetonização envolve complexamente não só a abertura existencial da fenomenologia enquanto dêitico poder da palavra variável e invariável, mas também a emergência da essencialidade no contexto – espaço do texto - e no verbo das orações introduzidas pelo fenomênico acontecimento da Sindetonização – tempo de rema ou monorrema, comentário, nota, tópico, ação, fugacidade, na parte de uma sentença que veicula informação acerca de outro elemento – exóforo e endóforo -nela presente, como reflexo contaminante, transladável, do contexto na força da trextualidade e suas contingências lingüísticas – luta contra a ambigüidade, contra a incoerência e contra a inverossimilhança -, mesmo filológicas, estilísticas e suas implicações extralingüísticas ou filosóficas.

                Para Whitehead, a entidade base da natureza é o acontecimento.

                Para nós, o acontecimento é a linguagem, especialmente o aspecto conjuntivo, na Sindetonização. A Sindetonização funciona como conexões promovidas ou promovendo-se e possibilitadas ou possibilitando-se por preensores. Os preensores são o princípio contido no conceito de “ocasião preensiva”, que colabora com os “cones de Minkowski”, úteis para desenvolver a noção de acontecimento (lembra-se que o formato ou o fenômeno cônico tem curva, hélice, capacita-se à projeção sobre um tronco partido de sua superfície, descrita em seções; os cones da conexão relacionam a parte com o todo – interessa-nos essa noção própria), aprofundada por Whitehead e aproveitada por este trabalho como sindetonização. Os preensores (ou preênseis) denominados por conectivos que só valem neste contexto de relações interativas e interdisciplinares, complexas. E só se compreendem tais redes ou hologramas de relações por via da complexificação: esta é o esforço eferente/ referente, na neguentropia (trocas com resultantes de acréscimo – paragoge ou epítese – morfema da derivação sufixal) da linguagem sobre a entropia do cosmo (trocas com resultantes de subtração – apócope – morfema subtrativo ou zero, segundo Mattoso Câmara Jr.), como nossa imagem de mundo (Weltbild). A imagem de mundo entra na essência ou no sentimento do princípio dialógico da relação das prótases com as apódoses, sob a força sígnica do paradigma, localizado no eixo das sucessividades da linguagem, em co-produção com o sintagma, no eixo das contigüidades.

                Para Joaquim Mattoso Câmara Júnior, nos Dispersos (2004: 57-61; 96-100; 166-170), ambos os eixos (paradigmático e sintagmático) se nivelam com a mesma importância para o sentido.

                Para nós, para a perspectiva deste trabalho, o acontecimento, neste contexto, é a linguagem nas suas mínimas alternativas de manifestação, quer discursiva (real ou atualizada), quer intencional em via(s) de se manifestar ou de se expressar, quer se expresse como catálise de uma dada realização formal ou associativa.

 

Tese deste trabalho ( conclusiva)

                Ante a oferta de raciocínio que se estabelece neste trabalho, não se vê na perspectiva funcionalista (do saber inato) e empírica (do saber criado pelo homem, agora co dificuldade de explicar a origem experimental) de como continuar sustentando a existência da figura do assíndeto. A perspectiva do assíndeto (estrutura ausente), numa sintagmática assindética (oração assindética, por exemplo) seria uma implicação interpretativa do metaponto de vista formalista ou convencionalista, que não considera o amplo conceito de acontecimento da teoria de Whitehead e sua aplicação numa teoria da gramática interdisciplinar ou da gramaticalização complexa. Portanto, todas as junções sintagmáticas, seja nominais, seja oracionais, implicam, antes, uma fenomenologia perspectivista, no rastro da ação, chamada, no caso deste contexto, de “sindetonização”. Este fenômeno aberto, inconcluso, é tipicamente relacional e funcional, sempre tipifica e qualifica uma conexão e, daí, um conectivo, ainda que “subtrativo” (termo analógico ao chamado “morfema subtrativo”, por Mattoso Câmara Jr., in: Dicionário de Língüística e Gramática – complementação da nota 5 deste trabalho). Mas o “conectivo ou sindetonizador subtrativo” (já que também existe a classificação de conectivo acumulativo), na elipse, no zeugma, na braquilogia ou na latência sintagmática (oracional, com regeneração vicária ou não) deixou referência da sua propriedade funcional (coletiva), logo semântica, que interessa à comunicação, a que se volta prioritariamente a tese deste trabalho. Vejamos, brevemente, uns exemplos:

- “Em Mattoso, mares deriva-se para mar”- houve subtração do morfema “-es” da forma primitiva (“mares”), sob o princípio do saber lingüístico de que o determinante é subordinado ao determinado, e o morfema é determinante do semantema, determinado, mas continua na memória de originariedade.  E o eixo da paradigmática não é menos nem mais importante do que o da sintagmática, segundo o próprio Mattoso Câmara Jr. (2004: 57-61; 96-100; 166-170).

- Na elipse do conectivo (sindetonização subtrativa), verifica-se uma analogia ao que foi dito, pelo efeito funcional: “Vozes veladas, veludosas vozes/, vagam nos velhos vórtices velozes//...”, em Cruz e Sousa. A subtração da conjunção coordenativa aditiva “e”, ou com essa indicação sígnica, provoca uma ambigüidade, na função da construção:  uma, de aposto do sujeito “vozes veladas”, ou outra, de elipse do conectivo nessa interpretação da relação dos dois sintagmas nominais subjetivos, “vozes veladas” (e) “veludosas vozes”. A união desses dois sintagmas vela o conectivo (forma indicativa da sindetonização) e impõe a ordem de colocação inversa do determinante (adjunto: veludosas) do segundo sintagma (em relação ao determinado (núcleo da função: vozes, à qual se subordina) ; e “veludosas vozes”, com o hipérbato do determinante “veludosas” (sua localização), antecipa-se ao determinado “vozes”, e é-lhe subordinado, por força de regra lingüística da língua portuguesa: ou “veludosas vozes” funcionaria como aposto de “vozes veladas”; mas qual seria, então, a posição da análise do hipérbato? - Poderia ser a hipótese do aposto vozes veludosas; portanto, teria havido uma seleção do autor na construção que mereceria uma explicação estilística fônica; no entanto, o adjunto adnominal de vozes, “veludosas”, como apódose de “veladas”, antecipa-se para se aproximar do seu semelhante sintático “veladas”, e, assim, secundariza o determinado, substantivo, o nome “vozes” (o veludo da voz priorizou-se, efetivamente, à voz “veludosa”): afinal, nunca é tão veludoso falar de veludo quanto a própria voz dele em palavra “veludosas”, do esvoaçante veludo em “vórtices”, imanentemente “velozes”. Porém, solta a forma predicadora de “velozes” (adjetivação impertinente), posposta ao determinante circunstanciador (adjunto adverbial de lugar) “nos velhos vórtices velozes” (apesar de velhos, velozes; por isso o hipérbato do determinante adjunto “velhos” antecipado ao determinado “vórtices”, em ordem direta, com relação ao seguinte determinante adjunto “velozes”, para, neste, evidenciar-se o caráter interno e, portanto, semanticamente pleonástico do semantema de “vórtices”, agindo no veludo e deixando os versos cheios de fiapos (novos índices lingüísticos), que de veludo somente lembram o possível caráter originário de acontecimento whiteheadiano, no caso proposto pela estética heurística de Cruz e Souza.

- Na oração coordenada, fica mais claro o fenômeno de sindetonização prosodêmica, entonativa, que afasta a hipótese do fenômeno chamado assíndeto, senão do ponto de vista formalista; vejamos: “E o vendedor saiu com a sua mercadoria, vendeu tudo, prometeu negociar o céu, arrendou o inferno, entrou para a candidatura do livro dos recordes”. Há uma nítida figura de  polissíndeto, que se oporia à de assíndeto; os sindetonizadores subtraídos com características de conectivos subtrativos indicam uma entonação prosodêmica de adição, seduzida pelo contexto, como se lêssemos: “E o vendedor saiu com a sua mercadoria, e vendeu tudo, e (em conseqüência ou seqüência) prometeu negociar o céu, e (que poderia localizar a conjunção adversativa – “mas”, por contaminação semântica do exóforo, que opõe inferno ao céu) arrendou o inferno, e (noção conclusiva, que fecha, em clímax, uma seriação gradativa, progressiva, seja ortogonal – sintagma vertical - ou horizontal – sintagma horizontal, como fenômeno que também se poderia incluir na ocorrência de “transposição”) entrou para a candidatura do livro dos recordes”.

- No caso do acúmulo de conectivos (conjunções, no exemplo, que segue...) com inclusão de braquilogia ou latência oracional (e com a faculdade vicária), observa-se em Chico Buarque de Holanda este exemplo, tirado da sua composição “Construção”: (...) “Comeu feijão com arroz/, como se fosse um príncipe//...”. Entenda-se que o sujeito (em elipse) comeu como “comeria” (em latência ou vicariamente “o faria” ou, na mesma função, seria oração subordinada adverbial comparativa, com o verbo latente e zeugmático), “se fosse um príncipe” (oração também hipotática à principal ou subordinante “comeu”, e subordinada adverbial condicional). Fica bem claro que, sem observação criativa, se trata de um conectivo (conjunção) acumulativo de comparação e condição (“como se”, que corresponderia a uma sindetonização comparativa hipotética, acumulativa de comparação e hipótese, para poder justificar lingüisticamente o emprego da forma verbal “fosse”, ou vice-versa: um emprego justificaria o outro, na correlação de forças contextuais), funcionando como uma ligação, uma cópula ou um liame de conjugação no modo subjuntivo.

- Na observação analítica de Valter Kehdi, no artigo “A sintaxe de J. Mattoso Câmara Jr.: Novas Considerações” (Kedi, 2006: 249-253)[4], fala-se de “transposição” e, portanto, de “mecanismo transpositivo”, a respeito do tópico sintagmático contido nesta argumentação. Kehdi salienta, sentencialmente, que o sintagma predicativo assume uma primazia. Tal primazia permite ao autor estabelecer dois campos na “sintagmática horizontal: a microssintagmática (centrada em torno do sujeito e do predicado) e a macrossintagmática, regidas pelas mesmas leis”: quer com os microelementos, quer, respectivamente, com as estruturas sintagmáticas “complexas”, constituídas e vários sintagmas predicativos combinados entre si (sintaxe das orações). Mais adiante, no mesmo parágrafo, o autor nos conclui: “É na macrossintagmática que funciona o mecanismo transpositivo que permite a passagem das orações autônomas a equivalentes funcionais de termos mais simples” (Kedi, 2006: 250, nota 6).

                Veja-se como se comporta o fenômeno da transposição (que se pode apresentar na micro e macrossintagmática) neste exemplo selecionado e analisado por Kehdi (op. cit., p. 251): “Vejo: ele está doente/ Vejo que ele está doente” (uma sindetonização sugerida pelos dois pontos, e outra, pelo conectivo que é a conjunção integrante “que”, introdutora das noções e funções de subordinativa substantiva objetiva direta e outros mecanismos da microssintagmática, possíveis). Nessas transposições funcionais dos sintagmas predicativos autônomos, o “transponendo” (transposições funcionais dos sintagmas predicativos, exclusivas na macrossintagmática)  é a oração autônoma “ele está doente”; o “transpositor”  é a conjunção “que”, e o transposto, a oração “(que) ele está doente” – objetiva direta. O determinado (pronominal ou dêitico) é “que” (equivaleria a “isto”, para estabelecer a tal ambigüidade do aposto oracional seguinte: “ele está doente”), e o determinante corresponde ao transponendo “ele está doente”. Observe-se que, em retorno invisível, tanto na criatividade da frase, quanto na busca da cumplicidade da análise, esteve em questão um fenômeno envolvente, em ação permanente, como na concepção de acontecimento na localização que chamaremos de complexa (pois não é simples e cabe no contexto da teoria da complexidade, que defendemos), a Sindetonização, quer dos dois pontos, introduzindo diretamente a oração objetiva direta, quer da conjunção integrante (ou do determinado),  pois  o determinante, que é  o transponendo  “ele está  doente” (op. cit.), se subordina ao determinado “que”, o transpositor, portanto – e este caso inclui-se entre aqueles “casos de translação”, que são as localizações na concepção crítica do pensamento de Whitehead, ao mudar a localização simples, do que “se apresenta” para a noção de onde age”, na crítica ao chamado “sofisma da localização simples”, sem relacionar outras associações ao raciocínio de Whitehead, mesmo de Coseriu, de que falaremos na nota seguinte, 7.

                Mas, adiantaremos de Eugênio Coseriu o que ele chamava, em 1.956, na sua obra “Teoria del Lenguaje y Lingüística General”, o “erro de Whitehead”. O erro consiste em considerar que uma frase dada como exemplo é idêntica à pronunciada realmente (erro que ele mesmo critica em outros autores). Na realidade, tirada de seus contextos, a frase é outra: é o nome da frase real e implica uma transposição da linguagem primária à “metalinguagem” (ao falar sobre linguagem). Com ele (esse nome), não se quer dizer que não se hão de dar exemplos; mas que não se tem de lembrar que a frase exemplo é, precariamente, um nome como nos referimos àquela outra frase que significa uma multidão de contextos, assim como com a palavra árvore, falamos das árvores reais e não pretendemos que ela mesma seja verde e tenha folhagem espessa.

                Fica claro que se transversalizou na fala da observação crítica de Coseriu a essa passagem de Whitehead uma advertência ao fenômeno do perspectivismo: Edgar Morin assevera-nos que, no contexto da complexidade, toda transformação e transposição – esta admite-se – trata-se de uma outra coisa; a exemplo da linguagem como um meio na condição de possibilidade de uma prova, a polêmica se instaura na diversidade. A diversidade de Whitehead buscava um contexto lógico, admitindo variedades de ação e localização; só não configurava a simplicidade no raio das ações como duração plena. A diversidade na concepção de Coseriu, se centra na questão por excelência funcionalista da linguagem e, também, faz função na metalinguagem (quando se fala sobre a linguagem). Portanto, os dois argumentos apresentados falam de metapontos de vista diferentes, polêmicos, no entanto nenhum dos dois considera o princípio dialógico da complexidade ao fazer Sindetonização (relação de união ou convergência) entre o exóforo (situação externa ao texto) e o endóforo (contexto, interno, com estruturação de anáfora – anterioridade, prótase -, e catáfora – posterioridade, apódose). E ficou parecendo que o tema que se colocou na polêmica tem propósito no cotejo da palavra e o real (palavra de todas as realidades, inclusive lingüísticas e o real extralingüístico). A única ressalva é que esse chamado real extralingüístico, depois do recurso de Whitehead à Mecânica Quântica para firmar o conceito de acontecimento, está agindo, também, nas “orbitais de Bohr”, nas “probabilidades de Laplace” e de Einstein, no cerne do caráter transcendental da concepção de fenomenologia de Husserl, na “ocasião preensiva” do chamado “acontecimento” de Whitehead, que colabora com os “cones de Minkowski”, e tudo sob a hegeliana “astúcia da razão”, quando o assunto exige introduzir a noção de coerência! Covalidam-se, pois, as contribuições de Coseriu e de Whitehead sob a compreensão de que não houve plena interação no tecido interdisciplinar da perspectiva crítica do genial Coseriu, cuja contribuição pertinente se contextualiza em “Problema” (item a seguir) no contexto da Sindetonização, que não quer assegurar a defesa de qualquer argumento como sendo o “melhor” (inimigo do bom), nem tampouco pretende salvar qualquer instância de perspectiva, quando se pensa complexamente ainda em órbitas, nas esferas da candidatura da ética do pensamento, que nos exige, antes, como validade, a ética da resistência (a todas as premissas), ressalvada a “condição humana” e o que é necessário para assumi-la.

 

Problema

                Contudo, o problema desta comunicação não é a denominação, que o primeiro parágrafo já situou. O problema constitui, na ciência (filosófica, filológica, lingüística), estilística, na gramática, na estilística gramatical, na linguagem, na lógica, na matemática, na física, na química, na biologia, na cosmologia e nas demais áreas do saber, o “sofisma da localização simples” (que cabe ser corrigido na argumentação de Whitehead, em defesa da teoria do acontecimento) compreendido e aplicado na reflexão da linguagem, através do exame gramatical. O ponto de partida se desenha na pergunta “o que é um conectivo?”, que envolve necessariamente uma outra pergunta  “quais são os conectivos?”. Para essa última indagação, a resposta se resume a esta: - minimamente, os conectivos se resumem a - conjunções, pronomes (indefinido; interrogativo; relativo), advérbios (na dupla atribuição de conjunção), preposições, locuções prepositivas, sinais de pontuação, “marcadores” de funções e entonações (os dois pontos – simples e parágrafo, na seqüência do mesmo discurso ou na mudança do discurso -; o ponto – simples e parágrafo -; a vírgula – simples, da mesma linha, e a “paragrafal”, que muda de linha e de gêneros do texto -; o ponto-e-vírgula – com a localização semântica do ponto, dos dois pontos e da vírgula –; o ponto de exclamação: da interjeição ao imperativo e à ênfase da intensidade da leitura ou da “gagueira” do modo de ler; o ponto de interrogação – e este quando roga pode instar, perguntando, e faculta o acúmulo do sinalizador de interrrogação-exclamação), recursos da seqüência sintagmática (parênteses; chaves; colchetes; travessões; reticências; aspas, a “grafemática”). Na grafemática em cotejo com a fonemática (especialmente a fonotática – inglês: “phonotactics” - ou estilística fônica), muitas questões, que já se alistaram neste contexto, se repetem em variados metapontos de vista; provocam situações e novos contextos sobre sinalizadores de entonação, que se revertem em fatores de significação. Parece que a Lingüística, como ciência da linguagem, da relação do signo verbal com o contexto – mais precisamente – estaria interessada numa polêmica da natureza do problema apresentado, como de resto em questões de sentido e produção de sentido: afinal, o problema deste trabalho vai além da apresentação. E, além da apresentação, coloca-se aonde ou onde? Nos campos visuais, auditivos, transcendentais, auto-eco-organizadores, imanentes, em campo do espaço-tempo, do espaço-objeto, na analogia ao campo de Higgs dentro dos “constituintes mínimos” dos prosodemas e suas variações fonêmicas, seja na ordem natural, seja na ordem intelectual, seja na ordem metafísica?...; há uma física da imanência e a quântica; que espaço da linguagem corresponderia, em suma, a um átomo e a um átimo? E essas indagações nos são pertinentes à questão que Alfred North Whitehead levanta na filosofia, na matemática, na lógica, como suscita o denominado “sofisma da localização simples” no seu reparo teórico, que passa da localização na aparência para a localização onde o objeto age; já que pode acontecer uma interpretação, especialmente no mecanismo de “transposição”, inserido na metodologia do funcionalismo (preferida por este trabalho porquanto tal metódica avança produtividade sobre a possibilidade da metódica formalista e estruturalista), mais precisamente, no nosso corte, na sintaxe funcional de Eugênio COSERIU (Cf. Coseriu,1969, 1980 e 1992)[5]. Então, efetivamente, não há ruptura estrutural entre a posição de Whitehead e a crítica de Coseriu. O que se verifica é apenas de um para outro autor uma diferença de recurso de modo não incompatível entre os princípios de ambos: o mundo lógico de Whitehead aproxima-se do mundo funcional de Coseriu. O sentido da interpretação selecionado é o de que, se não resolvemos uma questão, resta-nos o recurso interdisciplinar para nos induzir à complexidade operativa: a complexidade operativa quer ter o que fazer; move-se da ontologia à metafísica, sem exclusão de hipóteses que se aproveitem. Já que não se resolve a questão, resta localizar seu objeto, se não foi conseguido sequer o seu desenho: esse objeto estaria onde se apresenta, ou estaria em órbita, agindo?; ele é onde age, ou ele é onde está, ele se apresenta como um marcador sensorial de espaço (na relação micro ou macrossintagmática)? E onde ficam as partículas (os constituintes imediatos e “mínimos”?) que não se percebem por meio de marcadores grosseiros, como nas variações (de posições) de tons na comunicação, que provocam estados d’alma, e da comunicação não se sabe porquê? E as invisíveis relações de fenômenos expressionais na própria escrita, manifestadas pelas associações em cadeia de lembranças, que a leitura coineíza (lento processo da coineização nas mudanças lingüísticas até a coiné, que tem plural, pois atende a ordem das catálises não só na narrativa, mas também em todas as paralelas dos acontecimentos, na ordem do acontecimento, na perspectiva de Whitehead)?

                               

Objetivo

 

                O objetivo com que se intitulou este trabalho com o termo “Sindetonização”, a partir de “síndeton”, forma paralela de síndeto, seria atingir o significado ou o efeito de agir para conectar, ligar, fazer coesão (endóforo) de dois termos ou dois paradigmas ou dois sintagmas da língua numa perspectiva gramatical que abra na lingüística e na filologia um “espaço-acontecimento” para a alternativa a conectivos, com base nas conjunções (paradigma conjuntivo: neste contexto, tal paradigma não relaciona e junta apenas duas orações ou dois termos da oração, duas palavras, mas também une dois conjuntos de endóforo: anáfora e catáfora, e um exóforo com o endóforo), segundo Ingedore G. Koch (2005)[6]. Podem-se ainda unir, em geral, pródose e apódose, tanto na sentença, quanto no enunciado.

 

Perspectiva gramatical-lingüística-filológica/ Espaço-acontecimento/ conectivos/ conjunções (ainda enfoque teórico)

                A perspectiva gramatical antecipadora do trabalho da Língüística e reformuladora crítica ou analítica das tarefas de Filologia encontra inspiração na origem da arte de falar ou obra filosófica do pensamento voltado à linguagem e com ela. O modelo moderno deste conteúdo contém a Gramática Geral e Analítica (“Grammaire générale et raisonné”)[7] -  com os fundamentos  da arte de falar, explicados de um modo claro e natural, como as razões daquilo que é comum a todas as línguas e das principais diferenças nelas encontradas, de acordo com todo o caráter doutrinário que, em 1.660, encontra a expressão de Antoine Arnauld e de Claude Lancelot (Arnauld e Lancelot, 1969). Segue-se que a tarefa desses dois autores faz parte da divisão do trabalho pedagógico de Port-Royal (Cf. Gramática de Port-Royal, 2001). Este elegeu como finalidade  as razões daquilo que é comum a todas as línguas e as principais diferenças que aí se encontram. Na introdução de Michel Foucault[8] fica dito que essa gramática antecipou o trabalho da Língüística enquanto ciência da linguagem. Pela perspectiva filosófica episódica que vai de Bopp a Meillet, trata-se, tanto num autor quanto noutro, de uma referência a uma teoria dos signos. A análise da língua, nesse surto histórico, não passa de um caso particular. Entretanto, prevalece a pretensão de ler com clareza e compreender com facilidade todas as espécies de línguas.

 

                Ainda se procurou atualizar a concepção gramatical, tanto quanto possível, segundo trechos decisivos da Gramática Filosófica (“Philosophische Grammatik”), de Ludwig Josef Wittgenstein (1980). Continuam os problemas marcados pelo Tractatus.... Destacam-se os que relevam a forma geral da proposição e da relação da linguagem com o real. Sobressai o fato de que se constitui a gramática de uma determinada palavra com a noção de regra, de modo que a linguagem possa ser esclarecida por ela, e com a introdução da idéia da determinação das regras de utilização de uma palavra em proposições dotadas de sentido.

                Toma-se da filosofia e da matemática e da lógica a noção de acontecimento no texto de Alfred North Whitehead (1991)  – a fim de se emprestar à gramática, à lingüística e a filologia. O autor submete a noção de acontecimento à crítica do princípio denominado o “sofisma da localização simples”. Esse princípio assume que uma coisa está onde se encontra. O autor, porém, entende que uma coisa está em todo o lado onde age. Mas concebe-o pelo esquema do Laplace, matemático francês (Pierre Simon Laplace – 1.749-1.827, na obra Ensaio Filosófico sobre as Probabilidades). No esquema laplaciano do universo, a natureza nada mais é do que a matéria no espaço e no tempo.

                Para Whitehead, a entidade base da natureza é o acontecimento. Ele se lhe autoassegura um lugar no espaço e no tempo. Até o fim, o autor amplia a concepção do objeto: teoriza os objetos eternos, que são “essências qualitativas presentes no pensamento de Deus”. E Deus se cita como a necessária mediação entre a potencialidade dos objetos eternos e a atualidade dos acontecimentos temporais.

 

                A lingüística se limita a fazer o papel de acontecimento para seu objeto canônico: a relação entre o signo verbal e o contexto, buscando o sentido pleno.

 

                 A filologia, ventre da gramática e da lingüística, nasceu ampliada como examinadora dos textos literários e faz do seu objeto de estudo a “trindade finita”, na concepção de Edgar Morin – 11: o cérebro humano – a linguagem – a cultura; não estranha a história e suas contingências situacionais e as implicações interdisciplinares, para evoluir em direção à crítica textual, dado o seu respeito fim ao texto e a textologia.

 

                Nessa configuração gramatical, lingüístico-filológica, na filosófica concepção-acontecimento de Whitehead, agora cabe situar o problema dos conectivos face às conjunções e sob a noção de sindetonização. Pois sem essa noção não responderíamos por que contratar conectivos e, neles, as conjunções, as locuções conjuntivas, as preposições, os pronomes interrogativos (interrogação indireta), pronomes indefinidos, as entonações com indicativos sinalizadores ou imanentes intuições de herança cultural (“imprinting” ou “self-deception” – mentira sincera).

 

Conectivos de sindetonização – CS

 

CS1 – Conjunções coordenativas;

CS2 – Conjunções subordinativas;

CS3 – Conjunções correlativas: -CS3.1 – Coordenativas (?); - CS3.2 – Subordinativas;

CS4 – Locução conjuntiva: - CS4.1 – Coordenativa; - CS4.2 – Subordinativa;

CS5 – Locução prepositiva;

CS6 – Preposição: - CS6.1 – Essencial (propriamente dita); CS6.2 – Acidental;

CS7 – Pronome Indefinido;

CS8 – Pronome Interrogativo (na Interrogação Indireta);

CS9 – Pronomes Relativos;

CS10 – Semióticos (Semântica Lógica - ? -) – 8 - CS10.1 – Sinais de Pontuação; - CS10.2 – Sinais de Interferência;

             - CS10.3 – Sinais de Entonação; - CS10.4 – Sinais contextuais do entorno (entorno como exóforo – acontecimentos biossociais; entorno como endóforo – acontecimentos contextuais, do tipo de anáfora).

 

 

CS1 –  Conjunção Coordenativa

                A conjunção coordenativa liga dois termos ou duas orações, enfim, duas unidades micro ou macrossintagmáticas de função idêntica, seja na esfera sintática, seja na esfera morfossintática: e9.

 

CS1.1 – Aditiva: “e”:

                “Vimos tudo o que separa ética e política” (Esfera sintática: objeto direto “composto”; na esfera morfossintática, substantivos “objetivos diretos” ou completivos verbais). Se, contudo, pudermos ler “que a ética é separada da política”, esta aparece no lugar de separadora (ativa), e a ética, passiva, sofre a separação. No caso desse modelo de leitura, Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1964) tinha razão em não incluir a noção de aditiva na coordenação[9]. Seria somente o “e” uma cópula, um liame? No caso da inclusão de equivalência paradigmática no sintagma associativo “ética e política”, termos com a mesma função sintática, equivalentes em função: talvez em potência. Confiramos o enunciado moriniano (de Edgar Morin (2004), na obra Ética) – a seguir: “Ora, os tempos atuais reclamam a conjunção desses termos numa antropolítica que integre os imperativos da ética planetária”. Ora, “a conjunção”, que atende ao paradigma exóforo, filosófico e ético, da conjunção, associado à teoria da complexidade coordena os dois termos entre si: “ética e política”. Entretanto, o período como enunciado verbal da unidade do pensamento

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARNAULD, Antoine & LANCELOT, Claude. Grammaire générale et raisonné. Paris: Reduplications Paulet, 1.969 (com Introdução de Michel Foucault).

CÂMARA Jr., Joaquim Mattoso. Dispersos. Ed. nova, revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004: 57-61; 96-100; 166-170.

––––––. Dicionário de Filologia e Gramática Referente à Língua Portuguesa. 2ª ed. refundida. Rio de São Paulo: J. Ozon, 1.964.

COSERIU, Eugênio.  Lições de lingüística geral. Tradução do Prof. Evanildo Bechara do italiano Lezione di linguistica generale. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980

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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3ª ed. totalmente revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

Gramática de Port-Royal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2.001: IX-XXXIII; 1-5; 29-32; “Que o conhecimento daquilo que se passa em nosso espírito é necessário para compreender os fundamentos da Gramática; e que é disso que depende a diversidade das palavras que compõem o discurso”: 175-176; 178-218. (Tradução de Bruno Fregni Basetto, Henrique Graciano Murachco).

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WITTGENSTEIN, Ludwig Josef. Grammaire philosophique. Paris: Gallimard, 1.980 (tradução de A.-M. Lescourret).


 

[1] A obra previne a barbárie, já na via da desumanização da Europa: ia conhecer o fascismo e o nazismo. Seu nascimento espiritual data da Grécia dos séculos IV e III a. C. A Europa de Husserl preteriu a agrimensura à geometria. Elevou as tarefas infinitas, com base na razão da humanidade. Husserl sublinha a responsabilidade da ciência nessa crise, nesse mal-estar. O sentido da existência cede espaço à singularidade da concepção galilaica de ciência, com prioridade ao objetivismo ficisista e as idealidades matemáticas sobre o mundo-da-vida (Lebenwelt). A razão, agora tratada como instrumento, sofre de um esvaziamento do seu sentido, ou reduz-se num espaço que concorre com a conjunção dos paradigmas do pensamento, do espiritual. A alternativa da fenomenologia, curativa, para esse mal consistia na proposta de renovar o ideal grego e reativar um sentido da história, nas manifestações do pensamento: o pensamento da fenomenologia busca reconciliar o homem consigo mesmo, na base do termo de afrontamento entre o objetivismo da visão de mundo do ficisismo ou da linguagem da física afirmada, de direito, como a linguagem de toda a ciência, e o subjetivismo transcendental; resulta desse afrontamento face ao desejo reconciliador da fenomenologia, seu fato de ser uma filosofia do cogito, visto que o ego se descobre origem de todo o sentido, com o mundo recolocado no horizonte da vida subjetiva. A fenomenologia amplia-se para filosofia da história: retorna às próprias coisas, e não é outra a razão do reaparecimento da gramática do modelo de Port-Royal, antecipando o advento da lingüística. A conjunção do pensamento se faz entre dois paradigmas históricos: do mundo da vida e do mundo do espírito; o mundo da ciência com carne, visível, e o mundo do invisível. A conjunção dos dois mundos vem reivindicada na tese da “Sindetonização”. Afinal, antes de se unirem duas orações, dois contextos lingüísticos, discursivos, textuais, hão de se unir duas visões de mundo (Weltanschauung). Alia-se no signo ecológico e no paradigma da complexidade; fragmenta-se no signo do espetáculo do sofrimento do outro e no paradigma da simplicidade.

[2] O momento e a energia são componentes vetoriais que definem o átomo (lugar) de espaço-tempo. A tal átomo é que a epistemologia atribui a mônada leibniziana, cujas percepções tornam-se as preensões do acontecimento. Essa idéia de preensão se introduz como compreensão do mundo, da maneira como Husserl concebe que o mundo nos é dado sem nunca nos ser completamente entregue. Na seqüência, Whitehead historia a teoria mecanicista. Nela mostra que a relatividade generalizada de Einstein não faz mais do que levar às conseqüências extremas o princípio da inércia estabelecido por Galileu. Ainda o autor expõe de maneira completa a teoria da mecânica quântica. Nesta retoma a tese de uma periodicidade em epiciclos sobre as “órbitas de Bohr”. Em tal contexto, Whitehead defende isto: a idéia que à ondulação cinética se junta uma ondulação estrutural (como ao curso do fonema e do semema e do paradigma num sintagma se junta uma seqüência estrutural), e a noção de “oscilador acontecimental de campo”. Os “cones de Minkowski” vão servir para desenvolver a noção de acontecimento. Os citados cones introduzem o conceito de “ocasião preensiva”.

[3]  Ressalva-se a tese do “determinismo absoluto”. Laplace aplica aos problemas sociais a sua teoria das probabilidades: repara as lacunas dos nossos conhecimentos. O extra-humano, “o demônio do Newton francês” está na inteligência. Tem a mesma capacidade de conhecer, em relação a qualquer partícula do universo. Vai além da posição de cada instante e soma o conjunto das forças que agem sobre ela. A probabilidade se define como uma fração cujo numerador é o número de casos favoráveis, e o denominador, o número de todos os casos possíveis. Essa idéia de possibilidade em Laplace põe-no em contradição ao caráter absoluto do da sua concepção de determinismo, pois se flexibiliza para a questão social e para pontos da teoria da complexidade.

[4] A coordenação é o ponto de partida, mesmo a coordenação por correlação, com enunciados autônomos, com que Mattoso Câmara Jr. marca sua proposta de sintaxe com a teoria sintagmática de Francis Mikus, resenhada pelo próprio Mattoso em sua “Crônica lingüística – a teoria sintagmática de Mikus”, inserida nos Dispersos, p. 62-67: “essa teoria reveste-se de capital importância para que se compreendam aspectos básicos da sintaxe mattosiana; a base mais explícita é o texto mais abrangente do ensaio intitulado “Quelle est en fin de compte la structure-type du langage?”, cujas idéias essenciais se resumiram no ensaio ou no simpático artigo de Kehdi).

[5] Algumas bases de citação: Sechehaye y Br/ondal – Linguagem e Lógica (fala, propriamente dita: impulso pré-língua X língua; daí, “fala organizada”distingue língua, sistemas estáticos de línguas como evolução...); mais algumas bases de autores: Delacroix/ Bühler; K./ N. Trubetzkoy; B. Croce; Vossler; Otto Jespersen; W. Von Wartuburg; G. Bestoni; Hjelmslev, L.; Bertil Malmberg; André Martinet; G. Bertoni; L. Hjelmslev... no conjunto, trata-se de Fonologia como fonética funcional; como ponto nodal sustenta-se a insuficiência da Dicotomia Saussureana; propõe-se fazer a separação entre o social e o individual (p.43 e segs.); p. 72/73: sistema – norma – fala; - p. 83 e segs.: distinção entre norma e sistema (Porzig, W.; Hugo Schuchardt; Brevier; na prevalência do social: Edward Sapir, p. 236 e segs.; na concepção do  significado do significado, salientando a comunicação fática: Ogden, C. K. & Richards, Ivor Amstrong; (obras complementares mais usadas: PAGLIARO, A. Lógica e Gramática, 1.952; CARNAP, R. A Lógica Sintática da Língua (p. 247: Categorias verbais não convencionais; STENZEL, J. Filosofia da linguagem. Madrid, 1.935; Merlaeau-Ponty – enfoque fenomenológico, em referência; COSERIU, E. “transposições”, in: Sintaxe Funcional, parte da Lingüística Funcional. Cuida da chamada “Transposição Sintagmática” (“transpositor”; “transpostos”; “transpoendo”); p. 295: refere-se a A. Gardiner sobre o fenômeno da localização: seria uma manifestação implícita, tanto como suporte o “entorno”; ele entra junto com outras funções, como a própria localização como função; tal observação conta com um apoiador contexto precedente fundado na questão da énérgeia, quer a nível universal: dýnamis, ou a nível histórico: lingüística do texto, quer a nível do própria texto (p. 289 e segs.); na p. 296 e segs.: vê-se a distinção entre “virtual e atual”; - p. 306 e segs.: especificação distintiva; informativa; instrumental; identificadora; essas especificações têm como finalidade assegurar compreensão, seja a partir da sensação, seja além do significado, acrescido do plural dos nomes próprios; p. 310 e segs.: precisam-se as circunstâncias espaço-temporais; o significado categorial: de substantivo, para os pronomes substantivos, que não têm significação no léxico; cita-se e analisa-se de Karl Bühler a situação de manifestação psíquica e apelo, presa à própria intencionalidade da linguagem, que nos induz à Teoria do Campo Mostrativo: trata-se de uma alternativa da função representativa (segundo a concepção de analogia deste trabalho aproxima-se do questionado “sofisma da localização simples”, trabalhado com as restrições de Whitehead). Para Coseriu, p. 295 e segs., quando o conectivo não existe, não tem manifestação explícita, somente se dá implicitamente pelo entorno; assoma-se a função como localização; apesar de tudo, na reconsideração teórica de Pisani e de Humboldt e de outros tipos de perspectiva historicista, explicitamente, Eugenio Coseriu admite a necessidade de uma nova gramática da fala (p. 287 e segs.). p. 311: alude a Bergson e Whitehead, até a p. 322 e segs.; posiciona uma chamada confusão entre falar concreto e Língua Abstrata: o sentido se adquire no contexto; p. 321 e segs.: a Teoria da Linguagem reconhece as funções de todos os entornos, adequados a contribuir para eliminar certos vícios e os erros tão persistentes; na p. 313 e segs., o contexto pode ser: - idiomático (verbal e extraverbal); - e contexto físico (os entornos).

[6] A semiótica compreende-se a filiação à semântica lógica, cultivada, segundo Rudolf Carnap – 1.891-1.970, sobretudo, in: Introdução à Semântica – 1.942; Os Fundamentos Filosóficos da Física – 1.966 - , pelos lógicos do círculo de Viena, Hilbert, Ernst Cassirer, sobretudo, in: A Filosofia da Formas Simbólicas – 1.923, 1.925 e 1.929; Bertrand Russel, sobretudo, in: Significado e Verdade – 1.940, e Principia Mathematica – 1.910-1.913, com Alfred Noch Whitehead, na defesa da teoria do acontecimento, abrindo novas concepções de localização: não mais apenas simples, de aparência, mas de ação: do objeto por onde age.

[7] A semiótica compreende-se a filiação à semântica lógica, cultivada, segundo Rudolf Carnap – 1.891-1.970, sobretudo, in: Introdução à Semântica – 1.942; Os Fundamentos Filosóficos da Física – 1.966 - , pelos lógicos do círculo de Viena, Hilbert, Ernst Cassirer, sobretudo, in: A Filosofia da Formas Simbólicas – 1.923, 1.925 e 1.929; Bertrand Russel, sobretudo, in: Significado e Verdade – 1.940, e Principia Mathematica – 1.910-1.913, com Alfred Noch Whitehead, na defesa da teoria do acontecimento, abrindo novas concepções de localização: não mais apenas simples, de aparência, mas de ação: do objeto por onde age.

[8] A Conjunção Coordenativa Aditiva, a rigor, é esta: “e”; outras formas apresentam variações sociolingüísticas e analogia funcional ou desvio misto: - Comer arroz ele mais nós (GO ou Brasil Central: “mais” = “e”, e, ambiguamente, se indica a circunstância de companhia: esta não impede a verossimilhança adlativa – Lat. Allativus; Ing. Allative; Fr. Allatif -, indicativa de direção no caso do basco, do turco e de outras subunidades lingüísticas como essas, por exemplo: “comer juntos”, um em direção ao outro); “nem” (e não: misto de locução conjuntiva subtrativa de “e não” com os elementos formadores aglutinados, com caráter de correlação negativa, indica direcionar-se à negação, acrescida a uma outra negação): Um não foi, nem o outro se viu lá (há uma correlação, como na construção nem eu, nem você conquistamos – indica dupla exclusão ou duplo insucesso, um de cada voz como personagem – ocorrência de possível projeção discursiva; a locução conjuntiva “bem como” não afasta totalmente a direção ou localização de companhia: O  amigo, bem como o noivo vieram a cavalo (o amigo no cavalo dele, o noivo no cavalo da noiva – havia três personagens a cavalo, enfim; no contexto? Ou na operação lógica de quantificação da linguagem?); ainda em direção locucional conjuntiva de caráter correlativo, muito se usa a correlação aditiva: não só... mas também: Não só os sábios habitam o homem, mas também os dementes fazem acoplada sociedade no mesmo ser. Porém, tais variedades, procuraremos tratá-las em suas localizações taxinômicas próprias. Neste caso de ocorrência, fica nítido que “habitar o homem e fazer acoplada sociedade” equivalem-se; apresentam-se como duas orações correlacionadas entre si: coordenam-se aditivamente entre si.

                Enfim, é da “natureza” da conjunção, da operação de conceitos dentro do paradigma da conjunção, para o lingüista que acredita na equivalência entre a paradigmática e a sintagmática da língua, a exemplo do Mattoso Câmara Jr. (in: Dispersos), diferente de Francis Mikus (1.952: “Quelle est em fin de compte la structure-type du langage?”, in: Língua. Amsterdam, III [1]: 430-470, Feb. 1.952); para este último, a sintagmática teria mais importância, seria primordial na sintaxe ou superaria a sintagmática.

[9]  Não há na obra inteira um verbete sobre “aditiva”; no verbete do título, porém, no espaço de negação do “assíndeto”, sobre a coordenação, na língua portuguesa, lê-se que “coordenação” é indicada, fundamentalmente, pela copulativa e; complementarmente, as idéias gramaticais de - a) contraste, b) alternativa, c) conclusão, d) explicação – se indicam, respectivamente, como as conjunções: a) adversativas ( exs.: mas, porém,contudo, entretanto, todavia); b) alternativa (ex.: ou e as correlativas: já...já; ora...ora;  ou...ou; quer...quer; seja...seja); c) conclusivas (exs.: logo; ora – caráter interjetivo ou exclamativo; pois – posposto à forma verbal da oração em apódose; portanto, e a locução conjuntiva por conseguinte); d) explicativas (exs.: pois – antes da forma verbal -, porque, porquanto, que.