SOB A TEORIA DA COMPLEXIDADE,
PEIRCE E SAUSSUREA vez da Semiótica no seu nascedouro
 – tributo aos pais do assunto

Edson Sendin Magalhães (UGF e FEUDUC-RJ)

 

O tema se limita a um reestudo de Peirce, em torno do signo e alguma relação triádica e da semiose, e de Saussure, em torno do “Curso” e de alguma de suas relações tricotômicas.Queremos defender que a dicotomia regenera-se em policotomia possível!

Os princípios se modelizam pelo método de Morin, no contexto francês da Teoria da Complexidade. Toda a estratégia do trabalho parte da noção de relação unitrinitária contextulizada por Morin. Na linguagem, o método elege Jakobson e Chomsky - exemplos.

Todo o esforço da tese unitrinitária, triádica e tricotômica objetiva compreender a unidade para que converge cada tendência de trindade. A trindade se estende por um vetor multidimensional, genera e regenera vidas e estruturas. Evita reducionismos. E faz retorno.

As fontes básicas se resumem nos seis livros do Método, de Morin; no universo conexo dos Ensaios de Lingüística Geral, de Jakobson; na relação entre A Linguagem e o Pensamento, de Chomsky; nos Escritos sobre o Signo e nos Textos Fundamentais de Semiótica, de Peirce; e no Curso de Lingüística Geral, de Saussure.

No desenvolvimento da argumentação do ensaio, utiliza-se a provocação de Benveniste, de ultrapassar a noção de arbitrariedade do signo de Saussure. Coloca-se a necessidade na localização do signo imotivado. Defende-se a favor da tricotomia nas localizações das dicotomias aporéticas de Saussure. Questiona-se com Umberto Eco a possível inexistência da metalinguagem. Contudo, Coseriu restringe a ausência da metalinguagem em Whitehead. Este cria a teoria do acontecimento e permite-nos aplicá-la ao campo da linguagem; a lógica que Whitehead desenvolve critica e amplia a noção do “sofisma da localização simples”, de Laplace; para nós, aplica-se aos verbos da língua a proposição das componentes vetoriais (definidoras desse átomo de espaço-tempo, o momento e a energia), que a epistemologia confere aos atributos da mônada leibniziana; um lugar no espaço-tempo é marcado por onde age o objeto, o acontecimento por si mesmo ao invés da matéria como entidade base do universo de Laplace, nas suas Probabilidades; as percepções da mônada leibniziana, conferidas pela epistemologia, tornam-se as “preensões” do acontecimento. Whitehead, por essa idéia de preensão, se aproxima de Husserl: ela, a tal idéia, introduz a compreensão do mundo (que é dever ético em Morin: a linguagem para não falsificar os “imprints”, os sentimentos); a compreensão é dada, mas nunca se entrega completamente; Whitehead expõe a mecânica quântica; historia a teoria mecanicista; mostra a relatividade generalizada de Einstein; extrema o princípio de inércia estabelecido por Galileu; retoma na mecânica quântica a tese da periocidade epicíclica sobre as “órbitas de Bohr”: sustenta a idéia de que à ondulação cinética se junta uma ondulação estrutural; nociona um “oscilador acontecimental de campo” (assim procederá a sociolingüística de Labov: concebe as oscilações ou variações de estratos lingüísticos no campo social); a noção de acontecimento será aprofundada pelos “cones de Minkowski”, ao introduzirem o conceito de “ocasião preensiva” (leitura de conjunto de relações, como na gramática do discurso, do texto); finalmente, conectando Whitehead com a complexidade, Morin, com Peirce e Saussure, e concebendo a linguagem como um conjunto de relações formalizadas na língua, nos seus estratos estruturais, podemos ampliar, conclusivamente a conceptualização de signo para além da possível proposição de Benveniste; abre-se a razão pelo processo do princípio da dialógica moriniana, localiza-se o objeto sígnico e semiótico língua como semiose de um feixe de convergentes relações conjunturais, num possível e compossível universo em expansão essencial, necessária e lingüística (não arbitrária!).           

 

.O QUE SERIA TEORIZAR A APROXIMAÇÃO DE PEIRCE E SAUSSURE?      

Ao contrário da einsteiniana teoria da relatividade, que se afastava da hipótese da existência da contemporaneidade, a moriniana Teoria da Complexidade adota a noção de contemporaneidade entre os autores. No caso de Peirce e Saussure, por caminhos comuns e diferentes, esses autores atendem a princípios da complexidade.

 

Os princípios da complexidade, comuns, na multidimensionalidade

Preexistem três princípios: o da dialógica faz a identidade e a diferença; o da recursividade avança e retorna; o da hologramática faz o conjunto das relações em que prevalece com os dois princípios anteriores a relação unitrinitária. Da relação unitrinitária, o indivíduo, a espécie e a sociedade, decorre a trindade finita, cérebro humano, linguagem e cultura; um elemento nada é sem o outro; juntos, assumem a magnificência de suas potencialidades. E a possibilidade sobrepuja à improbabilidade.

Os autores escolhidos por Edgar Morin, no contexto francês da teoria da complexidade, nos estudos científicos da linguagem, de início, desde a obra de 1.973, O Paradigma da Complexidade, foram Roman Jakobson e seu aluno da universidade francesa de Nova York, Noam Chomsky. Ambos vêem no signo lingüístico a base dos fatos da ciência da linguagem. E apuram a partir do sentido a condição de possibilidade inevitável para as oposições e para os isolamentos do que acontece e é classificável lingüisticamente, assim como funcionam, fonêmica, sintática e semioticamente; esta circunstância já se projeta nas interações sociais – pragmática - de comunicação, código e mensagem.           

De Jakobson e Chomsky, retorna-se, portanto, pela linha semiótica à obra de Peirce e desta, à de Saussure. Num primeiro vislumbre de tendência racionalista e de pendor positivista, Saussure oporia os pares dicotômicos para estabelecer uma semiótica lingüística, e esta se tece em todos os estratos das línguas comuns aos lingüistas.

Noutros acervos de perspectivas, já mencionados, a desconfiança da unidade na diversidade lingüística é a grande questão interativa, com que se depara  Émile Benveniste, o lingüista do confronto do sujeito no caso genitivo (de predicado) armênio e irânico, persa oriental e dos dialetos ocidentais, para buscar também a unidade do tronco indo-europeu nesses acontecimentos. E a unidade estaria no predicado e na modalidade de perfeito passivo do latim, efetivamente. Com essa precedente disposição para encontrar unidade nas diferentes modalidades de incursão funcional nas línguas, atento às diferenças de forma e identidade de substância, entre elas, em Peirce, percebe o pendor para a questão de unidade nas relações triádicas do signo, o ícone, o índice e o símbolo. E cada um elemento vai estender outras relações de acordo com a localização do referido signo em relação a outro referente e à referência, seja em sentido do objeto, do comentário (rema) e do próprio signo, que se faz reflexiva. E, para nós, analogamente, Saussure unitrinitário e triádico se aproxima do nosso objetivo de unidade na diversidade, Senão o vejamos sob esse ângulo. Primeiramente, é o próprio Saussure quem anuncia os seres lingüísticos, e as relações-base.

 

Saussure unitrinitário e triádico, pensador da unidade

Em Saussure também se triangulam claramente os “seres lingüísticos” (signo, palavra, frase), em princípio; porém, este genial lingüista e pensador complexifica a analítica de cada ser lingüístico e de seus pontos de vista, na compreensão das suas arranjadas ou eleitas dicotomias com recorrência a um terceiro elemento, carente de declaração taxionômica (sua trindade lingüística: uma já não clara tricotomia submetida a um dicotomismo, aparente, como acrítica concepção laplaciana[1] do universo)? Agora, relacionemos ou aproximemos esses conectores e seus métodos básicos:

. peirciana relação triádica básica: ícone – índice – símbolo; . saussureano ser lingüístico básico é um resultante e não isolado (dialógico, recursivo e hologramático), dentre os três: signo – palavra – frase – (2ª. característica do Curso); . moriniana relação unitrinitária básica: indivíduo – espécie – sociedade. Surge aqui a mínima possibilidade de correspondência de princípios, ainda que grosseira a ser afinada, entre a “trindade finita” de Morin (cérebro humano, linguagem, cultura), a taxionomia do signo pelos pontos de vista de sua localização ou relação em Peirce (qualisigno, sinsigno, legisigno), de início, e seus desdobramentos, os (“operadores de conceito” por Saussure, na distinção entre língua, linguagem, fala ou, em outra seqüência sugestiva de ordem, língua, fala, linguagem – o autor assume essas expressões nos seu “Curso”).

E a ciência tem que fazer sua fragmentação e redução de campo; e a consciência tem que tentar fortalecer-se com a ampliação  da  ciência  com consciência decidida  e  aberta dialogicamente,   com  força  no Método.  A maior complicação  está mesmo nas chamadas dicotomias de Saussure  que têm um terceiro elemento imanente – como já o apontamos, em dois momentos do Curso  –  ou  de  implicação  -  (o  filosófico  ou  metafísico);  senão vejamos: - língua e fala (discurso) têm a linguagem como faculdade...; - diacronia e sincronia contam com a pancronia (e Saussure não usou esse termo; apenas sugeriu o seu conteúdo: o dinamarquês L. Hjelmslev teria substituído por “expressão” o termo significante de Saussure e por “conteúdo”, o significado; e o nosso emprego de conteúdo aqui foi no rastro[2] de Hjelmslev, 1.943); sem  o  “conteúdo”  de  pancronia,   o  curso   de evolução da língua não teria estágios de encontros, de amálgamas idiosincrônicos transcendidos por um estudo da língua, as formas não se estabeleceriam, não se definiriam os adstratos de línguas ou suas localizações (onde agem), como nas formas concorrentes, de modo a uma vir a ganhar mais prestígio que a outra: estágio do superestrato e substrato; a semiótica nunca seria plenamente, então, lingüística; - paradigma e sintagma ou sintagma vertical e sintagma horizontal encontram-se no terceiro elemento aglutinador ou possibilitador, ou com a própria aglutinação, que é a sintática (a gramática); sem esta nunca se cruzariam os dois arranjos da linguagem (seleção e combinação): se o paradigma é a possibilidade vertical, apotêmica, em princípio, e o sintagma, mais precisamente o horizontal, a compossibilidade, a localização que faz função possibilitadora, sintática, mostra o objeto onde age ou por onde age (na noção de acontecimento de Whitehead, 1.925). Queremos, concludentemente, dizer que as dicotomias saussureanas, de pretensão objetivista e puramente ontológica, na sua epistemologia, podem ser afrontadas, nesta perspectiva da tese deste trabalho, com a frágil perspectiva da complexidade, da ciência com consciência, do triunfo da fraqueza ampliadora da metafísica sobre a fortaleza redutora do exemplo da lógica de Port-Royal[3], já assim antevista por Foucault, embora esta seja indispensável – e temos que aprender a fazer coexistirem as diferenças metodológicas na unidade da vida humana (mundo da ciência com o mundo da vida) a se ilustrarem num terceiro componente dessas relações: o mundo possível; para tanto, neste instante, juntam-se Peirce, Saussure e Morin, apóia-se essa aproximação – espera-se produtiva - num triangulável ou terceirizável elemento, a compossibilidade, em qualquer probabilidade positiva ou negativa, embora a comprovação da analítica deste discurso vá-se adiar com seus tópicos de subclassificações de exemplos de ocorrência na língua portuguesa, por motivo de questões circunstanciais: estas exigem a elaboração de um tratado para se justificarem face ao trabalho proposto nesta tese (por isso, tal tópico foi subtitulado “entorno ou tese”). Assim, fica aberta a via da Lingüística para a comunicação, como tem que ser o desejo de todos os lingüistas e semióticos, sob o princípio de Beethoven implicado por Morin, como a necessidade complementar,  embora antagônica,  de aceitar  e rejeitar   o mundo:  Muss es sein? Es mus sein! (Será que isso pode/ deve ser? – Isso pode/ deve ser!). Tem que ser a proteção da ciência e a proteção dos animais de abate, contra os sofrimentos infligidos a todos sob um método procedimental, de modo que não se obste  o  progresso  ou  curso  da  ciência   e  do  pensamento,    nem   se   estimule   a    sua desumanização despropositada. Há também implícito um forte desejo de que a lógica, ameaçadora, não injustice a rica variação da estilística de uma língua, a fim de não empobrecer sua potência disponível a sofismar localizações complexas e hipercomplexas para seus objetos de expressão e conceituação e suas possibilidades heurísticas, de abdução combinatória.

Introduz-se neste trabalho, transdisciplinarmente, a Teoria da Complexidade, especialmente no contexto francês de Edgar Morin. À guisa de introdução, no assunto da linguagem, no contexto da sua ciência, a Teoria da Complexidade faz suas próprias orbitais (problema da unidade na multiplicidade de base tridimensional de seres e espécies) gravitarem nas e pelas questões em Roman Jakobson (in: Ensaios de Lingüística Geral, de 1.963-1.973 - 1.973, nove anos antes do seu falecimento aos 86 anos de idade)[4] e seu discípulo Noam Chomsky (n. 1.928: de início, posiciona-se na consideração de que ambos seguem a disposição conceitual do signo de Peirce, criador da semiótica, e de Saussure que estabeleceu a semiótica lingüística, propriamente)[5].

Roman nesses ensaios reflete os seus interesses variados no interior da reflexão sobre a linguagem. Relaciona o interior com as questões exteriores. Evocam-se problemas básicos. Esses problemas se põem na lingüística geral, estrutural, na fonologia, na gramática (regras, leis), na semântica (com a lógica e a razão do funcionamento, com relação social), na retórica (textualidade com questões de hermenêutica e produção...), na poética (na comunicação possibilitada nas funções da linguagem).

O geral interesse de Jakobson ultrapassa o possível caráter reducionista  da  lingüística (fechada, pretensamente pura, apenas interna ou somente descritiva): abre-se a questões que se estendem interdisciplinarmente ao lado de outras codificações, tipologias ou ramos da ciência, quer ciência natural,  quer ciência humana, enfrentando, com efeito, o problema da unidade (universal) na multiplicidade dos elementos formadores. O fator interdisciplinar é que inspirará a nossa transdisciplinar conexão com métodos afeitos ao comportamento epistemológico da Teoria da Complexidade, segundo o modelo de Edgar Morin, nos seus seis volumes do Método. A complexidade elege (ou só enfrenta) os objetos da multiplicidade dos seres e das espécies, e não se reduz a uma única ou simples perspectiva ou área; prefere ampliar-se em equações de problemas pela frente e em suas órbitas a seguir pelos espaços que escamotearam as ondulações e a ocasião preensiva, que fragmentaram a concepção de localização a reduzi-la a um pobre modo de aparência, de modo a negar, falsa e cegamente, a movimentação do estar onde e por onde o objeto age, nas mais variadas direções, por onde o próprio caos possível não há de negar peremptoriamente a dialógica existente entre a entropia (relações de troca com acidentais perdas) e a neguentropia (relações de troca de potência, de regeneração sem o mesmo saldo das perdas indesejáveis). O amor com ética, por exemplo, localiza-se nessa fronteira (ou aproximação) de orbitais, com o máximo de regeneração, com o máximo de resistência, com o máximo de perdão sob a ética da compaixão: expressa-o a língua?

O objetivo deste trabalho se resumiria a cumprir a básica programação da obra de (3) Peirce e de (4) Saussure, tanto quanto possível sob as questões enumeradas.

A estratégia limita-se a considerar minimamente três obras em forma de três textos, que compactamos, de apoio, na argumentação que oportuniza básica e transdisciplinarmente a Teoria da Complexidade (5), como perspectiva predominante e como via de acesso aos caracteres relacionais e dialógicos: - de Charles Sanders Peirce (lógico americano: 1.839-1.914), em (3.1) Textos Fundamentais de Semiótica (1.978), e em (3.2) Escritos sobre o Signo (1.978); e – de Ferdinand de Saussure (lingüista suíço: 1.857-1.913), em (4) Curso de Lingüística Geral (1.916).

Desenvolvem-se as questões pela ordem de enumeração, dispostas desta maneira cronológica, de Peirce para Saussure, de um sábio genial que nasceu primeiro e morreu depois do outro. Este, sempre mais jovem do que Peirce, cede suas  dicotomias  a  favor  da unitrinitariedade da relação entre signo, palavra, frase, contudo não anuncia essa façanha teórica; já Peirce assume na pretensa oposição ao princípio da intuição de Descartes a ação, que não tem força para negar o caráter inato da aptidão e da competência do ator da linguagem. O princípio da ação sobre a intuição não evitará, no caso mais preciso, no primeiro artigo dos Textos fundamentais de Semiótica, de Peirce, este sentencia que “as concepções têm como função reduzir o múltiplo das impressões à unidade”; por trás dessa sentença, nos Escritos sobre o Signo, a base das relações triádicas do signo (ícone – indício ou índice – símbolo) começa-se a abrir funcionalmente em  qualisigno - sinsigno – legisigno, cuja aptidão é de origem inata (a própria ação, no que tem de imanente, não evita de todo a propriedade inata da matéria em sua origem ou na origem de seus componentes – marca nossa).

Em conclusão, a Teoria da Complexidade e ambos os autores, pais da Semiótica – se nos for permitida a expressão -, não abandonam a tese de que a Grammaire já havia antecipado, no século XVII, a lingüística como ciência do século XX: na segunda edição da Gramática de Port-Royal (“Rasonnée”), aparece essa nota evidenciada por Foucault – 6 -, na citada obra de Arnauld e Lancelot – 7-; essa obra se estrutura sob uma visão de mundo cartesiana; na segunda parte, vincula-se a categoria do entorno, em nome do chamado “estado de espírito” (da situação) e do contexto (o argumento textualizado). Como terminologia, “entorno” (para situação, exóforo) e o “contexto” (para o endóforo), enquanto categorias, aparecem, mais tarde, em E. Coseriu (8).

 

Aplicação dos conteúdos do título

I – Em Peirce – 3.1 - (1.987), quatro artigos, escritos em 1.867 e 1.868, “fundamentados” metafisicamente enumeram-se:

-1º.- “De uma nova lista de Categorias” (reduzir o múltiplo das impressões à unidade); e, em gradação, vêm os universais concebidos como

-2º.- unificação da primeira e do múltiplo a que ela se aplica, e assim em seguida;

-3º.- fiel a Aristóteles e a Kant, Peirce opõe-se a Descartes neste e no quarto artigo, intitulados   –   “Questões  Respeitantes  a certas  Faculdades  atribuídas  ao  Homem”  e

-4º.- “De algumas Conseqüências de Quatro Incapacidades”; o autor, em subtítulos como “Fundamentos da Validade das Leis da Lógica: Outras Conseqüências de Quatro Incapacidades”, desnuda a origem da validade das leis da lógica; Peirce compreende como  “lógica”  tanto  a teoria da dedução  quanto  as teorias  da indução  e  da   hipótese científicas, pois a base do método científico corresponde à semiose (localização do feixe de convergência dos signos), na concepção do autor, considerado o “pai da Semiótica”.

I. 1 – Acrescentam-se, necessariamente, os Escritos sobre o Signo – 1.978 – 3.2 - (extratos de Collected Papers, 1.931-1.958), em que Peirce, continuando os trabalhos do lógico Boole, criou uma teoria dos signos ou semiótica; ligou-a a três categorias fenomenológicas, que o criador teórico chamou de faneroscópicas; corresponde cada uma a um tipo de representação: para ligar essas categorias umas às outras, Peirce também funda a lógica das relações, que o permite. Assim, distingue-se o ícone, o indício (índice) e o símbolo. Uma imagem síntese da localização de uma época, de uma era ou uma concepção universal, como o muro de Berlim e sua derrubada, também, iconiza (como se fosse uma onomatopéia, dos choros, dos gritos de sofrimento, de paixão e de saudade da separação, da perda de um ente querido) a validez da contradição humana, em sua decisão instável; um defluxo nasal pode ser caminho para o sintoma do resfriado, que se indiciaria com a constância do incômodo idêntico e até acrescido de febre; a linguagem bem usada e o direito simbolizam a defesa da integridade legal do cidadão, assim como a religião, a fé e a ciência a partir de Deus e da metafísica.

II – Em (4) Saussure (1.916: edição portuguesa de 1.995), o Curso de Lingüística Geral estrutura-se em seis declarações que indiciam preocupação de formalizar a hipótese de um projeto de ciência da linguagem – Lingüística. Cada declaração dessas será apresentada como uma das seis características que definem o Curso de Saussure:

- A primeira característica aparenta a linguagem como um sistema formal. Dele parte um certo número de regras que podem ser enunciadas (manifestadas). Todo o Curso cabe nessa característica.

- A segunda característica demonstra (como relação triádica, triangulável, unitrinitária) um ser lingüístico (signo, palavra, frase);  destituído de natureza própria; é triplo seu suporte (mas cada ser isoladamente nada suporta): o que suporta ou substancializa é o conjunto das relações (como na “lógica das relações”, armada por Peirce), apesar do autor cegá-lo com a sentença de que a “língua é conjunto de relações sem suporte” (entenda-se que a língua nada suporta sem a fala e a linguagem, mas o conjunto suporta cada “ser” ou sua representação sígnico-semiótica ou de semiose peirceana, apenas); a língua só tem natureza no conjunto das relações (matéria e forma, agindo no espaço substancial, como em Peirce com a “ação de origem inata” contraposta à “intuição” cartesiana – parênteses nossos); e parece que Saussure, embora mais jovem, não conhecia a obra de Peirce com todos esses detalhes, nem por Peirce detalhadamente era conhecida a obra de Saussure também, embora ambos tivessem usado fontes muito semelhantes e até iguais, com convergências de aplicação efetiva. E parece que no “conjunto das relações” o cérebro de Saussure definirá posições (localizações). Estas predominam em relação aos seres lingüísticos (signo, palavra, frase: a unitrinitariedade lingüística de Saussure, que se antecipa e se sobrepõe à noção de dicotomia; esta se relega à questão metódica, estrita ou contraditória: eis a aporia saussureana), que se definem no conjunto das posições, em possível conformidade a dois eixos: o vertical dos possíveis (paradigma: a possibilidade do “apótema” – segmento da perpendicular baixada do centro de um polígono regular sobre um lado - semiótico da geometria lógica de Saussure), e o eixo (pode ser lado) horizontal dos compossíveis (sintagma); as relações desses dois eixos se precisam na exclusão mútua. A operação de escolha (correspondente à noção de seleção em Jakobson) é como da proferição lingüística; o signo é escolhido (selecionado) entre uma lista de infinita possibilidade e conforme a sucessão linear com outros signos (na condição de paradigmas, metafóricos ou substituíveis, que, no arranjo de combinação da linguagem, dos compossíveis, se associam a formar sintagma horizontal, metonímico - parênteses nossos). E o sentido vai depender também dessas relações; nenhum termo tem em si fechado um sentido: a palavra só encontra sentido nas relações de compatibilidade ou de exclusão que mantém definidamente com outras palavras (de signo e frase). Então, o seu sentido migra para si como produto das relações, mas não é necessariamente seu (na língua, com essas suas relações, por exemplo, “nunca é tão sedante/ falar de seda/, quanto a palavra seda”, que, além de sedosa ou de expressar essa lisura delicada aos sentidos finos, seda – como sedativo - os mesmos seres sensíveis – é numa só localização qualidade, sistema e lei – na perspectiva de Peirce, as relações se incorporam em qualisigno, sinsigno e legisigno). O sentido somente é. O sentido não preexiste à palavra e suas relações; é efetivamente uma resultante de todos esses fatores, toda essa ação, relações. A falta de suporte nas relações que definem a língua diz respeito à fala do caráter negativo – ou relativo – das propriedades da linguagem (faculdade da fala, percebida no uso da expressão articulada com palavra ou escrita para a comunicação entre as pessoas). Em suma, na conformidade de uma linha (um limite vertical, perpendicular, um apótema de Saussure – hipótese nossa, se for aceitável pelas perspectivas que não desenham cones, por exemplo, os “cones de Minkowski”, que vão servir para desenvolver e aprofundar a noção de acontecimento, ao introduzir o conceito de “ocasião preensiva” – termos da Teoria do Acontecimento de 1.925, transpostos de Whitehead por J. Vuillemin – 1.971 – 9 -) paradigmática ou de (um limite no encontro ou na tangência do horizontal) uma sintagmática é que se desenvolve a linguagem. Assim como não haveria sentido e função possível no signo sem a palavra e, nesta, sem a frase: outra relação trinitária se estabelece na semiótica lingüística de Saussure, com frente, verso e lado: signo – palavra – frase. Câmara (1.975) – 9.1- via uma relação de equilíbrio entre paradigma e sintagma. E sem o apótema de Saussure, sem a complexidade, resta a aporia.

- A terceira característica opera a distinção entre: a) língua, b) a linguagem e c) a fala (outra relação unitrinitária de Saussure – parênteses nossos), donde:

a) produto social (a língua) – é conjunto de convenções necessárias entre os indivíduos usuários;

b) aparece (a linguagem) junta com o item “a”; os itens “a” e “b” se concedem diferentes entre si, pois o “b” é a faculdade adotada pelo corpo social, juntamente com a língua, a permitir o exercício nos indivíduos que buscam material para falar; os indivíduos não têm a permissão de criá-la ou modificá-la, porquanto enunciam a linguagem com a língua, que lhes é proferível: a língua preexiste, pois, o indivíduo falante-ouvinte;

c) é (a fala) o ato (a realizadora, atualizadora, atividade lingüística) do indivíduo, nas múltiplas (complexas) e infindáveis ocorrências de sua vida, como falante-ouvinte facultativo.  A faculdade da linguagem só se realiza na língua como resultado das interações relativas às convenções e às iniciativas (operação de necessária escolha e seleção de cada indivíduo). A necessidade seria voltada à finalidade do indivíduo ser compreendido no grupo social. Para tanto, ele deve referir-se ao que existe sob a sua intercessão; esta lhe é própria, implica modo de ser, estilo e outras variantes possíveis, desde que não prejudique a unidade inteligível, pois esta tem caráter coletivo e, muitas vezes, público.

- A quarta característica define a língua como sistema de signos. O signo combina significado e significante; é, portanto, uma combinação de um conceito com uma imagem acústica. Ora, o significado como faculdade corresponderia à linguagem, incorporaria o que Coseriu, meio século mais tarde, chama de “entorno” e outra categoria, o “contexto”, e a imagem acústica seria outra articulação da linguagem, como a língua, por exemplo; mas ambas dependeriam de um terceiro elemento também, que seria a fala, para se atualizarem ou se realizarem e saírem da condição de inutilidade social ou comunicacional. Então, o significado lingüístico tem que ser também social, uma mensagem a terceiro(s), para a qual é mister um terceiro elemento.

Com a combinatória dos elementos da significação, Saussure  faz compreender que o signo não une um nome e uma coisa: o significado é uma representação (substitui a coisa como na concepção de símbolo de Peirce), e o significante corresponde à “marca psíquica” dos sons (a marca semiótica dos fonemas).

Desse modo relacional (ou combinatório? – aglutinante?), Saussure inscreve uma ordem da linguagem independente de uma ordem do real (a teoria da complexidade é que se esforça em aproximar as duas ordens e evitar a maior aporia: que seria o argumento de uma ciência sem a frágil consciência); tudo, em Saussure, é já psíquico ou mental: o significado, ao invés de objeto real, dá a pista (o vestígio) psíquica que suscita em nós. Como não-motivados (representativos, “dêiticos”, talvez), os signos saussureanos trazem a noção de arbitrários; não se ligam materialmente com a realidade: a seqüência de sons  (por exemplo: /d/ - /o/ - /r/)  que lhe serve de significante arbitra em relação à idéia de dor, sensação desagradável, incômoda. Excetuam-se as onomatopéias (e incluiríamos conectivos – chamados noutro trabalho de “sindetonizadores” – 2.007 -, tipo de conectores, conjunções e outros). No caso das onomatopéias (como tique-taque < “tic-tac”), o som (já imitativo) “imita” a idéia e não existe nenhuma lei que ordene a correspondência de um tal som com o tal sentido; para nós, assim, análoga a essa tentativa onomatopéica, a implicada ambigüidade das conjunções, em vários exemplos possíveis, não tem exatidão de informação senão nas perspectivas com que se interpreta a ocorrência num contexto dado: o caso do “mas” adversativo passa a servir-se de inclusivo, aditivo ou acumulativo na perspectiva da lingüística textual, quando se trata de dar prosseguimento à matéria narrada (questão de coesão seqüencial da textualidade - parênteses nossos): nesse exemplo havia a lei, mas foi desacatada ou sofreu uma variante – ilógica[?].

- A quinta característica explica a sistematicidade da língua. Os seus termos se solidarizam. O valor de um resulta da presença ou da ausência dos outros (numa categoria que Madre Olívia – 1.979 - classificou como “quase simultaneidade”, na sua coleção de Exercícios de Análise Semântica – parênteses nossos, com o fito da ilustração). A condição para esse valor, em ausência (in absentia) consiste na capacidade da coexistência remeter os demais (asseguradores de localização com marca presente) para a relação paradigmática dos elementos lingüísticos entre eles.

Os valores sempre se constituem - “por uma escolha dessemelhante susceptível de ser substituída (comutada, trocada) por aquela cujo valor é a determinar; e por escolhas similares que se podem comparar com aquelas cujo valor está em causa”.

A linguagem, face à sistematicidade da língua, aos valores constituídos por presença ou ausência de termos, sob remissão de um aos demais e à finalidade da relação paradigmática dos elementos lingüísticos entre si, aparece como um sistema de elementos que se põem opondo-se e que se opõem pondo-se: é o que se chamou de um sistema de valores diacríticos (diferença peirceana de valores sinsígnicos, – como feições, aparências -, incorporados pelos valores qualisígnicos, e concluídos no símbolo, na substituição compensadora, nos valores simbólicos – nossos parênteses à guisa de interpretação).

-A sexta característica do Curso é a que opõe os pontos de vista sincrônico e o diacrônico (garantidos pelo caráter histórico da estrutura, segundo o ponto de vista de R. Barthes – 10 -, que aqui acatamos, em busca de esclarecimento; há também a admissão da perspectiva pancrônica, pela qual prevalecem o “continuum”, a extensão do princípio da “trindade” – cérebro humano, linguagem e cultura, conforme Morin, 1.973 – 11 -). Não se enuncia (exprime, propõe) a fala no tempo. A mais apropriada prova histórica de que um enunciado é uma proposta de atualização da língua num instante e num lugar determinados está na propriedade de proferimento da língua:  basta  dizer-se  que um enunciado de língua é sempre proferível. E exemplifica-se com a própria evolução de enunciados lingüísticos: se a Gramática de Port-Royal antecipa a lingüística como ciência da linguagem, segundo Foucault, no prefácio da 2. ed., o Curso de Lingüística Geral (F. de Saussure) funda, a rigor representativo, a lingüística, entre a gramática comparativa (A. Meillet – 12 – no princípio do século XX) e a gramática generativa (N. Chomsky, já citado, no meado do século XX).

Saussure, mesmo inserido no princípio da linearidade da linguagem, não concebe que esta se desenrola no tempo, como se fosse uma linha; entende – isso sim – o tempo como a própria substância da linguagem (o tempo significa o terceiro elemento da significação), da faculdade do ser lingüístico – signo – palavra - frase: este é que está, em última análise, em questão, quando se busca a significado, a relação do som e sentido; o tempo se marca pela ação – veja-se a potência do verbo num comentário ou rema; tal recurso ao tempo, em Saussure – já citado -, assemelha-se à escolha do princípio da ação com que Peirce – já citado - objeta o princípio da intuição em Descartes. Sob a ação da fala, genericamente, é que a língua evolui. Essa ação considerada sincronicamente, sobretudo, é tomada por mais fundamental do que a diacronia; a sincronia deve ser compreendida “como um conceito que permite a definição teórica de um sistema abstrato”; identifica-se, portanto, como o “estado da língua”. A pergunta que passa a animar a pesquisa lingüística aos seguidores de Saussure não seria o que é, mas em que estado se encontra, a língua?

 

Prevalece na conclusão saussureana a noção pancronia

Pancronia é a grande saída saussureana para o ano do –pan- no Brasil. A pancronia é um termo cunhado por Saussure (1.916) para designar, segundo Fernando Lázaro Carreter (1.967), um estudo da língua que transcenda os sistemas idiossincrônicos (que precisam e completam o termo sincronia: este não tem por objeto tudo o que é simultâneo, senão apenas o conjunto dos eixos correspondentes a cada língua, na chegada separação em dialetos e subdialetos) e que chegue a fixar as leis gerais da estrutura e do funcionamento do sistema abstrato da linguagem. Desta, os diferentes sistemas lingüísticos são só casos particulares.

 

A conclusão na “Idiossincronia” está com Eugenio Coseriu:

Na sua obra “Competência Lingüística – Elementos da teoria da fala”, Eugenio Coseriu (1.992) dedica um capítulo à teoria de Ferdinand de Saussure, seguida pela teoria da Noam Chomsky. A de Saussure aparece num destacado afã de conferir “primazia à Língua” (Op. cit., p.42 e segs.). Após o tópico da “Sincronia e Diacronia”, Coseriu logo propõe a Idiossincronia para, em seguida, examinar “uma lingüística do discurso” (da “parole”), que seria sugestivamente preparada pelo discípulo de Saussure, Albert Sechehaye, co-editor do “Cours”. Coseriu (ib., p.47-48) esclarece a investigação posterior a Saussure. Intencionou a estrita separação entre “langue e parole”. Nesse intento consiste, sobretudo, para nós, o ânimo da possibilidade de aplicar a noção do paradigma da complexidade de caráter conjuntivo. O paradigma conjuntivo favorece com mais clareza o objetivo desta tese que comunga o princípio moriniano de “Ciência com Consciência”: a ciência ganha em ética da compreensão, a humanidade sai ampliada com a ética da resistência, e a linguagem gramatical e filosófica amplia-se em possibilidades legais e estilísticas; todos os setores do pensamento se tornariam mais produtivos na direção dialógica ou interdisciplinar. E a compreensão, já mais ética, se expandiria nos cuidados sígnicos de não alienar o indivíduo humano no chamado “círculo vicioso”, transformado em virtuoso, e todos os humanos se concluiriam mais entrosados, mais motivados ao bem como não violência absoluta! Os estudos seguem, com lógica e aproximação humana e religação: a ciência reassumiria que nasceu da religião e do direito; evoluiria contra o simbólico puro e se representaria na integração das relações sociais em face da aplicação do imaginário instituinte (em diálogo com a história e todos os princípios da complexidade), criador e autocrítico, enriquecedor não só do mundo da vida e da ciência, mas também de mundos possíveis com corpos possíveis.

 

O objeto unitário como a tese e a conclusão

Se o unitário era a questão de Peirce na perspectiva de Benveniste, “para Saussure o objeto da lingüística tem, que ser unitário”, sob a perspectiva variada, expressa por Coseriu (Op. cit. p.47). A língua não é só sincronia (simultâneo na mesma língua), mas sintópica. Implicitamente, tem-se em conta, provavelmente, que há de ser sinestrática e sinfásica. A competência que se manifesta na fala é, por conseguinte, a língua funcional.

Saussure rechaça a maneira de considerar as coisas que se comprometam a comprovar situações gerais que afetem a todas as línguas particulares. Mas não deixou de incorporar em sua teoria esse catálogo da situação “pancrônica”; não é sincrônica, nem diacrônica, nem ao mesmo tempo sincrônica e diacrônica; de todas as formas, a pancronia se admite para princípios muito gerais, mas não para eixos lingüísticos concretos, embora sejam concretos os acontecimentos axífugos (tão concretos quanto humanos na língua e na ciência).

Segundo Saussure, pode-se decidir como tem que estar estruturada uma língua, em geral. Mas, as situações concretas e manifestas não se consideram de maneira pancrônica. Não se dispõe dela. O centro de interesse consiste em separar a “langue” da “parole”, a fim de que a lingüística descritiva tenha uma base firme como descrição da língua particular.

 

Conclusão

Infere-se do já foi dito e do que ficou insinuado e não dito por falta de espaço circunstancial que a tenacidade de Saussure, seus resvalos em terrenos de utopias e aporias, vêm a ser exatamente o drama do pensador da teoria da complexidade: não prescinde da perspectiva de sistema, do geral não fragmentário, pretende penetrar a descrição dos sistemas particulares, e a conexão constitui o grande problema cuja proposta da complexidade descobre na interdisciplinaridade uma alternativa, que tem sido produtiva, contextualizadora, interadora ou integradora: as diferenças se mantêm, mas entrevêem-se sentido da unidade tão necessária e não arbitrária; essa atitude de ciência com consciência pode acabar nos remetendo à via do retorno à unidade da substância do conteúdo de Hjelmslev, que seria o significado saussureano, não disjuntivo à noção da relação simbólica em Peirce. No conjunto moriniano faz-se o recurso ao passado, ao que ele tem de sempre, e o pensamento humano, já então ético se religa, se encontra com os assemelhados e com as origens religiosas e do direito, na sua expansão e nos seus limites!

 

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[1] Cf. p. 1: Ver (em Ref. Biblio.) em LAPLACE, Pierre Simon, marquês de, o “Newton de França”. Matemático francês (1.749-1.827). Ensaio filosófico sobre as probabilidades, 1.814. Serve de introdução à sua Teoria das Probabilidades. Ganha a cosmologia de Newton uma teoria física da formação do mundo: a probabilidade define-se como uma fração; o numerador é o número de casos favoráveis; e o denominador, o número de todos os casos possíveis. Laplace aplica essa teoria determinista em todo o conhecimento, inclusive nos problemas sociais, para reparar lacunas do conjunto de forças que agem sobre a sua localização, posição em cada instante. Interessa-nos, no caso, o foco neogramático – da escola que surgiu na Alemanha por volta de 1.875 - do suíço Saussure, para quem a analogia é fator normal na transformação lingüística. A exatidão e a rigidez das leis se apóiam num real da aparência. No início do século XX (1.925), Alfred Noch Whitehead, matemático, lógico e filósofo inglês (1.861-1.947), na sua obra A Ciência e o Mundo Moderno, influencia-nos na crítica da concepção laplaciana do universo, que se vincula à tese deste trabalho: denuncia o chamado “sofisma da localização simples”; conforme esse sofisma, uma coisa está onde se encontra. Para Whitehead, uma coisa está em todo o lado onde age; só tem um lugar no espaço e no tempo o acontecimento, por sua condição de entidade base, cujas percepções, como da mônada leibniziana, tornam-se as “preensões” do acontecimento e de suas implicações físicas, lógicas, filosóficas; para o esquema laplaciano, a natureza não passa da matéria no espaço no tempo.

[2] Cf. p 2: 1.943 HJELMSLEV, Louis (1.899-1.965). Prolégomènes a une Théorie du Langage. Paris: Minuit, 1971: 22 e segs. (Tradução: U. Canger e A. Wewer; a edição francesa anterior, famosa, é de 1.968: Paris: Minuit – tradução e revisão: Anne Marie Léonard). O autor procura a estrutura específica da linguagem; sublinha a importância da mútua função que o processo e o sistema contraem. Encontra, porém, a impossibilidade de descrever um processo sem recorrer à análise. A análise postula o conhecimento do sistema que faz a fundamentação teórica, por força da própria argumentação. Na argumentação, Hjelmslev vai introduzir as questões de “forma e substância” da expressão e do conteúdo. Em resumo, introduzimos a forma da expressão que estaria possibilitando a aparência, a parte física de um signo, a ação de manifestar o pensamento através da linguagem articulada, a fala a fim de produzir determinada impressão, por via até entonativa, no ouvinte, e de se concretizar o pensamento, mesmo que se apresente misturado com outros fatores expressivos (tendências, condição social do falante) e conscientes (entonação dada pelo falante para propositar estados de espírito). Enfim, qualquer enunciação lingüística tem função expressiva (ou emotiva), como função da linguagem ou da nossa faculdade de comunicação e organização social integradora, que tem acento de insistência. Vai um aspecto afetivo de que se reveste a linguagem para a sua tríplice relação enunciativa: - aquilo de que se fala; - o falante e; - o ouvinte. Até que ponto um som desperta em nosso cérebro aquilo que, em nossa reação, seja o que condiz foneticamente com os respectivos significados? Que impressão, por exemplo, nos causa A? Essa impressão determina uma associação com a imagem gravada do significado A. A imagem acústica também pode agradar ou desagradar; gera a imagem acústica ligada à impressão estética. A possibilidade dessa variação sensível abre-se para o fato subjetivo. O contexto apontará a carga expressiva de uma palavra, seja na condição estética, seja em outra manifestação de subjetividade, pois envolve qualquer mensagem lingüística. A forma lingüística, assim, é considerada como forma fonética provida de significação, por causa de sua expressão, cuja relação com a substância do conteúdo, ou substância do significado, toma o pensamento como massa amorfa. Em Je ne sui pas, Ich bin nicht, Não sou, a mesma substância está em formas diferentes, em francês, em alemão, em português. À semântica compete a relação entre forma e substância, no plano do conteúdo. A mesma relação, no plano da expressão, é objeto da fonética, ou melhor ainda, da fonologia. O significado, no plano do conteúdo, corresponde ao som, no plano da expressão. A forma do conteúdo, como forma do vocabulário, estrutura a abstração. Sob essa estrutura abstrata, sedimentam-se pensamentos e emoções indiferenciados, comuns aos usuários das línguas. Comparam-se pensamentos e emoções hipoteticamente a divisores comuns. Deles modelam-se as formas (sem as quais não se poderiam distinguir as substâncias da expressão). A forma do conteúdo ou do significado se concretiza na fala, tal qual o significado. A árvore pode manifestar-se de variadas maneiras, mas não se pensa a árvore senão como um vegetal, que, na língua, é uma entidade abstrata. Nessa condição, o vegetal [hiperônimo – classificação deste trabalho] é o máximo divisor comum das variadas formas de vegetal: tipos de árvore e de outras plantas que constituem a flora de uma região. O que nos faculta não confundir vegetal com outra palavra qualquer é, portanto, a substância do conteúdo.

[3] Cf. p.2: 1.660 ARNAULD, Antoine & LANCELOT, Claude. Gramática Geral e Analítica. Na segunda parte, enuncia possíveis “estados d’alma” que inferem na língua e nas representações lógicas (?).

[4] Cf. p. 3 – JAKOBSON, Roman (Lingüista russo,naturalizado americano: 1.896-1.982). “Ensaios de Lingüística Geral” (1.963 e 1.973). Trata-se de uma compilação de ensaios e de conferências, que se lê na edição francesa, numa excelente tradução de Nicolas Ruwet, in: Essais de linguistique générale. Paris: Minuit, vol. 1: Les fondations du langage, 1.963; vol. 2: Rapports internes et externes du langage, 1.973.

[5] . CHOMSKY, Noam (1.928)-[1.968: “Language and Mind”, A Linguagem e o Pensamento, in: Le Langage et la Pensée, 6. ed. trad. L.-J. Calvet. Paris: Payot, 1.990]. Como nos lingüistas gerais, está presente a constante preocupação saussureana das relações, mas as bases inovam. A “geração da linguagem” une os períodos da Lingüística, passado e presente. Interessa sobremodo ao autor a questão da “competência lingüística”, vista no seu “desempenho” (como mera utilização). Noam Chomsky precisa os fundamentos inatos do processo de aquisição da competência lingüística: esta designa uma capacidade de linguagem; é determinada geneticamente. Essa capacidade se nota numa combinatória de regras recursivas subjacentes. Na subjacência, elas definem uma gramática universal (matéria da linguagem e no código da língua da concepção de Saussure e uma diversidade de base triádica na unidade do signo de Peirce). Tal gramática, além de universal, permite, com suas regras subjacentes, a um indivíduo usuário adquirir uma língua, pelo desempenho.    Por Edson Sendin, UERJ/ RJ, outubro de 2.007.