A gramaticalização do item até

Christiana Lourenço Leal  (UFRJ)

 

Os estudos atuais sobre gramaticalização vêm mostrando que um mesmo item pode funcionar, em diferentes situações de uso, de diferentes formas, umas mais, outras menos gramaticais. Apoiando-nos nessa idéia, procuraremos discutir sincronicamente o processo evolutivo do item até, desde seu significado espacial, passando pelo temporal e adquirindo contornos textuais (operador argumentativo / marcador discursivo).

Nossa hipótese é a de que o item passa de +concreto a +abstrato, através de um processo metafórico, previsto pelos estudos sobre gramaticalização, inclusive perdendo, gradativamente, sua noção de limite, até zero.

Nessa escala metafórica unidirecional por que passa o item em questão, ao mudar de função é possível que sua classe também se altere. Logo, é comum que, em alguns exemplos, encontremos o até como uma preposição, em outros como um advérbio, ou ainda exercendo papel de conectivo oracional.

A partir daí, aparecem os exemplos em que o grupo “até que”, ora age como um grupo de fato, tradicionalmente classificado como locução conjuntiva, ora age separadamente (até + que), funcionando o até como um operador argumentativo e o que como um conector.

Nossa proposta é, portanto, a de discutir as transformações passadas pelo até e seus reflexos sobre a classe de palavras a que o item vai pertencer em cada um de seus usos. Acreditamos que, por se tratarem de classes bastante fronteiriças, poderemos comprovar que o uso define, inclusive, a postura que o item tomará em diferentes contextos.