A mudança na colocação pronominal
em infinitivas preposicionadas
do Português Clássico

Aroldo Leal de Andrade (UNICAMP)

 

A mudança na colocação de clíticos em Português tem sido muito estudada em orações independentes, um contexto em que se nota o predomínio da ênclise a partir do século XVIII (Galves, Britto e Paixão de Sousa, 2005). No entanto, o comportamento dos clíticos nas infinitivas preposicionadas não segue esse padrão geral. Com base em um levantamento feito em 24 textos presentes no Corpus Tycho Brahe, foram identificadas 2.968 sentenças, das quais 428 apresentaram  infinitivo pessoal. As sentenças com infinitivo pessoal foram excluídas da quantificação posterior, por não configurarem um contexto de variação: nelas, a próclise está sempre presente. Além da forma verbal, outros grupos de fatores estudados foram a função gramatical da oração infinitiva, a preposição introdutora e o clítico utilizado. Os resultados alcançados nos levaram a distinguir as orações introduzidas por 'a' das demais orações identificadas no corpus pois, enquanto aquelas passaram a um predomínio da ênclise no início do século XVII, as demais apresentam um quadro de variação mais amplo, que começa a se fazer presente com Francisco Manuel de Melo, autor nascido em 1628, chegando ao século XIX com uma variação com o predomínio da próclise. Alguns fatores extra-sintáticos foram identificados para a colocação de clíticos nesses contextos, como, durante o século XVI, a restrição à próclise do clítico 'a' em orações iniciadas pela preposição 'a', não extensível ao clítico 'o'. A análise tenta estabelecer algumas razões para as diferenças encontradas, nos vários contextos estudados.