Anáfora indireta:
um elemento de progressão referencial
no texto falado?

Carmen Elena das Chagas (UFF)

 

Sabendo que o quadro das anáforas indiretas é bastante complexo, visto que não só se podem constatar diferentes tipos, como também tipos mistos e casos limítrofes, estas anáforas podem funcionar como representações lingüísticas de complexidade sintática, semântica e conceitual extremamente variável. O processamento das mesmas depende da presença no contexto precedente de determinadas unidades ou estruturas cuja representação semântica e/ ou informações conceituais são relevantes para a sua interpretação e que podem ser denominadas “âncoras” (Schwarz, 2000). As anáforas indiretas são responsáveis pelos processos fundamentais de progressão textual através da introdução de novos referentes ou da retomada, proporcionando a continuidade referencial. Partindo da premissa de que as referências textuais são construídas no processo discursivo e de que muitos referentes são objetos-de-discurso construídos no modelo textual, este trabalho objetiva analisar casos de progressão referencial, a partir dos pressupostos teóricos da Lingüística Textual e da Análise do Discurso, tendo, assim,  como objeto de estudo um corpus oral proveniente de gravações feitas com alunos de  faixa etária aproximada, do 9º ano de escolaridade de uma escola pública municipal, onde se revela que mesmo inexistindo um vínculo de retomada direta entre uma anáfora indireta e o co-texto, persiste um vínculo coerente na continuidade temática que não compromete a compreensão. Assim, uma análise detida das características centrais da anáfora indireta mostra que ela não depende de uma congruência morfossintática e nem da necessidade de reativar referentes já explicitados.