As convenções lingüísticas:
axiologias do léxico

Maria Aparecida Barbosa (USP)

 

Examinamos aspectos da complexa organização de convenções lingüísticas e suas não menos complexas axiologias subjacentes. Partimos do princípio de que os grupos humanos reelaboram, segundo suas diferentes visões de mundo, os biofatos, os sociofatos, os psicofatos, os manufatos, gerando, assim, tantos universos antropo-culturais quantas forem as etnias consideradas. Este processo de redução/ampliação seletiva de traços caracterizadores dos `fatos naturais´, constitutivos da substância do conteúdo, denomina-se conceptualização (Pottier, Rastier, Greimas, Pais), que em última análise é o processo de conversão da `substância do conteúdo´ em `forma do conteúdo´. Neste patamar do percurso gerativo da enunciação de codificação e decodificação, tem-se um sistema muito bem organizado de conceitos, grandezas pré e trans-semióticas que, em etapa posterior, serão transformadas em signos. Formar é aqui entendido, pois, como processo de atribuição e supressão de valores e funções; de constituição de núcleos semânticos cognitivos que, muitas vezes, estão muito distantes da realidade fenomênica. Dos autores citados extraímos os modelos teóricos que sustentam as análises e descrições dos dados integrantes do corpus de análise: “ O mistério dos Piranhãs”, artigo na secção Ciência, da revista Veja (2007, ano 40, nº15, pag. 90). O autor refere-se a uma tribo indígena da Amazônia que não conhece os números e desafia as teorias sobre a formação dos idiomas (sic). As reflexões feitas sobre o artigo permitiram-nos chegar a um modelo geral de formalização das axiologias e a uma definição de língua muito precisa e densa: uma forma específica organizada entre duas substâncias, a do conteúdo e a da expressão.