As vogais nasais do português e a interpretação arquifonêmica
Elisa Battisti (UCS)
A noção de arquifonema, proposta pela fonologia do Círculo Lingüístico de Praga, é utilizada por Câmara Jr. (1953) na descrição da nasalização do português. Com ela o lingüista concilia o que chama de apuro fonético - a percepção da existência de uma consoante nasal pós-vocálica - a um “ponto de vista fonemicamente amplo” (p.92), que despreza a consoante nasal de travamento por não ter, nessas condições, valor distintivo. Câmara Jr. (1953, 1977, 1984), fiel aos postulados daquela escola, estabelece distinções em termos de oposições, o que o impede de propor a existência de vogais nasais em português - não há oposição entre vogal nasal e vogal mais consoante nasal - e acaba levando-o a resolver a questão pela constituição da sílaba. Essa proposta, embora contestada por alguns (Tláskal, 1980), tem inspirado diversas análises da nasalidade fonológica do português (Morais-Barbosa, 1962; Cagliari, 1970; Wetzels, 1988; Moraes e Wetzels, 1992; Battisti, 1997; Bisol, 1989, 2007), demonstração não só do pioneirismo, como também da adequação da análise de Câmara Jr., inspiração para gerações de lingüistas.