Clarice Lispector e a crônica de viagem

Fátima Cristina Dias Rocha (UERJ)

 

Clarice Lispector viveu quinze anos fora do Brasil, de 1944 a 1959. Das diversas cidades em que residiu – Nápoles, Berna, Torquay e Whashington – e dos diferentes lugares que visitou – Lisboa, Argel, Florença, Cairo, Paris, entre outros – a autora deixou registros e comentários sensíveis e instigantes, que desmentem sua autocaracterização como uma mulher que "nem sabe mesmo viajar". Este trabalho investiga a literatura de viagens elaborada por Clarice Lispector, considerando que tal vertente, nas mãos da escritora, ora se mescla à correspondência, ora à crônica de costumes, ganhando traços de um e outro gênero. Assim, na sua peculiar literatura de viagens, Clarice tanto exercita o pendor descritivo e pictórico, desenhando quadros de atmosfera com pormenores de perspectiva e cor, quanto realiza a crítica de comportamento e a análise da cultura do novo país, não deixando de, com ares líricos, dramatizar a perplexidade e o êxtase diante do espetáculo que se descortina aos olhos da estrangeira.  O trabalho também se propõe a estudar, nas "crônicas de viagem" claricianas, as variações estilítiscas a que a autora submete sua escrita, modulando-a ao sabor dos lugares e dos povos que passa a conhecer.