MATTOSO E SAUSSURE

Eliane  Silveira (UFU)

 

Mattoso teve uma formação peculiar para um lingüista. Fez o curso primário e secundário em casa, formado em arquitetura e direito buscou a lingüística em cursos de especialização: o primeiro, em 1937, com o professor George Millardet – Curso de Filologia Românica, em seguida continuou os seus estudos nos Estados Unidos onde estudou, entre outros, com Jakobson e Blonfield. Se, ainda nesse momento, era bastante recorrente na América Latina o embate entre a filologia e a lingüística, inclusive no Brasil, para Mattoso, no entanto, não foi entre a filologia e a lingüística que esta tensão se impôs. A gramática, sim, foi o pivô da sua relação com a lingüística. A partir daí desenha-se uma inserção particular de Mattoso Câmara na Lingüística. Procuraremos delimitar a relação desse importante lingüista brasileiro com a lingüística, especificamente aquela que é responsável pela fundação da Lingüística moderna e que se encontra no Curso de Lingüística Geral (1916) de Ferdinand de Saussure. É importante notar que os caminhos e descaminhos de Mattoso na leitura saussureana podem ser qualificados a partir da forma como o objeto da lingüística se lhe figura. A questão que se coloca para o lingüista brasileiro não é a língua, mas uma língua. É assim que retornamos a sua formação e a sua posição em relação à filologia e à gramática para esboçarmos uma análise que permita desvendar essa leitura matosiana do CLG que tanto influenciou o destino dos estudos lingüísticos no Brasil.