O PROCESSAMENTO DA CONCORDÂNCIA
POR CRIANÇAS NORMAIS E DISLÉXICAS
Luciana Mendes Pereira
Marcus Maia
Gastão Coelho
Analisa-se o processamento da leitura em crianças com e sem dislexia, avaliando estatisticamente sua sensibilidade à concordância de número. A compreensão da concordância será examinada em períodos em que uma oração relativa é aposta a um sintagma nominal complexo, conforme exemplos abaixo. Analisam-se a leitura auto-monitorada e as respostas a perguntas interpretativas feitas por estas crianças, com idade entre nove e onze anos.
Aposição alta (concordância não-local)
Sing Pl Sing
João procurou/ o amigo dos adultos/ que chegará/ de carro.
Pl Sing Pl
João procurou/ os amigos do adulto/ que chegarão/ de carro.
Aposição baixa (concordância local)
Pl Sing Sing
João procurou/ os amigos do adulto/ que chegará/ de carro.
Sing Pl Pl
João procurou/ o amigo dos adultos /que chegarão/ de carro.
Pergunta: Quem chegará de carro? (A) o(s) amigo(s) (B) o(s) adulto(s)
Define-se dislexia por “transtorno manifestado por dificuldade na aprendizagem da leitura, apesar de instrução convencional, inteligência adequada e oportunidade sócio-cultural” (Critchley, 1975, Apud Ellis, 2001; Pinheiro, 1994).
Pesquisas com orações relativas em indivíduos sem dislexia, como os de Maia, Lourenço-Gomes & Moraes (2004), evidenciaram preferência por aposição alta em estudos off-line (questionário). Maia et alii, 2007, usam medidas on-line, observando preferência por aposição baixa.
Na presente pesquisa, observa-se diferença nos tempos de leitura (on-line), com maiores latências para os disléxicos, mas as respostas off-line não diferem muito. A preferência das crianças sem dislexia é compatível com os índices encontrados nos adultos em outras pesquisas no português brasileiro.