O visível e o invisível
na sermonística de Vieira

Kellen Dias de Barros (UERJ)

 

É lugar comum afirmar que vivemos a era da imagem. Diariamente somos atravessados por inúmeros ícones dos nossos desejos, e de nossa alienação. A velocidade e o prazer da absorção de informações através das formas, cores e, também, movimento dominam grande parte de nosso dia-a-dia. Contudo, muito mais do que entretenimento, a imagem também ocupa uma função essencial no que concerne à revelação dos traços da fisionomia de qualquer cultura. Muito longe de estar desligada dos fundamentos das ideologias dominantes no imaginário popular, ela os ilustra, os forma e é formada por eles. Cabe-nos refletir, então, sobre a função da imagem em uma sociedade dominada pelo Verbo, como a do século XVII ibérico e toda sua motivação divina. Num mundo em que é a Palavra é o fundamento de toda existência, qual o espaço cedido ao visual? Qual é o jogo realizado pelo porta-voz divino entre seu verbo e as imagens nos sermões, a ferramenta falada de disseminação da fé? Sendo assim, analisaremos a tensão entre essas duas forças na constituição dos sermões de Padre Antônio Vieira, um dos maiores ícones do retórico século XVII.