Tradição e resgate da memória
em torno das provas do sujeito
em “Deu a louca na chapeuzinho”
Evanete Barboza de Lima (UERJ)
O filme “Deu a louca na Chapeuzinho” possibilita uma releitura do conto tradicional, retomando-o e inovando-lhe o enredo. Há um bandido guloso roubando as receitas de doces dos moradores da floresta e é preciso descobri-lo. Para tanto, a polícia toma os depoimentos dos envolvidos na intriga, de modo que cada depoente narra os fatos segundo seu ponto de vista. Cada narrativa é como uma peça de um quebra-cabeça que vai sendo montado até se chegar ao culpado. Nessa trama, o personagem feminino, um narrador suspeito, tem que superar provas para alcançar sua meta: proteger o livro de receita da família, considerado, nesse trabalho, como um livro de memória, a escrita de uma cultura transmitida de geração a geração que remonta à época da caverna, do ser primitivo. O lobo também tem que superar provas que estão relacionadas ao Ethos: construção de sua auto-imagem que quebra a tradicional imagem cristalizada do lobo como o mau, conferindo esse status à vovó e a menina. A partir desses pressupostos, instauram-se as seguintes questões: em que o filme respeita a estrutura do conto original e em que transgride? O que amarra todas as narrativas para que se chegue a verdade? Frente a essa problemática que se levanta em relação à perspectiva desse trabalho, o mesmo propõe uma análise do corpus eleito que enfatize a conservação da tradição – simbolizada no capuz da menina – e o resgate da memória, simbolizada na recuperação do livro de receitas, como prova final do sujeito.