Viagem à roda da biblioteca

Debora Fleck (UERJ)

 

Pretendo abordar neste trabalho a importância que o ato da leitura representou para a formação do escritor Machado de Assis. Trabalharei exclusivamente com o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas por considerá-lo um exemplo primoroso de releitura da tradição literária.

Declarando abertamente ou nas entrelinhas algumas de suas fontes de inspiração, já no século XIX Machado indicava a sua opinião em relação à importância da leitura para a formação do escritor. Diferentemente da obsessão por originalidade de que os românticos padeciam, ele soube como poucos destacar que antes da escrita vinha a leitura – e foi a partir dela que Machado conseguiu criar um estilo tão próprio e singular e ao mesmo tempo se mostrar brasileiro e universal. Aceitando a “filiação dos tempos”, mas sem deixar de imprimir a sua marca, pode-se dizer de Machado que tentou através de sua obra obter o balanço ideal entre tradição e inovação.

Precedendo Borges, Machado também soube realçar a dívida que tinha em relação àqueles que o precederam, além de não demonstrar igualmente pretensões fundamentais de inovar. Ambos tinham consciência de que todo dizer é repetição, e que escrever nada mais é do que reescrever.