A escrita de si em ‘O amanuense
Belmiro’
de Cyro dos Anjos
Flavia Santos de França
flavia_sf@hotmail.com
A presente comunicação pretende estabelecer a similaridades entre a escrita diarística de Cyro dos Anjos em O amanuense Belmiro e as modalidades autobiográficas, visto que o romance é uma narração fictícia em formato de diário, essencialmente intimista. O autor se utiliza com propriedade do discurso confessional a partir da linguagem fragmentária do diário, o que traz uma identificação e uma cumplicidade entre o leitor e o narrador, levando aquele muitas vezes a um passeio pelos estilos memorialistas e autobiográficos, porém sem perder o foco principal da narrativa: a exposição íntima de uma personagem. Embora o tom confessional seja predominante na obra, não se pode ignorar que o romance tem caráter ficcional e que o modelo utilizado contribui para desnudar o protagonista-narrador da obra. A verdade, para o autor, passa a não ser um pré-requisito importante na concepção do diário; ele apenas utiliza o modelo para nos apresentar o maravilhoso perfil introspectivo de uma personagem desenraizada e sem qualquer estímulo que justifique a continuidade suas práticas de vida irrefletida. Belmiro acha como saída para a inércia o exercício escritural denominado por Foucault "escrita de si". A aproximação entre Cyro dos Anjos e o filósofo de "as palavras e as coisas" permitirá verificar os limites e as conexões entre ficção e veracidade, no gênero diarístico.