Do absoluto ao relativo,
do romantismo ao anti-romantismo

Maria Cristina Batalha
cbatalh@gmail.com

 

Por volta dos anos 1770 e 1780, em Iena, a retórica clássica cede o lugar à estética, como ciência do Belo e de sua relatividade: não se tratava mais de estabelecer regras ou propor modelos, mas sim de explicar a gênese e a evolução da literatura. É nesse contexto de efervescência cultural, desencadeada pela revista Athenäum, que a literatura adquire os contornos que tem hoje e passa a ser objeto de um "projeto teórico". A "revolução" introduzida pelos alemães de Iena e pela revista Athenäum se traduz pelo repensar crítico da própria literatura que se eleva como um absoluto, na medida em que se alia à filosofia. Esboça-se nesse momento uma tentativa romântica de depositar nas mãos da literatura a tarefa de restituir ao homem a totalidade perdida durante a revolução racionalista da modernidade. Esta, assim como a obra de arte de um modo geral, torna-se o lugar simbólico da "totalização" romântica.

Contudo, o movimento iniciado no final do século XVIII cede, hoje, o passo a um novo contexto de falas e  expressões múltiplas, das quais a literatura não é senão uma das diversas modalidades. Se, a partir do século XIX, a literatura se eleva como espaço prestigiado da palavra, no momento atual, reconhecemos que a escrita literária mergulha em práticas de sociabilidade, do mesmo modo que qualquer outro discurso, perdendo, assim, o estatuto de absoluto  que lhe havia sido romanticamente conferido.