Interface entre a morfologia e a sintaxe:
o sistema de casos

Dimar Silva de Deus
dimmar@gmail.com

 

Quando se estudam línguas que comportam Morfemas de Caso, como o Latim, por exemplo, a interface entre a Morfologia Flexional e a Sintaxe torna-se bastante nítida, uma vez que são os morfemas a serem adicionados ao núcleo sintagmal que vão indicar a função sintática do sintagma. Assim, em Latim, o Morfema do Caso Nominativo sinaliza que, sintaticamente, o sintagma funciona como sujeito; o Morfema do Caso Genitivo indica que o sintagma funciona sintaticamente como adjunto restritivo; sintaticamente, o Morfema do Caso Acusativo nos indica a função de objeto direto, e assim por diante.

Percebe-se, com isso, que os Morfemas de Caso fazem nítida referência a estruturas sintáticas, ficando impossível pensar que a Morfologia seja processada totalmente antes da Sintaxe.

Pelo argumento apresentado acima, podemos verificar que o Sistema de Casos tem forte impacto na ordem dos constituintes sintáticos, ficando evidente que a Sintaxe é visível à Morfologia Flexional.

Para exemplificar, podemos dizer que, quando o falante nativo do português aciona a regra de concordância, para realizar o gênero das palavras que se encontram no entorno de um nome, dentro de um Sintagma Nominal (SN), a flexão operada pelo falante é a parte visível à Sintaxe, mas tal processamento efetuou-se antes mesmo da Sintaxe, devido o gênero ser inerente aos nomes do português, ou seja, não há necessidade de uma regra sintática para que um nome seja masculino ou feminino, podendo, entretanto, a regra sintática de concordância evidenciar esse gênero. Se a competência gramatical do falante admite que determinado nome tem o gênero inerente masculino, o artigo e o adjetivo que se encontram em seu entorno, no SN, vão concordar com esse nome, assumindo a forma masculina.
É essa perspectiva que desenvolveremos neste trabalho, evidenciando, dessa forma, a interface entre a Morfologia Flexional e a Sintaxe, fundamentando nossa reflexão em discussões feitas por lingüistas gerativistas.