Máximo e próximo:
um estudo sobre opacidade lexical
no português brasileiro
segundo modelos baseados no uso

Maria Mendes Cantoni

mmcantoni@gmail.com

 

Este estudo trata do léxico do português, enfocando vocábulos como "máximo" e "próximo", entre outros, que, em sua origem, remontam a superlativos latinos formados pelo morfe {-imus}. Ainda no latim vulgar, a formação perifrástica do superlativo analítico teria suplantado a formação sintética, o que pode ser comprovado pelo seu uso generalizado nas línguas românicas. Os superlativos sintéticos formados pelo morfema {-íssimo} teriam sido reinseridos na língua portuguesa no século XV, por via erudita (Coutinho, 1984). Parte-se de uma definição ampla de léxico, que é a um só tempo considerado (1) como um sistema aberto e dinâmico, mais suscetível a mudanças que as outras esferas da linguagem humana; (2) como patrimônio cultural de uma sociedade; (3) como produto da armazenagem e do processamento cognitivos de experiências dos falantes. Busca-se integrar essas três facetas, demonstrando como mudanças léxicas refletem mudanças culturais e perceptuais/cognitivas de uma comunidade de fala. Para tal, toma-se como fundamentação teórica propostas tradicionais de campo léxico (Biderman, 1978; Coseriu, 1986; Geckeler, 1984), conjugadas com modelos de uso que tratam da armazenagem e do processamento lexical, considerando como crucial o papel da variação, da gradiência e da freqüência (Bybee, 1985; Phillips, 2001). Com base em evidências fornecidas por estudos experimentais e de corpora, propõe-se que a cristalização de formas opacas - formas em que a estrutura morfológica não se apresenta explicitamente - como "máximo", "próximo", "péssimo", "mínimo", "ótimo" no léxico do português se deveria à alta freqüência de ocorrência de tais itens lexicais. Com isso, abre-se a possibilidade de recriação lexical, sendo verificadas formações como "mais melhor/pior", "mais próximo". Ao mesmo tempo, devido à baixa freqüência de tipo, os morfes {-rrimo e -limo} tenderiam a ser substituídos pelo morfe {-íssimo} e formas com bases eruditas, como "magérrimo", "paupérrimo", "simílimo", a ser substituídas por formas transparentes ("magríssimo", "pobríssimo", "similíssimo").