O combate ao outro nas páginas do
jornal:
discurso midiático
e a construção do "inimigo vermelho"
no contexto brasileiro pré-1964
Pâmella Passos Deusdará
pamellapassos@yahoo.com.br
As possibilidades de articulação entre os estudos históricos e as ciências da linguagem têm-se manifestado de maneiras diferenciadas, entre elas destacamos a análise da produção de sentido no discurso midiático como construção de pistas para discussão dos processos históricos. Dessa forma, considerando que os dois regimes ditatoriais que marcaram a história política brasileira do século XX (o Estado Novo, comandado por Vargas, em 1937, e o golpe contra Goulart, que leva ao governo uma junta militar, em 1964), diferentes em muitos aspectos, mas semelhantes em lançar mão da justificativa de combate ao comunismo, julgamos fundamental a análise do anticomunismo. Privilegiamos, na presente comunicação, discussão relativa à necessidade de combater o "inimigo vermelho" na conjuntura que antecede o golpe de 1964. Como córpus de análise selecionamos dois jornais de orientação política distintas, O Globo e A Ùltima Hora para que a partir de seus fragmentos possamos identificar as diferentes formas de construção do outro. Para tal empreendimento, recorreremos ao princípio dialógico da linguagem (Bakhtin, 2004) e às considerações da Análise do Discurso de base enunciativa, buscando analisar, principalmente, as formas a partir das quais se constrói a imagem do outro que precisa ser combatido. Assim sendo, enfatizamos as contribuições que uma perspectiva discursiva nos oferece ao problematizar o modo como as diversas vozes se inscrevem nos textos midiáticos, dando materialidade aos conflitos históricos.