O mistério da árvore
e algumas imagens recorrentes
na obra de Brandão

Eloísa Porto Corrêa
eloisaporto@globo.com

 

Raul Brandão se ocupou de grandes contradições inerentes à existência, ao humano, à humanidade ou "da junção ou mesmo da coincidência dos contrários" (Viçoso, 1999, p. 12) no humano e no mundo. Sem dúvida, esta coincidência de contrários na obra brandoniana faz com que ela aborde ou antecipe traços e temáticas caras a correntes estéticas tão diversas e, por vezes, antagônicas ou concorrentes, como as contemporâneas simbolista e decadentista e as oitocentistas estéticas romântica e naturalista; e antecipe traços e temáticas posteriormente caras a neo-realistas, a existencialistas e a surrealistas. A ficção brandoniana, por isso, aborda ou abarca questões humanas e intimistas, sem se furtar às sociais, explorando e problematizando tanto a situação individual dos humildes, quanto a sócio-cultural, em relacionamentos interpessoais e entre os grupos em que se inserem personagens e narradores, abordando a incontornável tragédia humana, sem a ela se conformar, problematizando-a. Por isso, carrega as "marcas da erosão da narrativa canônica", como forma de resistência à "morte do sentido (a in-significância)" e busca dessa "possível (desejável) ressurreição do sentido (a significância)", (re)criando o "romance possível", numa "fusão do lirismo, do romanesco e do drama cósmico", entre a decadência e a contra-decadência, o artificial e o natural, o simulacro e o sonho, a superfície e o interior (símbolo, arquétipo, reminiscência), o riso e a melancolia, o eu e o outro.