Os discursos combatentes
de marginais menestréis:
o etos discursivo na poesia de protesto
das periferias fluminenses
Raphael de Morais Trajano
raphademorais@gmail.com
Os discursos que emanam das periferias são comumente desprezados, já que se encontram à margem do convencionalmente aceitável por uma elite intolerante e preconceituosa. Tal marginalização provoca a ocultação das vozes e a violação dos direitos de seres que, como quaisquer outros, reclamam o acesso irrestrito ao usufruto da cidadania. A ideologia que atravessa essas esses discursos, suas demonstrações de insatisfação e maneiras de enxergar o mundo estigmatiza-se, já que se contrapõe à ideologia dominante. Almeja-se investigar os discursos combatentes que emergem dos guetos fluminenses, tendo como corpus letras de músicas propagadoras da subumanidade que impera sobre esses espaços sociais. Conforme exposto em abordagem precedente (Trajano, 2007), essas canções denunciam, geralmente, o martírio de indivíduos que, por terem o soluço abafado, expressam gritos artísticos que invadem os aposentos da resistência alheia, com o propósito de impor o berro como instrumento de reivindicação de direitos básicos. Será engendrada uma análise do etos configurado nessas canções, a fim de que se averigúe a imagem de si produzida nos discursos direcionados aos co-integrantes dessas comunidades (de marginal para marginal), e a imagem construída em discursos proferidos às classes dominantes ou autoridades governamentais. Nota-se, a princípio, que esta última imagem configura-se de maneiras antagônicos: a) tentativa, por parte do enunciador, de construir um etos que esteja à altura do interlocutor (elite, autoridades), para impor-se a ele como merecedor das mesmas regalias; b) insistência na exibição de uma imagem de si que é o avesso do co-enunciador, a fim de confrontá-lo com uma espécie de espelho ao contrário.