Reflexões sobre o contexto"

Karla Perim Muzzi
karlamuzzi@yahoo.com.br

 

Nosso trabalho volta-se para a variabilidade de acepções que o termo contexto assume dentre as abordagens da pesquisa lingüística, e para o uso que vem sendo feito dele nas análises. Dentre essa gama de possibilidades de conceptualizações para contexto, em nosso pequeno percurso pelos estudos lingüísticos, encontramos certas regularidades na variabilidade. A primeira delas, e mais óbvia, é que a noção de contexto varia gradualmente entre os conteúdos lingüísticos e extralingüísticos. Além disso, o contexto se desloca, em um movimento progressivo, acompanhando o curso que os estudos lingüísticos vão percorrendo ao longo da história da ciência da linguagem. Em busca das concepções empregadas na lingüística moderna e contemporânea, destacamos três grandes momentos e seus respectivos representantes: (1) a lingüística sistemática moderna do projeto saussureano, em que os limites do contexto não ultrapassam as fronteiras do sistema lingüístico. O contexto referenciado na análise sistemática é aquele fechado exclusivamente em torno das particularidades do sistema; (2) os modelos contemporâneos baseados no uso da linguagem, como o da teoria da enunciação de Benveniste. O contexto aqui é de natureza lingüístico-pragmática, pois engloba constituintes lingüísticos e elementos da cena enunciativa, constituída pela situação de enunciação e seus interlocutores; e, enfim, (3) os modelos que ultrapassaram os limites da dicotomia saussuriana língua/fala, que tomam a AD de Pêcheux como primeira e maior referência. Na análise discursiva, o contexto que, nesse caso, refere-se aos conteúdos extralingüísticos pode ser mais restrito ou mais amplo, ou seja, respectivamente ligado às circunstâncias mais imediatas da produção do discurso ou relacionando-se às determinações histórico-sociais-ideológicas.