Registros sociogeolingüísticos
em são sebastião:
a presença do elemento indígena
e a  influência do português colonizador

Márcia Regina Teixeira da Encarnação
maregi@usp.br

 

Ao se elaborar uma pesquisa de campo em São Sebastião, município do Litoral de São Paulo, percebe-se que é no léxico das diversas comunidades lingüísticas que ficam documentados os encontros entre povos e culturas.

A  presença do elemento indígena já se faz presente no registro toponímico na praia de Boiçucanga. Segundo Antenor Nascentes (1952), era o antigo nome tupi da Ilha de São Sebastião, mboy, significa Cobra, + wa'su, que significa grande + e a'Kang, que significa cabeça. "A cobra de cabeça grande" então, é a forma que tem a serra que separa a praia de Boiçucanga do restante do município. Antes da colonização portuguesa, a região era ocupada por índios Tupiniquins ao norte e Tupinambás ao sul, sendo a serra de Boiçucanga - 30 km ao sul de São Sebastião - uma divisa natural das terras das tribos.

O nome São Sebastião foi dado posteriormente pelos portugueses, coerentes com o ideal português de colonizar e ao mesmo tempo difundir a fé católica, dando o nome de santos às localidades encontradas. E, assim como o grego e o latim, principais elementos formadores da língua do colonizador, o tupi antigo participou decisivamente do português falado no Brasil.

Esta pesquisa está fundamentada nos pressupostos da Geolingüística, método da Dialetologia e foi realizada in loco com seis sujeitos adultos, de 50 a 65 anos, de ambos os gêneros, sendo 3 homens e 3 mulheres. Foi utilizada a subárea Habitação, do questionário semântico-lexical do Projeto ALiB, que traz a seguinte pergunta: (Como se chama) "... aquilo, preto, que se forma na chaminé, na parede ou no teto da cozinha, acima do fogão à lenha?". O Comitê Nacional do Projeto ALiB aponta fuligem como provável resposta a essa questão, entretanto, a lexia picumã aparece com a maior freqüência, acompanhada por fuligem, carvão e fumaça.