A fala pública no Brasil oitocentista:
história e legados

Carlos Piovezani
cpiovezani@terra.com.br

 

Com o intuito de indicar, em nossa tese de doutorado, como uma conjunção de fatores históricos, políticos e culturais concorreu para a instauração de novos modos de se falar em público, ao longo do século XIX, empreendemos uma rápida incursão nesse período. Tratava-se então de considerar a emergência da "eloqüência democrática", cada vez mais presente nas manifestações do discurso político de nossos dias. Sobretudo, a partir do final do século XIX, durante a Primeira República, a oratória pomposa, refinada e repleta de ornamentos, bastante valorizada durante o Império, começa a conviver com outros estilos de fala pública e a ceder espaço para as formas concisas, simples, claras e supostamente desierarquizadas. O trabalho que ora propomos buscará apresentar algumas das constatações e dos mais recentes aprofundamentos a que chegamos no que se refere particularmente a um aspecto dessas metamorfoses sofridas pelas práticas e representações da fala pública oitocentista, a saber, o surgimento do que designamos, na esteira de Jamieson (1988), de "estilo feminino". O estilo enérgico e viril nessas práticas vai se arrefecendo, em proveito de uma maneira mais íntima, branda e "feminina" de falar em público, de modo que os debates e os pronunciamentos enfáticos e adornados, que exploravam a força do verbo, do corpo e da voz, tendem a se transformar em diálogos privados, carregados de marcas lingüísticas, vocais e corporais de conversação, em tom ameno. O desenvolvimento de nosso estudo está subsidiado pela Análise do discurso, derivada dos trabalhos de Michel Pêcheux e seu grupo, pela arqueologia, de Michel Foucault, e pela História cultural.