Aspectos interacionais na mediação familiar

Naira de Almeida Velozo (UERJ)
Paulo Cortes Gago (UERJ)
pcgago@uol.com.br

 

Em teoria interacional, face é “o valor social positivo que uma pessoa efetivamente reclama para si mesma através daquilo que os outros presumem ser a linha por ela tomada durante um contato específico” (GOFFMAN, 1980, p.76), entendendo-se por linha um padrão de atos verbais e não-verbais através dos quais essa pessoa expressa sua visão da situação e sua avaliação dos participantes, especialmente de si mesma. Tendo em vista que, segundo os princípios de mediação, o mediador deve prover o acolhimento das emoções dos mediados e realizar o reconhecimento e o diagnóstico das mesmas, tem-se como objetivo aqui analisar os tipos de trabalho de face realizados pelo mediador em relação aos mediandos. A fim de concretizar esse objetivo, serão identificados, nos dados da pesquisa, elementos lingüísticos que indiquem trabalhos de face, e será observado como o conhecimento da teoria da elaboração da face pode ser útil ao trabalho do mediador. Para a construção dessa pesquisa, estuda-se um caso de mediação endoprocessual em uma vara de família no Rio de Janeiro, e tem-se como foco a primeira sessão de mediação. No total, foram geradas cerca de 7 horas de gravação, distribuídas entre 2 entrevistas de pré-mediação e 5 sessões de mediação. Trata-se de um estudo qualitativo baseado na teoria interacional de elaboração da Face (Goffman, 1980), na teoria de enquadres interativos e esquemas de conhecimento em interação (Tannen, D., Wallat, C., 1998 [1987]), na teoria de mediação de conflitos (Sampaio e Braga Neto, 2007) e em aspectos da organização seqüencial em Análise da Conversa. Os resultados da pesquisa indicam que os trabalhos de face da mediadora têm como meta efetuar uma outra função do mediador: a de equilibrar o poder relativo entre os mediandos envolvidos no caso, acolhendo as emoções daquele que considera mais frágil com maior freqüência do que acolhe as daquele que julga ter mais poder.