Bebê: manual do proprietário

Rosane Fernandes Lira
rosanefls@gmail.com

 

Tão natural quanto intensa, a decisão de ter o primeiro bebê é um acontecimento que altera completamente a vida de um casal. Inexperientes e temerosos, não raro ouvimos pais iniciantes repetirem o bordão: "Ah, se eles viessem com manual de instruções!". O gracejo é válido: é difícil encontrar alguma mãe ou pai que não tenha se afligido no momento em que seu bebê foi finalmente entregue em seus braços. Como segurá-lo? Por que está chorando? Fome? Cólicas? E além dos cuidados essenciais de higiene e saúde, os pais também se preocupam com a educação de seu filho, com sua vida pessoal e profissional, com sua felicidade. Como socorrê-lo sem a ajuda de uma receita? No intuito de satisfazer esse anseio paterno por uma fórmula, o pediatra e escritor norte-americano Louis Borgenicht, escreveu Bebê: manual do proprietário – instruções e conselhos para solução de problemas e manutenção permanente; um pretenso manual de instruções, eleito como corpus de nossa pesquisa. Isso nos faz questionar: Que tipo de leitor é esperado para este tipo de leitura? Este estudo enquadra-se nos estudos de práticas de linguagem e discursividade, seguindo uma perspectiva discursiva que acreditamos solucionar o seguinte problema de pesquisa: quais são as implicações da ficcionalização do gênero 'manual' na obra "Bebê:  manual do proprietário?". Seguimos os preceitos da Análise do Discurso (AD) de base enunciativa e os estudos de Bakhtin, no tocante a noções relevantes, como dialogismo, polifonia, heterogeneidade, alteridade discursiva, primado do interdiscurso, gêneros do discurso, etc.