“Falhei no que fui,
falhei no que quis,
falhei no que soube":
leituras da poesia de Álvaro de Campos

Alessandra Cristina Moreira de Magalhães
alessandrademagalhaes@yahoo.com.br

 

Na poesia de Álvaro de Campos, heterônimo do poeta português Fernando Pessoa, o sujeito que se constrói busca na infância uma possibilidade, uma alternativa à "interioridade precária, instável e dividida" do seu presente. Porém, agora, já não se reencontrará mais aquele eu de outrora. Os estilhaços do passado estão confundidos e misturados com os do presente, interditando, assim, uma restauração completa e perfeita daquilo que tinha sido. A promessa de felicidade, portanto, está longe do alcance deste eu, na infância ou dentro das casas que ele só vislumbra de fora, pois não pode entrar senão ela não estará mais lá. A poesia de Álvaro de Campos mergulha numa viagem subjetiva, construindo um eu descortinado pelos tempos modernos, cujas certezas desapareceram, levando consigo qualquer tranqüilidade acerca daquilo que se é. Nesta profunda viagem ao interior de si mesmo, em nenhuma parte há lugar para repouso, aquilo que se perdeu, no percurso do outrora ao agora, instaura um sentimento de melancolia. Portanto, este eu é crivado pela sensação de perda daquilo que poderia ter sido e não foi. O vazio interior toma conta desse sujeito, tornando a sua vida oca, sem sentido. O tempo esvaziado provoca a angústia diante da consciência de um futuro "subtraído" e um presente "asfixiado".