MINHA TERRA

 

Há quem ponha em dúvida a lenda do poeta polaco, de que os animais, ao sentirem a aproximação da morte, procuram o torrão natal para aí dormirem o seu último sono. Não me conto nesse número. Antes, tenho para mim, como muito provável, que isso aconteça, porque a atração do torrão natal, ao menos para o homem, é um fato incontestável. Com efeito, a terra do nosso nascimento exerce sobre nós um verdadeiro fascínio, que não amortecem, muito menos obscurecem as impressões posteriores, colhidas aqui e ali, em outras paisagens, pela vida afora. Assim, não admira que muitos, em seu último desejo, manifestem a vontade de repousar em local onde passou a infância.
Não é um simples motivo poético o que ecoa os bardos a cantarem as belezas de seu berço, a exaltarem os encantos do rincão onde abriram os olhos para o mundo. É um sentimento mais profundo, que tem raízes subterrâneas e que se identificam com a própria natureza humana. Não é de outro modo, que se explicam as endechas sentidas de um Gonçalves Dias ou de um Casimiro de Abreu, quando, ausentes da pátria, extravasaram as suas saudades em verdadeiros hinos de louvor à terra em que nasceram.
A filosofia imediatista dos que proclamam a veracidade do axioma latino – Ubi bene, ibi patria – não tem sentido. Contrapõe-se aos ditames da alma humana, sempre apegada às impressões da primeira infância.
Estas reflexões me ocorrem justamente no momento em que se festeja mais um aniversário de minha querida e amada cidadezinha de Pádua, tão esquecida dos poderes públicos, mas tão cheia do afeto de seus legítimos filhos.
Não se desvaneceram de meus olhos os quadros poéticos de sua vida pacata; de suas fontes milagrosas; de seu jardim assombreado por velhas árvores, onde, a seu lado, avulta a igreja matriz, toda caiadinha de branco; de seus grupos escolares e ginásios, que tantas gerações têm preparado para a vida; de suas casinhas modestas, mas confortáveis, ainda não deformadas pelo gosto extravagante da arquitetura moderna. Emoldurando esse painel esplêndido, as colinas verdes, de seu verde carregado, a provar a exuberância de vegetação, em contraste flagrante com o azul de seu céu sem nuvens.
Esse panorama, entretanto, já de si encantador, não estaria completo, se lhe faltasse a ponte que liga as duas partes da cidade, onde casaizinhos jovens tecem os seus idílios, à tarde, enquanto o Pomba rola as suas águas cristalinas e mansas, o velho Pomba de tantas recordações, e que, se lhe faltam as ondinhas do Reno, não lhe mínguam as loas dos poetas que tiveram a ventura de vir ao mundo em suas margens.
Mais que tudo isso, uma referência especial merece a sua gente acolhedora, pacífica e laboriosa, que conserva as tradições de lhaneza, de bondade e de ternura, que bem refletem as qualidades intactas do povo fluminense.
Não me poderia furtar a essa homenagem, pálida embora, que daqui, da metrópole do Estado, rendo à minha cidadezinha inesquecível, sede do município onde nasci. Não me tachem os meus conterrâneos de retrógrado, mas eu desejaria que a minha pequenina terra conservasse sempre aquele mesmo aspecto simples e bucólico, que guardo na retina, desde a infância, e que a mão demolidora do progresso não lhe alterasse a fisionomia primitiva que é o encanto das minhas reminiscências.


Foi rasurada a expressão de fato, entre as palavras isso e aconteça.

Foi rasurado o possessivo seu que antecedia a palavra rincão.

A palavra tem substitui a palavra encontra, que foi rasurada.

As palavras entretanto e de substituem a outras duas palavras que foram rasuradas.

A palavra conterrâneos substitui a palavra patrícios.

A palavra aspecto substitui a palavra ar.

O artigo definido o substitui uma palavra rasurada.

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