O MAR

 

As ondas espreguiçam-se na areia, lambendo as pedras limosas da praia. Ao longe, impelida pelo vento, que canta nas velas, uma embarcação passa, saltando, na lombada das ondas. São os intimoratos pescadores, que vão mar em fora, em busca de peixe, que a civilização afugentou da baía e golfos adjacentes. Para espairecerem a magia da saudade que os há de torturar dentro em pouco, cantam umas canções tristes, que soluçam aos nossos ouvidos, em queixas e lamentos.
A areia reb[orbu]lha aos beijos quentes do sol; crianças brincam, acompanhando o vaivém contínuo das ondas; banhistas estiram-se de fio comprido, na praia, numa atitude suspeita de preguiça.
Outros se retiram, molhados, levando na pele requeimada sinais evidentes da longa permanência no banho.
O sol inclina-se para o ocidente. Desce a tarde, envolvendo tudo no seu albornoz de tristeza e luto. A praia está deserta.
Súbito, uma onda estoura, outra mais, mais outra. São as emissárias da ressaca.
Vagalhões pesados em breve se precipitam de encontro ao cais, com um fragor de ensurdecer.
Espadanando-se da forte muralha de pedra que a encerra, a água vai molhar, nas ruas, as pessoas, que acorrem para assistir ao assombroso espetáculo.
Distante, um bote, quase desarvorado , luta ainda contra a fúria do oceano, conspirado com o vento, na sua perdição.
O mar apresenta-nos o espetáculo eterno da vida, com as suas horas de calma e sossego, de revolta e inquietação.


Por estar no ponto da dobra do papel, parte da palavra se apagou com o tempo.

As palavras pesados em breve substituem duas palavras rasuradas.

A expressão Distante, um bote, quase desarvorado substitui Ao longe, uma nau, quase desarvorada.

O restante da folha foi utilizado para fazer anotações sobre uma “Estância 122” de algum poema não identificado.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011