O proletário
Ontem eu vi-o . Tinha no semblante
A palidez de quem a vida passa
A lutar contra os golpes da desgraça,
Da fome exposto ao gládio horripilante.
Deixa a cabana apenas no levante
Vem clareando o dia. A foice enlaça
E de manhã à noite na carcaça
Sofre do sol o beijo calcinante
Hoje há lá pela casa qualquer coisa...
E todavia o pobrezinho poisa
A enxada sobre o ombro e vai, chorando...
Vejo no pranto a mágoa que o consome:
Pois deixa os filhos a gemer com fome
E a esposa sobre o leito agonizando.