O proletário

Ontem eu vi-o . Tinha no semblante
A palidez de quem a vida passa
A lutar contra os golpes da desgraça,
Da fome exposto ao gládio horripilante.

Deixa a cabana apenas no levante
Vem clareando o dia. A foice enlaça
E de manhã à noite na carcaça
Sofre do sol o beijo calcinante

Hoje há lá pela casa qualquer coisa...
E todavia o pobrezinho poisa
A enxada sobre o ombro e vai, chorando...

Vejo no pranto a mágoa que o consome:
Pois deixa os filhos a gemer com fome
E a esposa sobre o leito agonizando.

Niterói, 03-05-1922


Colocação pronominal culta defendida pelos pré-modernistas, confirma professora Luiza Lobo. Ocorre novamente no início do soneto “Na estação de Campos”

clareando por clareiando. Atualizamos esta forma verbal, pois o verbo é derivado do adjetivo claro e não de um presumível substantivo clareio.

de manhã à noite por de manhã a noite ou da manhã à noite.

E todavia, em tinta azul, sobrepõe-se à versão anterior, que era Não obstante.

Uniformizamos o formato das datações.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011