Gratidão

Jesus, quando saiu a pregar a doutrina,
Que fulge como o sol que os ares ilumina,
Franja de ouro que rasga e atravessa a palude
Onde negreja o mal e que acende a virtude,
Amigo se mostrou das míseras crianças
E acolheu com carinho essas pombinhas mansas.
Como não há de estar o Mestre satisfeito
Co’a sublime missão que tomastes a peito
De instruir, ensinar a infância desvalida
A escalar da ciência a íngreme subida!
Como não bendirá o meigo Nazareno
Esta alma sociedade onde o pobre e o pequeno
Amparo sempre têm e bússola que os guia
E ensino salutar e o pão de cada dia!
Bendito apostolado! Árvore sacrossanta!
Que tanto nos arrouba, enleva, e nos encanta,
Nascida sob a sombra augusta e protetora
Da princesa Isabel – a santa Redentora,
Junto ao zelo sem par que os tropeços aplana
Dessa alma de escol que foi Ferreira Viana
Onde nós hoje o peito em justa comoção
Porque só nele fala a imensa gratidão
Devida unicamente aos sentimentos nobres
Com que sempre acolheis as criancinhas pobres.

Niterói, agosto

Palude – pântano; região ribeirinha coberta por águas paradas.

Co’a ou coa é contração de com mais a, equivalendo a com a.

Antônio Ferreira Viana (1833-1903) foi deputado, presidente da câmara municipal, ministro da justiça e do império. De espírito filantrópico fundou escolas, hospitais, asilos, orfanatos e albergues, além de ter defendido a causa da abolição da escravatura.

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