Oh! Musa! Deixa a tristeza,
Um canto ao poeta inspira,
Faz vibrar a natureza
Ao doce acorde da lira.
Já vai longo o teu descanso
Quebra essa nudez atroz;
Dá que minha alma ao balanço
Reviva de tua voz.
Quando o teu verbo eu escuto
Nas horas de calma e cisma,
Minha alma, se está de luto,
Vê tudo por outro prisma:
A lua é linda galera
A boiar num mar em sono,
O verão é primavera,
O inverno resto de outono.
A brisa um sopro suave,
O orvalho pranto do céu,
O barco uma pena de ave
Que vai das ondas ao léu.
O arbusto setinea umbella,
O mar planície de armento ,
A estrela meiga donzela,
A sorrir do firmamento.
O dia um leve sorriso
Que apenas ao lábio aflora,
Todo o mundo um paraíso,
A tarde, filha d’aurora.
A vida não tem escarpas,
Plaino de rosas e arminhos,
Onde vibra o som das harpas
E o canto dos passarinhos.
O sol um vivo brilhante
Que fulge no azul sem fim,
A morte um sono de instante
E o homem um querubim.
Se um pesar teu peito enluta
Oh! Musa em que tanto cismo,
Ouve o meu pedido, escuta
O que diz um aforismo ,
Que a tua dor esvai-se, morre,
Ou te acarreta algum bem:
Pois é feliz quem concorre
Pra felicidade de alguém.
Niterói, 01-09-1922