As pombas (paródia)

(Paródia)

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Pincela o céu de ouro a madrugada.

E à tarde quando a ríspida nortada
Afla, aos pombais, de novo, elas, serenas,
Batendo as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas, revoando, em debandada.

Também da cigarreira se me escoam
Cigarros, que um por um célebres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

Em espirais de fumo o voo voltam
Fogem... mas aos pombais as pombas voltam
E à cigarreira eles não voltam mais.

Niterói, 18-08-1923


O soneto parodiado é conhecido de todos, de autoria de Raimundo Correia (1859-1911): Vai-se a primeira pomba despertada... / Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas / de pombas vão-se dos pombais, apenas / Raia sanguínea e fresca a madrugada... // E à tarde, quando a rígida nortada / Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, / Ruflando as asas, sacudindo as penas, / Voltam todas em bando e em revoada... // Também dos corações onde abotoam, / Os sonhos, um por um, céleres voam, / Como voam as pombas dos pombais; // No azul da adolescência as asas soltam, / Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, / E eles aos corações não voltam mais...
Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011