Ao Revmo. Pe. Conrado
Fica, filhinho, que a invernada é brava,
Ulula, forte, lá por fora, o vento,
Próximo o rio o litoral escova.
A neve desce em seu cortejo lento.
Tais palavras ao filho a mãe dizia,
Com a autoridade de seus longos anos,
Como velha sagaz que conhecia
As ilusões do mundo e os desenganos.
Mal num voo ligeiro a mãe se esgueira
Do ninho a borda o filhotinho alcança
Contempla alegre pela vez primeira
Da natureza a singular pujança.
Campos divisa e nuvens no horizonte,
Serros, um mundo a aparecer do abismo,
Que tinha para o seu olhar de insonte
A letal atração do magnetismo.
Sacode as penas, penas cor de arminho,
O desejo de voar a revigora,
As asas bate, abandonando o ninho,
E vai voando pelo espaço em fora.
Pousa num ramo tênue e balouçante,
Que ao peso seu se recurvou macio,
Embaixo a mole de um lençol gigante
Abria extenso e caudaloso rio.
Abre o biquinho e uma canção sonora
Sai-lhe do peito, cheia de calor;
O ramo ainda essa canção memora
Como um legado do infantil cantor.
Depois ao ninho desejou voltar,
Mas tinha as asas rígidas de frio,
Um vão esforço e lá se foi tombar
Nas águas turvas do revolto rio.
Como o galé retido na prisão,
Tentou debalde a luta contra as fráguas ,
Subiu à tona e quis voar. Em vão.
Sumiu-se após no torvelim das águas
Niterói, 1923
filhotinho substitui filhinho, que foi riscada, e a nova palavra foi escrita em tinta azul-claro, na entrelinha.