Na religião somente acho conforto
À dor atroz que o peito me lacera;
Só nela encontro o bonançoso porto,
Que alento e força nos meus pulsos gera.
Busquei debalde dos festins no meio
Lenir a dor que no meu peito habita,
Mais viva a chaga me sangrou no seio
Senti mais forte o peso da desdita.
E esta chaga que a todo o olhar vedada,
Ao mundo trago e a toda criatura,
Só no sepulcro vê-la-ei curada
Na fria calma de uma sepultura.
Nem o consolo posso achar no pranto,
Pois devo aparentar um rosto enxuto;
Nos lábios riso e na palavra encanto,
Embora tenha o coração de luto.
Que duro fado! Que mesquinha sorte!
Ter o rosto por máscara velada!
Mil vezes baixe sobre mim a morte,
Que ao esquecimento me reduza e ao nada.
Meu Deus! Piedade! Para o nauta exausto
Que a tumba encontra em borrascoso mar;
Meu Deus! Socorro! A quem o fado infausto
Nem dá mais forças pra poder lutar.
Enviai, Senhor, quem me sustente o lenho
Um Cireneu no meu caminho vário;
Que eu já tropeço, nem mais forças tenho
Para chegar ao cimo do Calvário.
Niterói, 1923