(Monólogo)
A preguiça é vício feio,
Diz-me papai com razão,
O ocioso cai de enleio
Nas grades de uma prisão,
Ou expira por seu mal
Na enxerga de um hospital.
É verdade o que ele diz,
Nem faço contestação,
Mas que só vive feliz
Quem trabalha, isso é que não.
Pois há muita gente boa
Que vive feliz à toa.
Vou com franqueza contar
Qual a minha vocação,
Não nasci para estudar,
Nem para o campo ou balcão;
A vida a que me dedico
É tornar-me no ócio rico.
Reza a História Universal,
No ponto em que ela se expande
Das cruas guerras do grande
Napoleão, imortal,
Que, após esforço tão nobre,
Morreu como morre um pobre.
Digam-me agora, senhores,
Se não é justo o conceito:
Para sofrer os horrores
De trabalhar sem proveito,
É melhor ficar à toa
Enquanto o dia se escoa.
Demais, embora vadio,
Tenho cá minha mania,
De tirar breve confio
A sorte na loteria,
E por isso, vivo ao léu,
Esperando os dons do céu.
Cumpram todos sua sina,
Nem se inquietem com o porvir,
Pois o que Deus nos destina,
Nas nossas mãos há de vir.
Portanto, descanso ao malho;
Nada de esforço ou trabalho.
Niterói, 1923