Desilusão

O mundo que sonhei, que tanto me alentava
A o galarim da glória em triunfo galgar,
Nas minhas ilusões de menino, julgava
Um pomo em cada ramo, um voto em cada altar.

Cheio da augusta crença e fé que não fraqueia,
Sonhava que era a vida um paraíso aberto,
Mas ao primeiro passo a comburente areia
Deu-me a triste impressão de marchar num deserto.

E o prazer que sonhei e os gozos que pensava,
Astros num céu azul, campos cheios de flores,
Não os acho no mundo e a vida que buscava
Não é esta em que vivo, onde somente há dores.

De cada flor no seio há insetos daninhos,
Revoam sobre a terra os males, em coorte,
Há fráguas e alcantis no leito dos caminhos,
Da vida no festim se banqueteia a morte.

Niterói, 20-09-1923


Galarim é o ponto mais alto, o cúmulo; grande riqueza, opulência ostentação.
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