Sóror Teresinha

Pela janela aberta entra um nimbo de luz
Que da cela a tristeza e as sombras ameniza,
Sobre o duro enxergão calmamente agoniza
A esposa angelical do menino Jesus.

Tem fito o meigo olhar num ponto que o seduz,
Como a agulha fiel que o norte magnetiza;
É que refulge ali, sobre a parede lisa,
O Cristo Redentor nos braços de uma cruz.

Tem pressa de acabar, que já o noivo a espera ,
A alma lhe desabrocha , em plena primavera,
Padeça o corpo, embora, as mais cruciantes dores;

Dos olhos ao redor a névoa se lhe espessa,
De novo, tenta, em vão, repetir a promessa
De enviar sobre a terra um chuveiro de flores.

Niterói, 20-09-1923

Sóror é forma de tratamento usada para freiras professas; soror, irmã, madre. Provém do latim soror, óris, que quer dizer irmã ou parente de sangue.

Publicado no jornal Município, de Lavras (MG) do dia 3 de fevereiro de 1924, este soneto é dedicado “Ao M. Bueno”, provavelmente, em retribuição ao seguinte soneto que M. Bueno lhe dedicou, através do mesmo jornal, na edição de 27 de janeiro de 1924: “DA MINHA JANELA / (Ao Ismael) // Ao ver assim passar o inquieto bando / Dos pequeninos para o catecismo, / Desta janela minha, eu penso e cismo, / Eu vou dos velhos tempos me lembrando. // Era também assim pequeno quando, / Dos males d’hoje alheio ao cataclismo, / Ia aprender, à luz do cristianismo, / A detestar o crime e o mal nefando. // Depois me lembro, com prazer infindo, / Daquele padre, que vivia rindo, / Como o mais criança dentre todos nós. // E vejo agora, vinte anos após, / Que passou tudo, tudo está mudado, / Só ele, o padre, ainda ri, coitado!... / M. Bueno.

Na versão de 1924, reticências substituem a vírgula: o noivo a espera...

A alma lhe desabrocha se sobrepõe a uma versão raspada que não consegui reconstituir.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011