Os ceguinhos

Lá estavam na avenida os míseros ceguinhos
A tocar... a tocar, para atrair a esmola...
Dos olhos, quanta vez! pelas faces lhes rola
A lágrima da dor de todos os espinhos.

E freme a multidão, em seus vários caminhos,
Nem um rosto se volta, um lábio se descola,
Para os olhos lançar e a prece que consola,
A mágoa sem igual dos míseros ceguinhos...

É já a décima vez que o mesmo toque vibra,
E àquela valsa triste, o corpo fibra a fibra,
Vejo-os estremecer, em místicos langores...

Parece até que a voz da orquestra em si resume
Gritos de imprecação e brados de queixume,
A voz universal de todas as suas dores.

Niterói, 21-09-1923


Para os olhos se sobrepõe a Á magua, que inicia o quarto verso e havia sido escrita, por engano no terceiro.
Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011