O Cisne
(imperfeito)
Como um floco de espuma a boiar sobre o lago,
Alvo, de candidez tal que se não descreve,
O bico para trás, entre as asas de neve,
Cisma o cisne talvez com algum sonho vago.
Dorme toda a manhã, na quietação de um mago
Que à vida se mostrar indiferente deve,
E só quando o sol fulge e corre a brisa, leve,
Abre as asas e vai a percorrer o lago.
Há muito vive só. Morreu-lhe a companheira
Num dia de verão e foi a vez primeira
Que se viu solitário e triste e desgraçado...
Por isso espera o sol, meditativo e crente,
E n’água a própria sombra ao refletir-se, sente
O prazer de gozá-la a nadar ao seu lado.
Niterói, 02-09-1923