O corvo
O negro porte cismativo e frio
Avulta o corvo do quintal na cerca;
Às vezes desce e a podridão, que esterca
O solo, vira com seu ar sombrio.
De horror e nojo sinto um calefrio ,
Quando o diviso do quintal na cerca ;
Mas se ele voa, sem que no ar o perca,
Alegre sigo-lhe o seu vulto esguio
Quando comparo tua sorte à minha
Na dor cruel que o peito me espezinha,
És mais feliz do que eu, ó corvo imundo...
Se tormentos a terra te depara ,
Tens aos teus flancos duas asas para
Sulcar os ares e fugir do mundo.
Niterói, 09-1923