A cigarra

Oculta sob as frondes da mangueira
De um horto ameno que me fica ao lado,
Mal vem o estio, já seu negro fado
Geme a cigarra quase a tarde inteira.

À sua voz de velha cantadeira
Há muito tenho o ouvido acostumado,
E se ela para, vou, sobressaltado,
A perguntar-lhe a causa verdadeira.

Expira a tarde sem que lhe ouça o canto,
Dos olhos tristes já me desce o pranto,
Indago os ramos pelo azul dispersos...

Bem deitadinha , sobre a terra, vi-a,
Toda encolhida, inanimada e fria:
Morreu cantando os derradeiros versos.

Niterói, 28-09-1923


Publicado no jornal Município, de Lavras, em 17-02-1924. Nessa versão, a palavra “quase” foi substituída por “sempre”.

olhos tristes se sobrepõe a tristes olhos, em tinta mais forte, raspada a versão anterior.

Interessante o uso do grau diminutivo nos adjetivos, transmitindo ao substantivo determinado o grau que é dele e não do adjetivo.

Produção Digital: Silvia Avelar @ 2011