A cigarra
Oculta sob as frondes da mangueira
De um horto ameno que me fica ao lado,
Mal vem o estio, já seu negro fado
Geme a cigarra quase a tarde inteira.
À sua voz de velha cantadeira
Há muito tenho o ouvido acostumado,
E se ela para, vou, sobressaltado,
A perguntar-lhe a causa verdadeira.
Expira a tarde sem que lhe ouça o canto,
Dos olhos tristes já me desce o pranto,
Indago os ramos pelo azul dispersos...
Bem deitadinha , sobre a terra, vi-a,
Toda encolhida, inanimada e fria:
Morreu cantando os derradeiros versos.
Niterói, 28-09-1923